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Homem de confiança de Dilma, Bendine vai comandar Petrobras

Dilma escolheu Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e homem de sua confiança, para assumir a presidência da Petrobras, desapontando investidores

Aldemir Bendine, novo presidente da Petrobras, e a presidente Dilma Rousseff (Divulgação/Presidência)
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Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2015 às 18h24.

São Paulo - A presidente Dilma Rousseff escolheu Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e homem de sua confiança, para assumir a presidência da Petrobras , desapontando investidores que torciam por um nome do mercado para recuperar a imagem arranhada da petroleira.

Por ser considerado bastante alinhado às políticas do atual governo, a indicação de Bendine frustra expectativas de investidores e analistas de que o novo líder da petroleira viesse do mercado.

A Petrobras está no centro de um escândalo bilionário de corrupção, revelado na Operação Lava Jato da Polícia Federal e considerado o maior da história do Brasil, envolvendo ex-funcionários, executivos de empreiteiras e políticos.

A escolha de Bendine indica as dificuldades que Dilma teve para costurar a sucessão na Petrobras de forma súbita, em 48 horas, com a renúncia repentina da presidente Maria das Graças Foster e de outros cinco diretores da companhia, em um movimento que surpreendeu o Palácio do Planalto. Bendine, funcionário de carreira do BB , assumiu o maior banco da América Latina em abril de 2009.

Sob sua chefia, a instituição federal liderou uma ofensiva do governo petista no crédito para atenuar os efeitos da crise financeira global na economia brasileira.

Além de Bendine, o Conselho de Administração da Petrobras escolheu em reunião nesta sexta o ex-vice-presidente financeiro do BB Ivan Monteiro para ocupar a diretoria de Finanças e outros quatro diretores interinos para áreas operacionais.

A indicação de Bendine e de Monteiro para o comando da Petrobras tinha sido antecipada à Reuters por três fontes do governo e uma próxima ao banco mais cedo.

As ações da Petrobras recuaram com força quando o nome de Bendine veio à tona pela manhã, e aceleraram a queda após a Petrobras confirmar eleição do funcionário de carreira do BB para presidir a petroleira. Às 16h32, os papéis preferenciais e os ordinários recuavam 8,27 e 7,66 por cento, respectivamente.

O Ibovespa tinha desvalorização de 1,53 por cento.

A eleição foi por maioria, mostrando que não houve consenso entre os conselheiros da Petrobras. Em outras ocasiões recentes, houve opinião divergente entre os membros no Conselho indicados pelo governo e independentes sobre os rumos da companhia.

“O Bendine é uma pessoa muito identificada com a primeira gestão do governo Dilma. O BB foi absolutamente comandado pelo governo na primeira gestão e a Petrobras precisaria de alguém mais independente, que peitasse o governo em determinadas situações e não fizesse loteamento de cargos", disse à Reuters o sócio da Órama Investimentos Álvaro Bandeira, no Rio de Janeiro.

Para Bandeira, nomes que vinham circulando na mídia para a Petrobras, como o de Murilo Ferreira, presidente da Vale , e o de José Carlos Grubisich, ex-presidente da Braskem , seriam opções melhores. "Pesa por não ser alguém do setor, mas pesa mais por ser identificado com a primeira gestão de Dilma”, afirmou.

O novo comando da empresa terá entre seus desafios iniciais a regularização da publicação do balanço auditado da estatal referente ao terceiro trimestre de 2014.

No fim de janeiro, a Petrobras deu uma sinalização do tamanho das baixas contábeis que poderá ter por fraudes envolvendo a empresa, ao declarar que a avaliação de 52 empreendimentos em construção ou em operação citados na Lava Jato estão com valor contábil mais de 60 bilhões de reais acima de seu valor justo.

Outros diretores

Segundo fato relevante da Petrobras, assumem como diretores interinos Solange da Silva Guedes (Exploração e Produção), Jorge Celestino Ramos (Abastecimento), Hugo Repsold Junior (Gás e Energia) e Roberto Moro (Engenharia, Tecnologia e Materiais).

Os quatro ocupavam cargo de gerência executiva nas respectivas áreas e têm cada um 30 anos ou mais de experiência na estatal.

A renúncia de seis altos executivos da Petrobras na quarta-feira surpreendeu autoridades em Brasília, que previam uma mudança na diretoria da estatal apenas no fim do mês.

Na terça-feira, Dilma aceitou o pedido de demissão de Graça Foster, como ela gosta de ser chamada, mas tinha acertado a permanência da executiva no cargo por mais algumas semanas. Porém, outros cinco diretores da Petrobras não aceitaram ficar por mais tempo, precipitando a saída também de Graça Foster.

Já bastante desgastados, os agora ex-diretores da Petrobras não quiseram mais ser diretamente associados ao escândalo de corrupção.

São Paulo - O primeiro trimestre ainda nem acabou, mas a Petrobras já acumulou problemas neste período que podem valer para o ano inteiro. Entre processo de investigação de propina, preço das ações despencando e produção de petróleo menor, a petroleira dá indícios que não vive um bom momento. Veja, a seguir, 10 enroscos em que a Petrobras já se meteu neste ano:
  • 2. Investigação sobre propina

    2 /11(Sérgio Moraes/Reuters)

  • Veja também

    Em fevereiro, ex-funcionários da holandesa SBM, que aluga navios-plataformas, fizeram denúncias que apontam que empregados da Petrobras receberam propina para fechar negócios. O processo indica que funcionários e intermediários da petroleira receberam cerca de 140 milhões de dólares. A Petrobras abriu uma auditoria interna para apurar as denúncias. Segundo Graça, os primeiros resultados da auditoria levaram 30 dias para sair. A Comissão de Fiscalização da Câmara dos Deputados aprovou hoje requerimento para que a empresa esclareça tais irregularidades.



  • 3. Endividamento bilionário

    3 /11(REUTERS/Nacho Doce)

  • A captação de  8,5 bilhões de dólares anunciada pela Petrobras nesta semana deve impactar ainda mais o endividamento da estatal. Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, a dívida líquida da petroleira deverá passar de 100 bilhões de dólares até 2018. De acordo com o novo plano de negócios quinquenal da Petrobras (2014-2018), 60,5 bilhões de dólares serão levantados em dívida bruta nos próximos cinco anos.

  • 4. Queda da produção

    4 /11(Pedro Lobo/Bloomberg News)

    Em 2013, a produção de petróleo da Petrobras caiu 2,5% no Brasil. Neste ano, em janeiro, a produção também recuou.  No primeiro mês do ano, a produção total de petróleo e gás natural ficou 2,2% abaixo do total produzido em dezembro de 2013, quando atingiu 2,36 milhões de barris de óleo equivalente por dia. Segundo a empresa, a interrupção da produção em duas unidades instaladas na Bacia de Campos e a venda de participação no Parque das Conchas impactaram a produção do período.


  • 5. Multa bilionária

    5 /11(REUTERS/Sergio Moraes)

    Entre outubro de 2013 e janeiro deste ano, a Petrobras recebeu cinco autuações da Receita Federal que somam 8,7 bilhões de reais. As informações estão no prospecto preliminar publicado na Securities and Exchange Comission (SEC), regulador do mercado de capitais da América do Norte. A Petroleira informou que já apresentou recursos em todos os casos. O processo ainda está em fase de julgamento.

  • 6. Ações despencaram

    6 /11(Alexandre Battibugli/EXAME)

    No final do mês passado, as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras caíram  para o menor nível desde 2005 após a divulgação de que a dívida líquida da empresa havia crescido 50% no último ano. Os papéis preferenciais da empresa tiveram a maior queda da bolsa de São Paulo no dia 26 de fevereiro. As ações fecharam o dia cotadas a 13,70 reais, seu menor valor desde 27 de dezembro de 2005.

  • 7. Valor de mercado menor

    7 /11(Dado Galdieri/Bloomberg)

    A Petrobras foi a empresa que mais encolheu em valor de mercado no mês de fevereiro deste ano.
    Segundo dados da consultoria Economática, a estatal perdeu 12 bilhões de reais no mês passado na bolsa brasileira, período no qual o Ibovespa recuou 1,14%. Boa parte da queda é atribuída aos maus resultados de 2013 apresentados pela empresa.

    No final de fevereiro, o valor de mercado da estatal era de 172,8 bilhões de reais.

  • 8. Preço do dólar divergente

    8 /11(Bruno Domingos/Reuters)

    Durante evento para divulgar seu plano de investimentos para os próximos cinco anos, a Petrobras afirmou que vai trabalhar com um dólar de 2,23 reais neste ano.

    A cotação média do mercado, no entanto, ultrapassa a cifra de 2,40 reais e a diferença está preocupando o mercado, que não consegue entender como a estatal chegou a esse valor.
  • 9. Preço do combustível

    9 /11(Divulgação/Petrobras)

    A interferência do governo nos negócios da Petrobras também tem preocupado investidores, principalmente quando o assunto é o polêmico  reajuste no preço do combustível.

    A fim de não aumentar a inflação, o governo tem segurado os preços e a estratégia tem impactado negativamente a petroleira. A estimativa do mercado é que a empresa tenha deixado de ganhar 1,1 bilhão por não repassar alta do petróleo.

  • 10. Independência do governo

    10 /11(Francois Lenoir/Reuters)

    No mês passado, Silvio Sinedino, funcionário da Petrobras há 26 anos e presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), ganhou o direito de ocupar uma cadeira no conselho de administração da estatal. Ao que tudo indica, Sinedino quer deixar claro que os funcionários da companhia não compactuam com a ideia de que as decisões da empresa teriam de estar totalmente alinhadas às decisões do Governo Federal. Hoje o conselho da Petrobrás é formado por dez membros, sete indicados pelo governo, um pelos acionistas minoritários de ações minoritárias, um pelos acionistas de ações preferenciais e um pelos empregados.





  • 11. Agora, veja 20 empresas que dominam o país

    11 /11(AGÊNCIA BRASIL)

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