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Final da Taça Rio, sem Rede Globo, levanta debate sobre transmissão

Flamengo e Fluminense se enfrentam com transmissão do time mandante, e sem Rede Globo. Se a moda pega, os pequenos podem ficar ainda menores no Brasil

CAMPEONATO NA PANDEMIA: Rio foi o primeiro estado a retomar o futebol no Brasil (Ricardo Moraes/Reuters)

CAMPEONATO NA PANDEMIA: Rio foi o primeiro estado a retomar o futebol no Brasil (Ricardo Moraes/Reuters)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 8 de julho de 2020 às 06h48.

Fluminense e Flamengo voltam a se enfrentar, nesta quarta-feira, 7, em uma final de Taça Rio pela primeira vez depois de 15 anos. Mas apesar do tamanho do clássico, a torcida, que não estará presente devido às medidas contra o coronavírus, também corria o risco de não assistir à partida nem mesmo de casa.

O alívio só veio quando o Fluminense confirmou que seu canal no YouTube, o FluTV, irá transmitir a partida. A decisão do tricolor carioca tem como base a Medida Provisória 984/2020, que dá ao clube mandante o direito de transmissão da partida, mesmo sem o consenso do visitante.

É com base nessa mesma MP, publicada no último dia 18, que o Flamengo transmitiu suas últimas duas partidas em casa. A decisão contrariou a rede Globo, que detinha o direito de exibir com exclusividade os jogos de todos os clubes do Campeonato Carioca - com exceção daqueles que envolvessem o Flamengo. Como resposta, a emissora rescindiu o contrato de transmissão da competição, abrindo espaço para que o Fluminense também reproduzisse a partida em seu canal.

Antes da MP, que altera trechos da Lei Pelé, uma emissora só poderia exibir uma partida de futebol se tivesse o direito de transmissão sobre os dois clubes envolvidos. Por trás dessa discussão está o futuro da transmissão do futebol brasileiro, terreno dominado há anos pela rede Globo.

Embora a MP dê maior liberdade para os clubes negociarem o direito de transmissão de seus jogos com outras emissoras, aplicativos de streaming e até exibirem suas partidas por meios próprios, há críticas sobre seus possíveis efeitos a longo prazo. A principal delas é a esperada disparidade de arrecadação entre os clubes de menor e maior expressão, que poderia resultar na diferença de qualidade entre as equipes e, consequentemente, prejudicar o equilíbrio dos campeonatos brasileiros.

Em Portugal, que tem uma das principais ligas da Europa, os clubes também vendem individualmente o direito de transmissão de seus jogos. Por lá, o Benfica, que tem a maior torcida do país, entrou em embate frontal com a maior emissora de esportes local, a Sport TV, em 2014. Como resultado, no ano seguinte, o Benfica conseguiu vender por valores recordes o direito de transmissão de suas partidas como mandante.

Entre as temporadas 2014/2015 e 2018/2019, o dinheiro arrecadado por equipes da primeira divisão de Portugal com transmissões cresceu 157,14%, segundo o último estudo anual realizado pela UEFA, referente ao ano de 2018. Nesse mesmo período, os times dos dois principais campeonatos da Europa, Premier League (Inglaterra) e La Liga (Espanha) aumentaram esse tipo de receita em 45,58% e 90,92%, respectivamente.

Por outro lado, esse mesmo estudo revela que Portugal lidera a desigualdade de arrecadação com direitos de transmissão entre as ligas europeias. De acordo com o relatório, os três principais times do país (Benfica, Sporting e Porto) recebem de 10 a 15 vezes o que ganha, em média, o restante da liga. Em 2009, essa diferença era de 6,9 vezes.

“Portugal é agora a única liga principal em que os clubes vendem seus direitos individualmente, e isso se reflete na enorme diferença entre os três principais times e o restante em termos de receita de TV”, afirma o estudo. No país, nenhum time além de Benfica, Sporting e Porto foi campeão da liga nacional desde 2001.

O fenômeno de Portugal também vai na contramão das principais ligas do mundo, onde essa diferença de arrecadação entre os clubes tem diminuído. No campeonato inglês, os três principais clubes ganhavam, em 2018, cerca de 40% a mais com direitos de transmissão contra 50% em 2009. Na Espanha essa disparidade caiu pela metade no mesmo período, passando de 660% a mais para 210%.

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