Negócios

Governo e empresa têm missões diferentes, diz Agnelli

Executivo justificou a escolha por comprar navios no exterior pois considera que a indústria naval brasileira não estava pronta para produzir o que a Vale necessitava

Apesar das divergências, Agnelli disse entender a posição do ex-presidente Lula (Matt Writtle/ Vale)

Apesar das divergências, Agnelli disse entender a posição do ex-presidente Lula (Matt Writtle/ Vale)

DR

Da Redação

Publicado em 5 de maio de 2011 às 16h04.

Rio - Um mês depois de ter sua saída anunciada do comando da Vale, num episódio com forte debate político, o presidente da companhia, Roger Agnelli, afirmou hoje que a empresa tem visão e missão diferentes das do governo. Agnelli, no entanto, ressalva que as missões não estão dissociadas.

O comentário foi feito na apresentação, pela Vale, do maior navio mineraleiro do mundo, fabricado em um estaleiro coreano, o primeiro de uma série contratada pela empresa. O governo Luiz Inácio Lula da Silva defendia que a empresa priorizasse a produção dos navios em território nacional.

"Cada um tem uma visão, cada um tem uma missão. A missão da companhia é gerar resultados para ela ganhar em capacidade e investir mais. A visão, a missão do governo é diferente da de uma empresa, totalmente diferente", afirmou Agnelli, que recebeu jornalistas hoje para uma visita ao navio. "O Lula eu até entendo. Ele disse: vamos fazer no Brasil. Nós também gostamos de fazer com o Brasil".

Agnelli, no entanto, afirmou que os estaleiros nacionais não tinham capacidade para construir navios deste porte: 400 mil toneladas. O navio que está atracado na Baía de Guanabara é o primeiro de um total de sete encomendados ao estaleiro coreano Daewoo Shipbuilding & Marine. Outros 12 foram contratados do estaleiro Rongsheng Shipbuilding, da China.

Segundo a Vale, os estaleiros brasileiros só teriam capacidade para efetivar a encomenda em 2015, e com um custo mínimo de US$ 236 milhões, frente aos US$ 110 milhões pagos pela embarcação apresentada hoje. Todos os navios serão entregues até 2013. Agnelli negou que o governo não tenha entendido a proposta da Vale e afirmou que a empresa "jamais ignorou a questão da indústria brasileira".

"A nossa missão não é dissociada, não é contrária à do governo. Nossa missão é muito mais de longo prazo. Estamos falando de 10, 15, 20 anos. A estratégia do governo é de 2, 3 e 4 anos", afirmou.

Balança comercial

O presidente da Vale afirmou que a encomenda de 19 navios de estaleiros da China e da Coreia do Sul faz parte de uma estratégia de longo prazo da companhia para baixar os custos e a volatilidade do frete mundial. Segundo Roger Agnelli, desde que a Vale pôs em prática o plano, que foi elaborado em 2007 e iniciado em 2009, os preços de frete no mercado mundial começaram a cair, por conta da expectativa de aumento da oferta futura no setor.

Por causa dessa queda do preço do frete, Agnelli afirma que a Vale contribuiu com US$ 4 bilhões para a balança comercial brasileira entre 2009 e 2010. "Esse dinheiro antes ia para fora, ia para o armador", afirmou.

O valor é calculado levando-se em conta o quanto a Vale passou a embolsar pelo minério de ferro por poder pagar menos pelo frete. Em 2008, o preço do frete atingiu o pico de US$ 105 por tonelada e a média ficou em US$ 50. "Todo o preço que era pago pelo frete veio para o minério", disse.

Agnelli exemplifica: em vez de a empresa vender o minério de ferro por US$ 60 a tonelada, com US$ 100 de frete, levando a um preço final de US$ 160 para o cliente, hoje a empresa fatura US$ 140 pelo minério e gasta US$ 20 com o frete.

Acompanhe tudo sobre:EmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasIndústriaIndústria navalIndústrias em geralMineraçãoRoger AgnelliSiderúrgicasVale

Mais de Negócios

Empreendedor produz 2,5 mil garrafas de vinho por ano na cidade

Após crise de R$ 5,7 bi, incorporadora PDG trabalha para restaurar confiança do cliente e do mercado

Após anúncio de parceria com Aliexpress, Magalu quer trazer mais produtos dos Estados Unidos

De entregadores a donos de fábrica: irmãos faturam R$ 3 milhões com pão de queijo mineiro

Mais na Exame