Fernando Goldsztein: Toda a ajuda é pouca para os atingidos pelas enchentes do RS
Para o fundador do The Medulloblastoma Initiative e membro do conselho da Childrens National Foundation não é hora de encerrar a onda de solidariedade frente a uma das maiores tragédias da humanidade
Redação Exame
Publicado em 20 de maio de 2024 às 18h19.
Fernando Goldsztein*
"Cada um de nós tem as suas obrigações morais. Essas obrigações obedecem uma hierarquia. Nossa primeira obrigação é conosco. Enquando capazes, somos reposponsáveis pela nossa saúde física, mental e emocional; pelas consequencias das nossas escolhas; nossos sucessos e nossos fracassos.
Em segundo lugar, somos responsáveis pela nossa família. Em especial, pelas crianças que colocamos no mundo, enquanto elas nāo se tornam adultas. E também, pelos adultos que nos colocaram no mundo, quando eles se tornam crianças.
Nossa terceira obrigaçāo é para com os amigos e colaboradores, pois eles nos admiram, nos vêem como líderes, e contam conosco.
Se depois de cuidar nós mesmos, das nossas famílias, amigos e colaboradores, ainda tivermos recursos, devemos cuidar das pessoas anônimas nas nossas comunidades. Pois, nāo estaremos bem e seguros, se as pessoas ao nosso redor nāo estiverem bem e seguras."
As palavras acima foram extraídas do discurso de Willian Ling por ocasião do lançamento do projeto "Recontrói RS".
A família Ling, que representa um dos principais grupos empresariais do Sul do Brasil, comprometeu-se a doar 50 milhões de reais para o projeto, que já conta com grande adesāo de outros grupos familiares e empresas. Segundo Ling, a idéia é usar os recursos nas cidades atingidas, de forma ágil e sem intermediáros, para financiar obras urgentes, de alto impacto e de forma permanente.
Do ponto de vista de extensão territorial e número de pessoas atingidas, a tragédia que assolou o RS nāo tem precedentes no Brasil. E, nestes quesitos, já é considerada uma das maiores tragédias da história. São 445 municípios e mais de 2 milhões de pessoas afetadas. Sendo que destas, quase 600 mil foram desalojadas das suas casas. Comunidades inteiras engolidas, ou literalmente varridas pela água.
Eis que, no meio de todo este caos, surge uma reação espontânea, muito forte e que se tornou até maior que a própria tragédia: a soliedariedade. São em momentos como este que brota a essência do ser humano. Essência esta que nos diferencia como espécie animal, e nos acompanha há centenas de milhares de anos.
Os precursores do Homo Sapiens já reuniam-se no entorno das primeiras fogueiras para se socializar, encontrar algum conforto e aquecimento, dividir comida e sentirem-se a salvo dos predadores. A vida em grupo, uns ajudando os outros, era essencial para aumentar as chances de sobrevivência.
Eu, como morador de Porto Alegre, vi com meus próprios olhos, ao vivo e à cores. Jovens (e nāo tāo jovens assim) corajosos e aguerridos, entravam naquela água fétida com seus pequenos barcos, jet skis e até botes a remo. Incansáveis! Não paravam enquanto nāo se certificavam de que não havia mais ninguém a ser salvo. As vítimas, por sua vez, recebiam cobertores, roupas, cuidados médicos e comida. Tudo feito com muita dedicação e carinho.
A corrente de solidariedade dos gaúchos, que logo tomou conta do Brasil inteiro, tem sido comovente. Trata-se de uma crise humanitária sem precedentes no nosso país. A reconstrução do RS e da vida de tantas centenas de milhares de famílias requererá muito esforço e muito recursos.
Não podemos ficar inertes! Se você já contribuiu ou está contribuindo, que continue. Se voce ainda nāo o fez, a hora é agora. Temos que ser coerentes com os nossos valores e nos mobilizar de alguma forma. Seja através de exemplos grandiosos como o da família Ling, do trabalho voluntário ou de uma pequena doação. O importante é cada um fazer o que estiver ao seu alcance. Neste momento no RS, toda a ajuda é pouca.
Fernando Goldsztein
Fundador do The Medulloblastoma Initiative
Membro do Conselho da Childrens National Foundation
Negócios em Luta
A série de reportagensNegócios em Lutaé uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolam o estado desde o fim de abril.
São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.
Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente. Tem uma história? Mande paranegociosemluta@exame.com.