Mappin: loja foi eleita a melhor empresa do Brasil nos anos 1980 (Divulgação/Reprodução)
Repórter de Negócios
Publicado em 9 de novembro de 2024 às 08h08.
Só quem já ouviu (e sabe de cor e salteado) o jingle “Mappin, venha correndo, Mappin, chegou a hora!” sabe o quanto a loja de departamentos Mappin foi icônica. Principalmente em São Paulo no século passado.
A rede de lojas de departamentos, que por décadas ocupou a esquina da Praça Ramos de Azevedo, em São Paulo, marcou gerações por unir um ambiente de compras sofisticado a um modelo acessível para as classes médias, transformando-se em um dos maiores símbolos do varejo brasileiro do século 20.
Fundada em 1913, a loja começou focada em produtos importados e luxuosos, mas logo mudou seu modelo ao perceber o potencial de atrair um público mais amplo.
Nos anos 30, foi pioneira ao introduzir o crediário, uma revolução no comércio brasileiro que facilitava o acesso da população a bens que antes só eram acessíveis à elite.
Dessa forma, a marca se popularizou e passou a ser frequentada por todos, especialmente nas campanhas de liquidação que já eram um verdadeiro evento paulistano.
O Mappin foi trazido por empresários ingleses, que já tinham negócios em São Paulo, e se instalou primeiramente na Rua 15 de Novembro.
Inspirada nos grandes magazines franceses, a loja começou vendendo roupas e artigos importados voltados à elite paulistana. Foi também uma das primeiras a apostar em vitrines de vidro e etiquetas de preço, algo ainda inédito no comércio brasileiro.
Com a crise econômica de 1929, a loja entendeu que era hora de ampliar o leque de clientes. Para isso, a diretoria trouxe uma mudança radical, ampliando o crediário e marcando preços nas vitrines, práticas inovadoras para atrair um público mais popular.
Esse movimento garantiu a expansão da marca, que em 1939 se transferiu para um grande prédio na Praça Ramos, em frente ao Teatro Municipal. Ali, o Mappin se tornaria um verdadeiro símbolo do comércio paulistano.
Ao longo das décadas, o Mappin inovou constantemente para atrair a atenção do público.
No Natal, as vitrines eram transformadas com cenários detalhados e festivos, que chamavam as famílias para passeios e compras. As campanhas de liquidação eram outro grande destaque, mobilizando consumidores de toda a cidade e atraindo filas para aproveitar as ofertas.
Com isso, o Mappin conseguiu manter-se no imaginário do consumidor como um lugar especial, em que todos, desde as classes mais populares até as mais altas, tinham acesso.
A loja tinha diversos andares, com seções específicas para cada tipo de produto: moda masculina e feminina, móveis, brinquedos, eletrodomésticos e muito mais. A variedade fazia dela um ponto de visita obrigatório para quem buscava desde utensílios domésticos até presentes finos.
Era possível encontrar produtos com preços variados e condições de parcelamento que facilitaram o acesso de grande parte da população a esses bens.
Nos anos 1980, o Mappin chegou ao auge, sendo uma das maiores redes de varejo do Brasil. Em 1983, foi eleita pela EXAME a empresa do ano. Em 84, foi eleita a melhor empresa do varejo do Brasil.
A loja se expandiu ainda mais, abrindo unidades em shopping centers e adquirindo, em 1991, cinco lojas da rede Sears. O crescimento, no entanto, acabou sobrecarregando o caixa da empresa.
Com as dificuldades financeiras crescentes, a marca acumulou dívidas ao longo da década de 1990.
A crise ficou mais séria em 1995, quando a empresa reportou um prejuízo de quase 20 milhões de reais. Em 1996, a marca foi comprada pelo empresário Ricardo Mansur, que tentou implementar uma estratégia de franquias para salvar o negócio. No entanto, a situação financeira delicada, somada a uma gestão conturbada, levou ao fechamento das lojas em 1999, quando o Mappin acumulava uma dívida superior a um bilhão de reais.
A marca, no entanto, não foi esquecida.
Depois de duas décadas, em 2019, a rede Marabraz adquiriu os direitos do nome e relançou o Mappin como um e-commerce focado em produtos de decoração e cama, mesa e banho. Com isso, a proposta foi reviver a tradição da marca para uma nova geração de consumidores, ainda que sem o charme das vitrines e corredores movimentados.
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