Redação Exame
Publicado em 10 de setembro de 2024 às 13h13.
Última atualização em 11 de setembro de 2024 às 15h55.
Em uma petição manuscrita de sua prisão no norte rural da China, o bilionário criador de porcos e galinhas Sun Dawu implorou ao tribunal para ouvir seu apelo. Ele estava cumprindo uma sentença de 18 anos por acusações que incluíam corrupção. Havia muito mais em jogo do que sua própria condenação injusta, escreveu o magnata de 70 anos em seu apelo de 16 de novembro passado.
Sem sua liderança, o negócio que ele construiu por décadas entraria em colapso, ele alertou. Sua empresa, Hebei Dawu Agriculture and Animal Husbandry Group, tinha mais de dez mil funcionários.
Se seu apelo fosse adiado, "o empreendimento seria completamente destruído", ele escreveu no documento legal, segundo reportagem da Reuters.
O colapso do negócio gigante que Sun construiu seria de fato indesejável para os líderes chineses, justamente num momento que uma crise imobiliária representa a maior ameaça à economia da China em décadas. Sun está preso desde julho de 2021.
O empresário é mais um que ficou na mira do presidente Xi Jinping. O líder chinês mais poderoso desde Mao Tsé-Tung passou a reprimir magnatas e altos executivos que são vistos como uma ameaça ao controle do Partido Comunista sobre a economia. Nos últimos três anos e meio, pelo menos 36 figuras empresariais importantes foram detidas, investigadas, indiciadas ou presas, de acordo com o site da Comissão Central de Inspeção Disciplinar da China.
Destes, pelo menos 22 estavam no setor privado e mais de uma dúzia trabalhavam em empresas controladas pelo Estado. Os maiores nomes estão no setor privado, que responde por mais da metade do PIB e pela maioria dos empregos na China.
No caso de Sun, ele passou a fazer críticas persistentes ao Partido Comunista e colaborou com ativistas pró-democracia e intelectuais liberais na China. Sua sentença de 18 anos efetivamente significa prisão perpétua dada sua idade.
De acordo com a reportagem da Reuters, as prisões contra empresários passam uma mensagem clara de que o partido está comprometido em anular qualquer ameaça ao seu monopólio de poder, mesmo ao custo do crescimento econômico. A liderança da China rejeita essa visão. O governo "atribui grande importância ao setor privado", e a sugestão de que a China está "reprimindo" os negócios é falsa, disse um funcionário do governo à Reuters.
Até agora, o Tribunal Superior Popular da Província de Hebei não concordou em ouvir o apelo de Sun, dizem seus assessores jurídicos. Além de Sun, sua família e altos executivos foram presos no caso.
O destino de Sun parece se encaixar em um padrão. Em setembro de 2020, o magnata imobiliário e blogueiro Ren Zhiqiang foi condenado a 18 anos idênticos por corrupção. Ren foi detido após um artigo, amplamente atribuído a ele e divulgado online, criticar a forma como o governo lidou com a COVID-19. Sem nomear o líder chinês, o artigo descreveu a autoridade responsável pela resposta à pandemia como um "palhaço despido" — comentários amplamente interpretados como um ataque a Xi.
Também preso por 18 anos em 2018, por fraude e peculato, estava Wu Xiaohui, ex-presidente do Anbang Insurance Group. A Anbang era mais conhecida no exterior por adquirir o famoso hotel Waldorf Astoria de Nova York. Os promotores disseram que Wu demonstrou "ambição descontrolada e expansão imprudente", o que resultou em riscos para o sistema financeiro chinês — uma acusação também feita a outros magnatas dos negócios. Ele também foi acusado de fraude e peculato envolvendo mais de US$ 10 bilhões.
Jack Ma, do Alibaba, antes uma presença onipresente no mundo da tecnologia, tem estado amplamente ausente dos negócios desde que criticou publicamente os reguladores chineses em 2020. Agora, ele fica praticamente está longe dos holofotes.
O banqueiro celebridade Bao Fan renunciou aos seus cargos de presidente e CEO da China Renaissance Holdings, citando motivos de saúde e o desejo de passar mais tempo com sua família. Anteriormente, o banco de investimento havia anunciado que Bao estava cooperando em uma investigação não especificada, sem dar mais detalhes.
Também em fevereiro, um tribunal chinês impôs uma sentença de morte suspensa ao ex-presidente do China Merchants Bank, Tian Huiyu, após condená-lo por acusações que incluem suborno e negociação com informações privilegiadas.