Eder Maffissoni, da Prati Donaduzzi: "Esse é um produto que vai ter um efeito muito parecido à época que caiu a patente do Viagra" (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 26 de abril de 2024 às 11h30.
Última atualização em 24 de maio de 2024 às 19h54.
A paranaense Prati-Donaduzzi se prepara para entrar no concorrido mercado aberto pela Ozempic (semaglutida), da Novo Nordisk. A farmacêutica brasileira está de olho na quebra de patente do medicamento no país, prevista para 2026, e está desenvolvendo em casa o seu próprio equivalente genérico.
Fenômeno mundial, o produto tem impulsionado os números da Novo Nordisk nos últimos anos. A semaglutida é utilizada no tratamento de diabetes e de obesidade, como um inibidor de apetite. É o uso para a perda de peso rápido e com pouco esforço, porém, que abriu uma fronteira expressiva para a companhia dinamarquesa, hoje a mais valiosa da Europa.
O processo na Prati começou há pouco mais de seis meses e busca posicionar a empresa para ter a oferta pronta tão logo a patente caia. “O importante para nós é sempre lançar um produto na quebra de patente e estar entre os primeiros. As farmácias, geralmente, querem ter entre duas e três alternativas na prateleira. E queremos marcar presença neste espaço”, afirma Eder Maffissoni, CEO da Prati-Donaduzzi desde 2016.
Maior fabricante de genéricos do país em volume com a produção de mais de 13 bilhões de comprimidos por ano, a empresa de Toledo, no Paraná, foi ao exterior buscar os componentes necessários para colocar o projeto de pé. A matéria-prima foi negociada com fornecedores da Ásia, e o dispositivo para a aplicação do medicamento com europeus. A fase atual é de formulação e análise dos resultados.
A Prati não revela os valores que está desembolsando para a criação do novo produto. Tradicionalmente, a farmacêutica investe 5% do faturamento registrado no ano anterior em pesquisa e desenvolvimento de portfólio. Em 2023, a receita ficou na casa de 2,3 bilhões de reais, alta de mais de 10% em relação aos números de 2022.
“Nós acabamos não abrindo o desenvolvimento de um produto e do outro, mas esse é um desenvolvimento caro. Para se ter uma ideia, o grama da matéria-prima custa em torno de 1.100 dólares”, diz Maffissoni.
Com a quebra de patente, o mercado nacional quer capturar a demanda reprimida para a compra do produto, cujo preço está em torno de R$ 1.000,00. Recentemente, uma outra brasileira, a Bionn, empresa de biotecnologia, anunciou a parceria com a indiana Biocon para licenciar e distribuir com exclusividade o medicamento biológico semaglutida.
Dados da consultoria IQVIA, especializada no setor de saúde, as vendas de semaglutida somam mais de R$ 3 bilhões ao ano no Brasil. O montante coloca o medicamento como o maior em faturamento no país.
“Esse é um produto que vai ter um efeito muito parecido à época que caiu a patente do Viagra", afirma Maffissoni. “Na farmácia, um comprimido era vendido por R$ 50,00. Hoje, um genérico sai a R$ 0,90 centavos. Com a queda do preço, o consumo explodiu e trouxe acesso a quem precisava”.
O Brasil é atualmente o quinto país com maior incidência de diabetes no mundo, com 16,8 milhões de doentes adultos - 20 a 79 anos -, de acordo com o Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF). O país fica atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. Em 2030, a projeção é de que este número suba para 21,5 milhões de casos.
Por si só, esse número já funciona como um indicativo do tamanho potencial da demanda. O “off label”, como já é chamado na indústria o uso diferente de medicamentos daquele originalmente autorizado pelos órgãos regulatórios, eleva esse mercado em algumas casas decimais.
“Hoje, a multinacional que vende o produto de referência não abastece a demanda nem pelo preço que cobra. Então, existe uma demanda reprimida e as farmácias estão gritando por volume. Baixando o preço, melhor ainda porque promove o acesso”, diz.
Com 30 anos de mercado, a Prati foi fundada pelo casal de farmacêuticos paranaense Luiz e Carmen Donaduzzi, ao lado dos seus respectivos irmãos Arno Donaduzzi e de Celso Prati. A farmacêutica nasceu para desenvolver medicamentos que já tinham perdido a patente, a exemplo de alguns analgésicos e vermífugos. O caminho que viria a ser consolidado anos depois com a entrada em vigor da lei dos genéricos, em 1999.
Do mercado público inicial, oferecendo remédios para governos nas esferas federal, estadual e municipal, a empresa avançou para o consumidor final em 2010. Cerca de 70% da receita provém do novo público atualmente.
Com estratégia verticalizada e fazendo tudo dentro de casa, a Prati tem registrado um crescimento contínuo e dobra de tamanho a cada cinco anos. A próxima meta é chegar aos R$ 4 bilhões em 2027.
“Nós estamos andando um pouquinho mais acelerados. Acho que dá para fechar os R$ 4 bilhões em 2026, olhando para o que temos no portfólio e o que estamos produzindo”, afirma Maffissoni, na empresa desde 2002.
Além do portfólio de genéricos, a empresa avança em medicamentos de referência para doenças como Parkinson, Alzheimer, esquizofrenia, autismo e depressão; canabidiol; e está construindo uma unidade de injetáveis, produtos que são aplicados com seringas.