James Cameron: diretor em premiere do filme "Avatar: Fogo e Cinzas" (Pascal Le Segretain/Getty Images)
Repórter
Publicado em 15 de dezembro de 2025 às 06h00.
Aos 71 anos, o cineasta norte-americano James Cameron, responsável por produções como "Avatar" e "Titanic", passou a integrar o ranking de bilionários da revista Forbes, com patrimônio avaliado em US$ 1,1 bilhão (aproximadamente R$ 5,94 bilhões).
Com esse valor, o diretor se junta a um grupo restrito de diretores com fortuna bilionária, entre eles George Lucas (US$ 5,3 bilhões), Peter Jackson (US$ 1,7 bilhão) e Steven Spielberg (US$ 7,1 bilhões). Também aparece na lista o brasileiro Walter Salles, cujo patrimônio estimado é de US$ 4,8 bilhões — valor superior ao de Cameron.
Diferentemente de alguns desses colegas — que obtiveram contratos significativos ou fontes de receita fora do cinema — Cameron alcançou esse patamar quase exclusivamente pelo desempenho de seus filmes.
Cameron é conhecido por apostar em projetos de grande escala, todos com expectativas significativas de desempenho nas bilheterias. Desde os anos 1980, com filmes como "O Exterminador do Futuro" e "Aliens", passando por "Titanic" e os dois primeiros filmes da franquia "Avatar", suas produções somaram aproximadamente US$ 9 bilhões (R$ 48,6 bilhões) em receitas mundiais. A maior parte desse resultado contribuiu para um patrimônio de US$ 1,1 bilhão.
“Eu gostaria de ser bilionário”, disse Cameron em uma entrevista recente ao podcast de Matt Belloni, da Puck. “Essa história de bilionário pressupõe certos acordos que nunca existiram e, além disso, pressupõe que eu não tenha gasto um centavo em 30 anos.”
Levando em conta seus investimentos em exploração submarina, iniciativas ambientais e negócios imobiliários — bem como seu histórico de abrir mão ou arriscar salários em prol do controle criativo — os ganhos com cachês, participações nos lucros, licenciamento de produtos e o valor de sua produtora, Lightstorm Entertainment, compensam essas despesas, segundo a Forbes. A publicação também projeta que Cameron pode ganhar pelo menos US$ 200 milhões (R$ 1,08 bilhão) — antes de impostos — com "Avatar 3", caso o filme atenda às expectativas nas bilheterias.
A trajetória de Cameron inclui etapas pouco convencionais para um cineasta de sua posição atual. Ele deixou a faculdade, trabalhou como caminhoneiro aos 20 anos e depois obteve uma vaga de assistente de produção na New World Pictures, de Roger Corman, recebendo cerca de US$ 175 por semana. Seu primeiro crédito como diretor, "Piranha II: The Spawning" (1981), terminou com sua demissão duas semanas após o início das filmagens e com o pagamento de apenas metade do cachê acordado de US$ 10 mil (R$ 54 mil).
A virada aconteceu em 1984 com "O Exterminador do Futuro", cuja ideia, segundo Cameron, surgiu durante uma febre em Roma, enquanto ainda trabalhava em "Piranha II". Ele vendeu o roteiro por US$ 1 à produtora de Gale Anne Hurd para garantir a direção. O filme arrecadou US$ 78 milhões mundialmente com um orçamento de cerca de US$ 6,4 milhões, lançando as carreiras de Cameron e de Arnold Schwarzenegger e dando origem a uma franquia que já ultrapassou US$ 2 bilhões (R$ 10,8 bilhões) em bilheterias.
Após seu casamento com Hurd em 1985, Cameron dirigiu "Aliens" (1986), que faturou US$ 131 milhões (R$ 707,4 milhões) com orçamento estimado em US$ 18 milhões (R$ 97,2 milhões), e "O Segredo do Abismo" (1989), que arrecadou US$ 90 milhões (R$ 486 milhões) com um orçamento estimado de US$ 70 milhões (R$ 378 milhões). No entanto, o casal se divorciou em 1989.
A relação entre custo e receita acompanhou Cameron ao longo da carreira. Ele construiu reputação de perfeccionista, com tendência a ultrapassar orçamentos e gerar pressão para que cada filme se tornasse um êxito comercial — objetivo que, na maioria das vezes, foi atingido. Em 1991, "O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final" tornou-se a produção mais cara da época em Hollywood, com orçamento acima de US$ 90 milhões, em parte por causa do uso pioneiro de CGI (computação gráfica). O filme foi um sucesso, arrecadando mais de US$ 500 milhões mundialmente e gerando milhões em vendas de VHS — que chegavam a custar até US$ 99,95 por unidade.
Cameron recebeu US$ 6 milhões de salário e um contrato de cinco anos no valor de US$ 500 milhões com a Fox para financiar sua produtora Lightstorm Entertainment e projetos futuros. A parceria enfrentou seu primeiro grande teste com True Lies (1994), estrelado por Schwarzenegger e Jamie Lee Curtis, cujo orçamento final ultrapassou US$ 100 milhões. Para manter o controle criativo, Cameron renegociou seu contrato com a Fox, permitindo que o estúdio recuperasse o investimento antes de calcular sua participação nos lucros. O filme arrecadou US$ 378 milhões mundialmente.
“Custou caro para mim, pessoalmente, gastar mais dinheiro em True Lies”, disse Cameron em entrevista à Entertainment Weekly na época. “Para mim, o desejo de fazer o melhor filme possível sempre vence.”
Esse padrão se repetiu em escala maior com "Titanic" (1997). À medida que o orçamento ultrapassou US$ 200 milhões para efeitos e cenas complexas, Cameron ofereceu devolver seu salário de US$ 7 milhões e abrir mão de sua participação nos lucros. Alguns veículos da imprensa projetaram desastre financeiro, mas o filme arrecadou US$ 1,8 bilhão na primeira exibição e ainda vendeu cerca de 58 milhões de fita VHS, gerando aproximadamente US$ 800 milhões (R$ 4,32 bilhões). A Fox concedeu a Cameron 10% dos lucros, o que, segundo estimativas da Forbes, lhe rendeu cerca de US$ 150 milhões antes de impostos.
Quando Titanic conquistou 11 Oscars — incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor — Cameron citou seu próprio trabalho no palco: “Eu sou o rei do mundo!”
Mais tarde, a Fox rejeitou a ideia inicial de Cameron para "Avatar", alegando que a tecnologia necessária ainda não existia. Mesmo assim, Cameron e sua equipe desenvolveram tecnologias próprias, incluindo novo sistema de câmeras 3D e dispositivos de captura facial, que permitiram performances digitais com realismo.
“Ele estava desenvolvendo ferramentas e aperfeiçoando algo novo todos os dias”, disse Candice Alger, então CEO da Giant Studios.
O primeiro "Avatar" (2009) quebrou paradigmas de bilheteria, com quase US$ 3 bilhões (R$ 16,2 bilhões) mundialmente. Investidores externos absorveram parte do risco financeiro, e alguns lucros significativos retornaram a eles, incluindo retornos de quase US$ 400 milhões para grupos investidores que colocaram cerca de US$ 75 milhões.
Estima-se que a participação de James Cameron na bilheteria e receitas de home video do primeiro filme tenha superado US$ 350 milhões (R$ 1,89 bilhão) antes de impostos e taxas. Como proprietário dos direitos da propriedade intelectual, ele também ganhou receitas contínuas com licenciamento de produtos e atrações temáticas — incluindo uma instalação no Disney’s Animal Kingdom, em Orlando.
Os ganhos permitiram que Cameron investisse em outras áreas, como conservação ambiental, incluindo cofundar a Cameron Family Farms (2012), a Avatar Alliance Foundation (2013) e a empresa de alimentos à base de plantas Verdient (2017), além de se dedicar à exploração submarina, incluindo incursões ao ponto mais profundo dos oceanos na Fossa das Marianas. Ele vive atualmente na Nova Zelândia, onde, segundo relatos, possui mais de 3 mil acres de terra desde que vendeu propriedades na Califórnia em 2020.
Sua relação com tecnologia continuou na Lightstorm Vision, que firmou parceria com a Meta em dezembro para criar experiências em 3D para o Meta Quest, e em setembro passado ele entrou para o conselho da Stability AI, responsável pelo gerador de imagens e vídeos Stable Diffusion.
Apesar de avançar em outras áreas, Cameron manteve foco no cinema. Após dois novos filmes da franquia Avatar terem sido aprovados, ele passou quase uma década desenvolvendo tecnologias subaquáticas para "Avatar: O Caminho da Água" (2022), que arrecadou US$ 2,3 bilhões (R$ 12,42 bilhões). Estima-se que ele tenha recebido cerca de US$ 250 milhões (R$ 1,35 bilhão) com esse filme, em função de um acordo de cerca de 20% de participação direta sobre a receita bruta (“first dollar gross”).
Na preparação de "Avatar 3: Fogo e Cinzas", Cameron afirmou que planeja um quarto e um quinto filme da franquia, mas ressaltou que cada novo capítulo precisa demonstrar valor nas bilheteiras para seguir em frente. Segundo ele, cada produção exige “uma quantidade absurda de dinheiro” e muito tempo de desenvolvimento, com performances captadas em tempo real e construção digital intensiva durante edição e pós‑produção.
“É meio insano, não é?”, disse Cameron recentemente sobre seu método de produção. “Se não tivéssemos ganhado tanto dinheiro com o primeiro filme, jamais estaríamos fazendo isso — quer dizer, é uma loucura.”