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Fortuna do criador de Inhotim vem de trabalho infantil, diz Bloomberg

A fortuna de Bernardo Paz, empresário da área de mineração e siderurgia, foi construída a base de trabalho infantil e escravo e crimes ambientais

Instituto Inhotim (Vinicius Depizzol/Wikimedia Commons)

Instituto Inhotim (Vinicius Depizzol/Wikimedia Commons)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 11 de junho de 2018 às 18h30.

Última atualização em 12 de junho de 2018 às 11h46.

São Paulo - Inhotim, museu de arte contemporânea a céu aberto em Brumadinho, Minas Gerais, é um ponto turístico importante para a região desde sua criação. Casa de uma das maiores coleções de arte contemporânea, tem entrada aberta ao público desde 2006. As obras de arte são rodeadas de um jardim bem cuidado, que fica no meio da mata Atlântica, com partes de cerrado.

Toda a beleza do lugar, no entanto, tem origem bem menos admirável. A fortuna de Bernardo Paz, empresário da área de mineração e siderurgia e idealizador do museu, foi construída a base de trabalho infantil e escravo, crimes ambientais, evasão de impostos e lavagem de dinheiro, de acordo com uma reportagem da Bloomberg Business Week.

Paz já foi condenado por lavagem de dinheiro e evasão fiscal, por ter recebido mais de 98,5 milhões de reais de um fundo de investimentos, Flamingo, localizado em paraíso fiscal, para financiar o museu.

Ele também precisou vender cerca de 20 obras de arte, no início de maio deste ano, para pagar a dívida de mais de 100 milhões de reais suas empresas de mineração com o estado de Minas Gerais. No entanto, o estado não pode retirar as obras do museu e nem participar de sua administração.

A reportagem da Bloomberg, no entanto, verificou que o problema é ainda mais grave.

Para abastecer uma de suas empresas de mineração, Itaminas, ele decidiu criar a Replasa Reflorestadora SA, para plantar eucaliptos, uma árvore de rápido crescimento que pode ser usada para carvão.

No entanto, o eucalipto é uma planta predatória, que impede que outras espécies cresçam na região. Além disso, também bebe bastante água para crescer - e a fazenda de 50 mil acres de Paz foi plantada nas cabeceiras de riachos, o que é proibido segundo a legislação brasileira.

Quando a plantação de eucaliptos começou, nos anos 1980, mais de 60 famílias foram expulsas da área, que cultivavam para agricultura de subsistência. Muitos desses agricultores foram expulsos das terras que se tornaram áridas, mas alguns começaram a trabalhar ainda crianças nas carvoarias, que transformavam as árvores em combustível.

Sem equipamento de segurança, muitos não eram registrados ou recebiam menos que o salário mínimo, diz a reportagem. Um funcionário se lembra de queimar os pés, ao subir nas carvoarias usando apenas chinelos. Um advogado da companhia respondeu que nunca usou trabalho infantil e os itens de segurança eram obrigatórios.

Em 2007, uma investigação descobriu 36 pessoas trabalhando em condições análogas a escravidão em uma carvoaria que fornecia para a Itasider–Usina Siderúrgica Itaminas SA. De acordo com a investigação, os funcionários eram obrigados a comprar as próprias serras e eram obrigadas a viver em áreas cheias de escorpiões durante o trabalho. A empresa foi colocada na lista negra de trabalho sujo e afirmou que deixou de comprar carvão desse fornecedor.

Desde que esses escândalos foram divulgados, o empresário vendeu as obras de arte (que não saíram do lugar), saiu do conselho do museu e raramente sai de casa. Passa os dias em sua mansão, repleta de obras de arte, em uma parte reclusa do parque de Inhotim.

Outro lado

O Instituto Inhotim afirmou, em nota, que segue programas de integridade corporativa e compliance e submete suas contas a um processo de auditoria. Confira a nota abaixo, na íntegra:

"O Instituto Inhotim é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), sem fins lucrativos. A propósito da reportagem publicada pela revista Businessweek na sexta-feira (08/06), reproduzida pela revista Exame, o Inhotim reafirma sua separação dos negócios de Bernardo Paz, idealizador do Instituto e ex-presidente do Conselho de Administração, cargo deixado por ele em 2017.

Recentemente, o Inhotim firmou parceria com a empresa SmartGov para a elaboração e implementação de um Programa de Integridade Corporativa e Compliance, a fim de garantir padrões de gestão e processos eficientes, além de reafirmar seu compromisso com a transparência. Entre as ações planejadas está a criação de um Código de Ética e Conduta, assim como a certificação da ISO 37001, referente a sistemas de gestão antissuborno.

Desde 2012, as contas do Inhotim são submetidas a um rigoroso processo de auditoria realizado pela empresa Ernst & Young, com periodicidade anual. Todas as contas do Instituto são públicas e passam por criteriosa prestação junto ao Ministério da Cultura. No site estão disponíveis relatórios e demonstrações contábeis que podem ser acessados, baixados e compartilhados.

O Inhotim foi criado por Bernardo com o intuito de dar acesso a suas coleções privadas de arte e botânica e permitir o desenvolvimento de diversas ações sociais, educativas e culturais. Ao longo dos anos, o Instituto se consolidou como uma das principais iniciativas culturais do Brasil, de renome internacional. Em 2015, Paz fez a doação das terras e edificações onde o Inhotim está localizado para a Oscip, importante passo para garantir sua perenidade.

Para realização de suas ações socioeducativas e manutenção de seus acervos botânico e artístico, o Inhotim capta recursos e doações de pessoas físicas e jurídicas, de maneira direta e incentivada, com amparo nas Leis Federal e Estadual de Incentivo à Cultura.

No anseio de esclarecer os fatos e evitar possíveis equívocos acerca de organizações diferentes e de naturezas jurídicas distintas, o Inhotim reforça seu compromisso com a sociedade, com seus parceiros e com a comunidade em seu entorno na busca incessante pelo desenvolvimento humano por meio da arte, cultura e educação."

Já a defesa de Bernardo Paz afirmou que não há registro de autuação por trabalho infantil contra a Replasa ou grilagem de terras. "A acusação de trabalho em condições análogas à escravidão foi contra uma fornecedora da Itasider, do grupo Itaminas, e não diretamente contra a empresa em si", afirmou o advogado Sânzio Baioneta Nogueira por email.

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