Executivos de banco português pedem renúncia após 2 meses
Presidente-executivo, diretor financeiro e vice-presidente do banco sucessor do BES, abandonaram a tarefa de resgatar a empresa do colapso
Da Redação
Publicado em 13 de setembro de 2014 às 15h56.
Lisboa - A reestruturação do português Novo Banco, sucessor do Banco Espírito Santo (BES) depois de um resgate do governo no mês passado, levou um golpe neste sábado com a renúncia dos três homens escolhidos a dedo pelo banco central em julho para reconstruir o negócio.
O presidente-executivo Vítor Bento, o diretor financeiro João Moreira Rato e o vice-presidente José Honório disseram que estavam partindo porque seu mandato inicial para reviver o banco com dinheiro privado havia mudado muito desde o socorro do governo.
O BES, maior banco listado de Portugal, teve que ser resgatado após o colapso do império empresarial da família Espírito Santo, fundadora da instituição, cujas principais holdings estão sob proteção contra credores. Analistas e auditores alertaram que perdas e passivos ainda podem ser descobertos no banco.
As renúncias seguem relatos de desentendimentos com o banco central português sobre a estratégia de longo prazo do Novo Banco. O jornal semanal Expresso disse mais cedo neste sábado, antes das demissões serem anunciadas, que os executivos se opuseram ao plano do banco central de vender o Novo Banco o mais rápido possível para recuperar os 3,9 bilhões de euros (5,1 bilhões de dólares) em recursos públicos utilizados no resgate.
Os executivos estavam relutantes "em executar um projeto que não era deles", disse o jornal, que não citou fontes. No entanto, os três negaram qualquer conflito. "Nossa decisão pela renúncia é devido ao fato de que o nosso mandato mudou significativamente desde que começamos os nossos papéis, em meados de julho.
Durante nosso tempo no Novo Banco, contribuímos para a estabilização do banco, tomamos medidas para normalizar as operações e melhorar sistemas e lançamos um plano de médio prazo", disseram em um comunicado conjunto.
O mandato inicial de Bento previa o resgate do BES usando capital privado, antes de o banco central decidir em 3 de agosto intervir com 4,9 bilhões de euros, com parte dos recursos sendo fornecidos pelo fundo de resolução bancária de Portugal para recapitalizar o Novo Banco, esculpido a partir do combalido BES.
"Um processo para uma venda rápida do banco já foi lançado e está sendo gerido pelo Fundo de Resolução e pelo Banco de Portugal. Hoje nós sentimos que a coisa certa a fazer é entregar as rédeas para outra equipa de gestão", disse Bento.
O Banco de Portugal afirmou que vai nomear em breve uma nova administração para o Novo Banco, e reiterou sua intenção de vender o banco a investidores "no menor prazo razoavelmente exigível" para garantir uma estrutura acionária estável. A mídia local disse que o substituto de Bento deve ser anunciado neste fim de semana.
Bento, respeitado economista e executivo, foi escolhido pelo presidente do Banco de Portugal, Carlos Costa, para substituir Ricardo Salgado, o patriarca do clã Espírito Santo, que fundou o banco há cerca de 150 anos.
Salgado renunciara sob pressão de Costa. A nova gestão de Bento e o Banco de Portugal tinham dito que suspeitavam que atividades ilegais haviam ocorrido no BES, envolvendo o financiamento de empresas familiares usando dinheiro emprestado de clientes do banco. No início deste mês, a KPMG alertou para possíveis novas perdas para além dos 3,6 bilhões de euros divulgados pelo BES em julho.