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Como investir em momentos de alta volatilidade, como o atual

Dono da gestora Bahema Participações, Guilherme Affonso Ferreira é um dos mais conhecidos investidores brasileiros

Guilherme Affonso Ferreira: "O ano ainda vai ser muito difícil para o mercado imobiliário" (Germano Luders / EXAME)

Guilherme Affonso Ferreira: "O ano ainda vai ser muito difícil para o mercado imobiliário" (Germano Luders / EXAME)

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Da Redação

Publicado em 26 de abril de 2016 às 17h17.

Última atualização em 12 de junho de 2020 às 15h43.

Dono da gestora Bahema Participações, Guilherme Affonso Ferreira é um dos mais conhecidos investidores brasileiros. A Bahema foi fundada por seu pai nos anos 50 e nasceu como uma empresa de venda de implementos agrícolas.

Ao longo das últimas décadas, consolidou-se no mercado de capitais. Ferreira costuma comprar participações minoritárias em grandes empresas e participar ativamente das decisões. Há um ano, ele é também conselheiro da Petrobras — empresa da qual não tem uma só ação. A EXAME, Ferreira disse como é possível investir em momentos de alta octanagem, como o atual.

Como navegar nessa volatilidade que tomou conta da bolsa nas últimas semanas?

Estamos fazendo pequenos movimentos. Olhamos mais para pontos de entrada e de saída para cada empresa. Também não acho que a situação do Brasil melhorará apenas com a mudança de espírito. Teremos muito tempo ruim pela frente antes que isso se traduza em resultados melhores para as empresas.

Qual o horizonte?

Se entrasse alguém excelente no Ministério da Fazenda e tivesse todo o respaldo político, nós não estaríamos comemorando nada de muito fantástico antes de dois ou três anos. De qualquer jeito, o mercado de capitais vive muito mais de expectativa do que de fatos.

Agora as expectativas estão ainda mais importantes do que em condições normais?

Sim. Para mim, o sobe e desce das últimas semanas foi exacerbado. Enxergar alguma luz é positivo. Mas ela está difusa. Não se sabe o que virá depois do impeachment. A situação brasileira está grave num mundo que está mais conturbado do que estava há dois ou três anos. Não há uma medida mágica que possa levar o país ao crescimento num futuro próximo.

Vocês mudaram a estratégia para ganhar mais neste momento de alta volatilidade?

Não exatamente. Nossas posições tendem a ser poucas e mais de longo prazo. Mas a formação de uma posição não é linear. No meio do caminho podemos virar a mão e vender de 5% a 10% das ações porque achamos que o valor subiu demais. São mudanças táticas que fazemos para operar na volatilidade. E estamos fazendo com mais vontade do que o normal.

E têm acertado mais do que errado?

Essa arbitragem é quase sempre certeira. É que ela não acontece muito. Este certamente é um momento de altíssima volatilidade. Nós acreditamos muito em Itaú, por exemplo. É a maior posição da nossa carteira. E no longo prazo vemos uma grande possibilidade de valorização na ação do Itaú. Mas não vemos motivo para subir 10% num dia e 8% no dia seguinte. Então podemos virar vendedores, esperando lá na frente para comprar de novo.

As empresas com bons resultados caem, as frágeis sobem. Isso é normal em momentos como este?

É assim mesmo. A única tendência que foi contrariada é que as empresas bem posicionadas como exportadoras vinham tendo bom desempenho. Mas de repente o dólar cai 10% em dois dias e as empresas começam a ir mal. Essa mudança tão rápida não tem muito a ver com a realidade.

É um bom momento para investir em estatais?

Nós estamos fora. Não estamos fora é de certas posições. Uma posição importante nossa é a BMF. Outra é a CCR. Funcionam quase com a lógica de estatais. São reloginhos. São negócios regulares, sem grandes subidas e decidas. Na outra ponta, fomos muito crentes na exportação. Mas fomos vendendo porque achamos que boa parte do ganho potencial de empresas como a Fibria já tinha passado.

O senhor é conselheiro da Petrobras. Como vê o atual momento da companhia?

Apesar do inferno astral que se instalou na empresa e da quantidade de problemas que estão sendo revelados, estou muito contente de fazer parte de um conselho de administração que vem agindo do jeito certo. A situação econômica e o petróleo não ajudam. Mas o programa de investimentos para cinco anos já foi reduzido de mais de 200 bilhões de dólares para cerca de 90 bilhões, o preço interno dos derivados saiu da situação de subsídio, a empresa tem tomado medidas de redução de quadros e tem se esforçado bastante para resolver os problemas financeiros. Só não tenho certeza se isso será suficiente.

E vocês podem investir na empresa?

Poder, podemos. Mas há tantos bloqueios de períodos em que não poderíamos negociar ações que decidimos continuar fora. Ainda assim, uma das grandes coisas para os investidores brasileiros seria olhar para os bonds de empresas brasileiras — especialmente a Petrobras —, emitidos fora do Brasil. Estão pagando juros altíssimos e acho que a situação está longe de ser insustentável.

Entre os setores que mais sofreram nos últimos anos, o de construção parece estar saindo do buraco. Este vai ser um bom ano para as empresas de construção?

O ano ainda vai ser muito difícil para o mercado imobiliário. Mas a bolsa não vive necessariamente da realidade da demanda, e sim das expectativas. Portanto, na bolsa, poderá ser um ano bem melhor. No caso da Gafisa, na qual estamos apostando muito, a empresa tem agido bem. Construção é um mercado de ciclo longo. Certamente daqui a quatro, cinco anos, a falta de lançamentos fará falta em 2018 e 2019. As empresas que sobreviverem estarão numa ótima posição. Mas claro que há companhias com situação financeira ainda muito difícil.

Daqui a dois ou três anos, que lição este início de ano de altíssima volatilidade vai deixar?

É a mesma de sempre. O bom investidor compra quando as coisas estão difíceis, e vende quando estão boas. Mas a maioria absoluta tende a ter reação oposta. Ir contra a corrente sempre foi o segredo de se dar bem nisso.

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