France Telecom é condenada por assédio moral após onda de suicídios
Em julho de 2009, Michel Deparis, um técnico, cometeu suicídio e deixou uma carta criticando técnicas de gestão "aterradoras"
AFP
Publicado em 20 de dezembro de 2019 às 15h54.
Um tribunal condenou, nesta sexta-feira (20), o ex-diretor e outros executivos da empresa francesa France Telecom por "assédio moral", em um julgamento inédito, que ocorreu uma década após uma onda de suicídios de funcionários.
A empresa, que mudou seu nome para Orange em 2013, foi condenada a pagar uma multa de 75.000 euros, o valor máximo nesses casos.
Seu ex-presidente Didier Lombard e outros executivos também foram condenados a um ano de prisão, com oito meses de suspensão da pena, e a pagar uma multa de 15.000 euros por ter aplicado uma política agressiva de redução de equipe.
O advogado de Didier Lombard anunciou imediatamente que seu cliente recorrerá da sentença.
Além disso, os réus também devem pagar em conjunto mais de três milhões de euros por danos causados às partes civis, que na maioria são ex-funcionários e parentes das vítimas.
O caso aconteceu dez anos atrás. Naquela época, a France Telecom estava na capa de todos os jornais e nas manchetes de todas as notícias na França por conta de uma onda de suicídios.
Em julho de 2009, Michel Deparis, um técnico, cometeu suicídio e deixou uma carta criticando técnicas de gestão "aterradoras". "Cometi suicídio por culpa da France Telecom. É a única causa", escreveu em sua carta.
Dois meses depois, um sindicato apresentou uma primeira queixa seguida por muitas outras, além de um relatório assustador da inspeção do trabalho que trouxe à luz o assédio moral de que os funcionários foram vítimas, no meio de um plano de reestruturação que incluía o corte de 22.000 empregos.
Durante o julgamento, várias testemunhas descreveram o ambiente de trabalho que fazia muitos funcionários cair em depressão. Entre os métodos utilizados, estavam transferências geográficas forçadas, salários reduzidos ou e-mails incessantes incitando-os a sair.
A maioria deles eram funcionários e não podiam ser demitidos.
Lombard negou que a administração tivesse qualquer responsabilidade pelas mortes, apesar de ter dito aos gerentes em 2006 que "tiraria as pessoas de um jeito ou de outro, pela porta ou pela janela".
Para o tribunal, "os métodos" aplicados para eliminar 22.000 empregos eram "ilegais" e a empresa elaborou "um plano combinado para piorar as condições de trabalho da equipe, a fim de acelerar a saída".
Essa política "criou um clima de ansiedade", afirmou o tribunal.