Japão pode pressionar o Líbano a extraditar Ghosn, diz ministra da Justiça
Segundo imprensa, ex-titã da indústria automobilística foi de trem até Osaka, de onde embarcou em um avião para sair do país
Agência O Globo
Publicado em 6 de janeiro de 2020 às 11h20.
Tóquio - O Japão ainda pode pressionar o Líbano a extraditar Carlos Ghosn , depois que o ex-chefe da Nissan Motor desistiu da fiança para se tornar um fugitivo em um país que normalmente não extradita seus cidadãos, disse nesta segunda-feira a ministra da Justiça, Masako Mori.
Mais cedo, a imprensa divulgou novos detalhes da saída dele do Japão, revelando que ele tomou um trem da capital, Tóquio, até Osaka, de onde embarcou em um avião para sair do país.
No primeiro briefing do governo japonês desde que Ghosn fugiu para sua residência de infância no Líbano, Masako, no entanto, deu poucas informações sobre os eventos da fuga, dizendo repetidamente aos repórteres que não podia comentar detalhes por causa de uma investigação em andamento.
O ex-chefe da aliança Nissan-Renault estava proibido de deixar o Japão enquanto aguardava julgamento por acusações de má conduta financeira, que ele nega. No entanto, ele fugiu no final do ano passado, dizendo que escapou de um sistema judicial "fraudado" e da perseguição política.
A ministra observou que, como princípio geral, o governo japonês poderia solicitar extradição de um país com o qual não possui acordo formal. Esse pedido precisaria ser cuidadosamente examinado com base na possibilidade de "garantir a reciprocidade e a lei nacional do país parceiro", disse Masako a repórteres em Tóquio.
Ela não detalhou o que seria necessário para garantir a reciprocidade - a ideia de que benefícios ou multas estendidas por um país a cidadãos de outro país deveriam ser devolvidos. Também não disse se havia cidadãos libaneses no Japão que eram procurados pelas autoridades em seu país de origem.
No domingo, as autoridades japonesas quebraram dias de silêncio sobre o caso Ghosn, dizendo que reforçariam as medidas de imigração e prometeriam uma investigação completa. As autoridades também emitiram um aviso internacional para sua prisão. Todos os escritórios do governo e a maioria das empresas no Japão foram fechados para o feriado de Ano Novo, que terminou formalmente na segunda-feira.
Na semana passada, o Líbano disse que recebeu um mandado de prisão da Interpol para Ghosn e que o ex-titã da indústria automobilística entrou no país legalmente. Um alto funcionário de segurança libanês disse que o Líbano não extradita seus cidadãos.
De acordo com o o jornal "Yomiuri Shimbun" e a emissora de televisão japonesa NTV, no dia 29 de dezembro, Ghosn tomou um trem de grande velocidade, entre Tóquio e Osaka, aonde chegou no mesmo dia. Ele teria viajado junto com várias pessoas, as quais a polícia japonesa está tentando identificar com base em imagens das câmeras de segurança, acrescentou o jornal.
Câmeras de segurança registraram a saída de Ghosn de sua casa em Tóquio em 29 de dezembro por volta das 14h30m (horário local), chegando algumas horas depois à estação Shinagawa, onde pegou o trem para Osaka, de acordo com a agência de notícias Kyodo, citando uma pessoa familiarizada com o assunto.
Em Osaka, Ghosn teria ido de táxi para um hotel perto de aeroporto internacional de Kansai, onde embarcou em um jato particular às 23h10m, segundo a imprensa.
Ghosn é acusado de malversação financeira no Japão. O ex-CEO da Renault e da Nissan foi solto em abril de 2019, mas estava proibido de deixar o Japão à espera de seu julgamento, previsto para abril deste ano.
O franco-libanês de 65 anos estava em prisão domiciliar em Tóquio. Podia sair de casa e viajar pelo país por no máximo 72 horas, sem precisar de autorização judicial.
Ainda são desconhecidos todos os detalhes da fuga do Japão, mas acredita que Ghosn tenha embarcado em um jato particular em 29 de dezembro, com destino a Istambul, na Turquia. Chegou lá no dia seguinte e tomou outro avião rumo a Beirute, no Líbano.