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Família Ling cria programa de R$ 50 milhões para reconstruir RS com sociedade civil

Na opinião de William Ling, o que aconteceu no Rio Grande do Sul foi resultado de "imprudência e imprevisão"

William Ling, da Évora e do Instituto Ling: “O que aconteceu no Sul é resultado de imprudência e imprevisão. A próxima enchente vai dar a mesma coisa, porque estamos sempre agindo nas consequências, e nunca nas causas” (YouTube/Reprodução)

William Ling, da Évora e do Instituto Ling: “O que aconteceu no Sul é resultado de imprudência e imprevisão. A próxima enchente vai dar a mesma coisa, porque estamos sempre agindo nas consequências, e nunca nas causas” (YouTube/Reprodução)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 15 de maio de 2024 às 10h59.

Última atualização em 15 de maio de 2024 às 11h06.

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Uma das famílias mais influentes do empresariado gaúcho, a Ling, dona da bilionária holding que atua nos setores de embalagens plásticas e metálicas, de não-tecidos, e florestamento Évora, de Porto Alegre, está na dianteira de um movimento que será crucial para os próximos passos do Rio Grande do Sul, principalmente depois que a água baixar: o de pensar no próximo passo.

“As pessoas estão ajudando agora, estão sendo voluntárias e fazendo doações. A questão toda é o próximo dia”, diz William Ling, presidente do Instituto Ling, braço social da companhia, em entrevista exclusiva à EXAME. “Em algum dia, a água vai baixar e as comunidades vão enxergar de uma maneira mais clara os prejuízos e a necessidade de reconstrução”. 

O instituto quer ajudar nessa reconstrução, principalmente naquela que for mobilizada pela sociedade civil. Para isso, criou um programa chamado Reconstrói RS, que irá destinar recursos para comunidades que trabalham em reparos emergenciais de suas cidades e regiões. 

Os primeiros 50 milhões de reais foram doados pela família Ling, mantenedora do Instituto Ling no Brasil e da Ling Foundation, com atuação nos Estados Unidos. O programa já conta com também com a adesão das Lojas Renner, de Salim Mattar (fundador da Localiza) e de Jayme Garfinkel (controlador da Porto Seguro).

“Sabemos que existem certos trabalhos de reconstrução que vão exigir recursos na ordem de bilhões, como de grandes viadutos ou rodovias inteiras. Nesses, a iniciativa privada tem pouco espaço de atuação”, afirma. “Mas haverão obras emergenciais, reconstruções de pequenas pontes ou trechos de estradas que podem contar com nossa ajuda”. 

Ling toma como exemplo um caso que aconteceu no Rio Grande do Sul no ano passado. As enchentes de setembro levaram uma ponte histórica do município de Nova Roma do Sul, na serra gaúcha. Na ocasião, os próprios moradores fizeram uma vaquinha que arrecadou dinheiro para construírem uma nova ponte no local, sem dinheiro do governo. A estrutura resistiu às chuvas de agora. 

“A comunidade fez acontecer, e isso virou uma referência”, afirma. “Gostaríamos de replicar esse modelo, que essa comunidade fez com tanto sucesso no ano passado, em todas localidades que foram afetadas agora”. 

Como vai funcionar o programa Reconstrói RS

Poucas etapas, para ganhar agilidade, serão precisas para liberar o dinheiro do fundo criado pelo Instituto Ling para ajudar as comunidades necessitadas. A desburocratização é uma característica que William Ling fez questão de garantir para o projeto. 

Na prática, vai funcionar assim: as comunidades que queiram pleitear recursos deverão acionar as associações comerciais e industriais (ACIs) de suas regiões a partir de 1º de junho e submeter suas propostas. Todos os projetos devem possuir registro de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) e cronograma físico-financeiro. 

Depois disso, a Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), por meio das 190 ACIs espalhadas pelo Estado, e o Instituto Cultural Floresta realizarão a triagem. 

As propostas serão encaminhadas pelas ACIs e pelo ICF ao Instituto Ling. Um comitê avaliador composto por especialistas em infraestrutura e engenharia e familiarizados com a realidade do estado, verificará celeremente pontos como a pertinência e a qualidade técnica dos projetos. Os profissionais que compõem o comitê são Athos Cordeiro, Ricardo Portella Nunes, Sérgio Klein, Mauro Touguinha de Oliveira e Anthony Ling. 

Os proponentes dos projetos aprovados serão orientados pelo Instituto Ling sobre as providências para contratação dos recursos. A  fiscalização e o acompanhamento da destinação dos recursos e da execução dos projetos será feita pela Federasul  e pelo Instituto Cultural Floresta. Todos os aspectos jurídicos serão acompanhados pelo escritório Souto Correa Advogados, que prestará o serviço em formato pro bono. 

Cada projeto poderá receber até 1 milhão de reais. O limite foi dado para garantir que a maioria de projetos possíveis receba os recursos. 

“Será um processo descentralizado, que é como eu opero a minha empresa”, diz. “A nossa empresa tem dezenas de fábricas espalhadas em 13 países. Como administrar? De forma descentralizada. Autonomia local. Eles são os protagonistas, eles sabem, e eu confio neles. A base de tudo é confiança. Eu confio no julgamento deles. Será assim com esse projeto também”.

Como será o Rio Grande do Sul do futuro, na visão de Ling

O projeto do Instituto Ling desponta uma discussão que será fundamental nos próximos meses, quiçá anos: o de como será o processo de reconstrução do Estado. Isso desembocará em questões ainda mais estruturais, como aquela em que discutirá qual será a vocação econômica do Rio Grande do Sul quando a tormenta passar.

Para William Ling, a questão da reconstrução do Estado passa por uma discussão ainda maior: a de reformulação dos esforços do país na educação. 

“A base de tudo é a educação. Precisamos ter pessoas qualificadas, aumentar a média de QI dos brasileiros, e isso se dá com investimento no ensino básico”, diz. “Hoje o dinheiro da educação no Brasil vai para o Ensino Médio e Ensino Superior, mas as pessoas chegam despreparadas nesses ambientes porque não há investimentos na educação na primeira infância”. 

“Se não corrigir isso, o resto tudo é improviso, é perturbaria”, continua. “O que aconteceu no Sul é resultado de imprudência e imprevisão. A próxima enchente vai dar a mesma coisa, porque estamos sempre agindo nas consequências, e nunca nas causas”. 

O Instituto Ling, que faz a doação agora, é uma associação civil sem fins lucrativos fundada em 1995 pela família Ling como retribuição ao Brasil, país que recebeu o casal Sheun Ming e Lydia quando chegaram na década de 50, vindos da China. Boa parte do seu foco de atuação é, mesmo, na educação. O instituto fornece anualmente bolsas para brasileiros fazerem seus estudos nas principais universidades do país.

Negócios em Luta

A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolam o estado desde o fim de abril.

São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente.

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