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Esteves na cadeia: cama de concreto, ratos e cabeça raspada

O banqueiro ainda é bilionário, mas tem que usar um sanitário sem porta no famoso complexo penitenciário de Bangu, no subúrbio do Rio de Janeiro

André Esteves, do BTG Pactual: a cabeça dele foi raspada. Alguns de seus companheiros são ratos, atraídos pelo aterro sanitário vizinho à prisão (Chris Ratcliffe/Bloomberg)
DR

Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2015 às 19h46.

Há doze dias, André Esteves foi levado para uma cela com camas de concreto.

A cabeça dele foi raspada. Alguns de seus companheiros são ratos, atraídos pelo aterro sanitário vizinho à prisão.

O banqueiro de 47 anos ainda é bilionário, mas tem que usar um sanitário sem porta estilo turco - ou “boi’’, como é chamado por detentos - no famoso complexo penitenciário de Bangu, no subúrbio do Rio de Janeiro.

Do lado de fora, o cheiro das valas de esgoto se mistura com o aroma de terra batida e frituras que as mulheres compram para seus maridos presos de vendedores em frente ao presídio.

Do lado de dentro, o ex-presidente do conselho e ex-CEO do Grupo BTG Pactual , o maior banco de investimento independente da América Latina, toma banho com um sabão em barra, que se vindo de fora é cortado em fatias por guardas na revista em busca de contrabando.

A prisão de Esteves, junto com o encarceramento em junho do diretor do maior conglomerado de construção do Brasil, causou um sentimento de “bem feito para eles” em um país acostumado com a impunidade para os criminosos de colarinho branco.

Esses executivos simbolizam uma geração de líderes empresariais que fizeram negócios com o governo e lucraram com o boom que transformou o Brasil na maior economia em desenvolvimento depois da China.

A investigação de corrupção os obrigou a aguardar o julgamento atrás das grades, ajudou a mergulhar o país em uma recessão profunda e deixou a presidente Dilma Rousseff lutando pela própria sobrevivência política.

Antonio Carlos de Almeida Castro, ou Kakay, o advogado que representa Esteves, disse que a reação não é surpreendente. “Existe um ódio contra banqueiros”, disse ele. Ele está confiante em relação ao seu cliente, que negou acusações de ter obstruído a investigação.

“Ele é um cara firmíssimo”, disse Castro, “mas é claro que ninguém sendo inocente acorda normal em Bangu 8”.

Esteves – que uma vez disse brincando que BTG significava “Better than Goldman” (melhor que Goldman, em inglês) – foi preso no dia 25 de novembro como parte da investigação sobre propinas conhecida como Operação Lava Jato, que envolveu a estatal Petrobras e algumas das maiores construtoras do país.

O suposto esquema inflou os preços de projetos de construção e rendeu propinas a autoridades da Petrobras e a outras pessoas.

Em Bangu

Na penitenciária em Bangu, famosa pela violência de gangues sanguinárias retratada em filmes brasileiros como “Tropa de Elite 2”, Esteves está em uma unidade chamada Bangu 8, reservada para detentos com diploma universitário.

Ao contrário dos homens das outras 24 unidades, ele tem a chance de ficar sozinho em sua cela, que tem mais de 12 leitos. Geralmente, nunca há mais de 60 presos em Bangu 8 ao mesmo tempo, de acordo com funcionários da prisão, e a instalação foi construída para mais de 200.

A rotatividade é grande na unidade.

Há outros benefícios: uma cantina, onde uma pet de dois litros de Coca-Cola custa R$ 10, quase o dobro que do lado de fora. Mas os visitantes em todo o complexo não podem levar aos detentos determinadas comidas como farofa, o tradicional prato brasileiro de farinha, bacon e ovos, porque eles poderiam esconder contrabando - como pedras de crack nas unidades com traficantes.

E, embora geralmente os homens presos em Bangu 8 não precisem raspar a cabeça, um procedimento realizado com regularidade por motivos sanitários nas seções superlotadas, as madeixas de Esteves foram cortadas há alguns dias, segundo Castro.

O advogado disse que isso aconteceu depois de relatos de que Esteves estaria recebendo tratamento especial.

A mídia local disse que Lilian Esteves, a esposa do detento, recebeu autorização para levar-lhe bacalhau do Antiquarius, um restaurante sofisticado no Leblon, Rio de Janeiro. Castro disse que essa informação é incorreta e que os penosos procedimentos de visita de Lilian Esteves são iguais aos de qualquer parente de detentos.

Ricos na prisão

“Ele merece”, disse Roberto Duarte, 25, vendedor em um quiosque na praia de Ipanema, onde Esteves tem um apartamento com vista para o mar.

“Os ricos mandam neste país. Você não acha que ele tem ar-condicionado lá?”.

Independentemente de como Esteves esteja sendo tratado, só o fato de ele estar atrás das grades é o bastante para alguns.

“Eu não diria que o Brasil está mudando, mas o país está mostrando uma cara nova”, disse Paulo Machado, 58, que trabalha com Duarte na praia de Ipanema. “Os ricos agora vão para a prisão, isso não acontecia antes”.

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A cabeça dele foi raspada. Alguns de seus companheiros são ratos, atraídos pelo aterro sanitário vizinho à prisão.

O banqueiro de 47 anos ainda é bilionário, mas tem que usar um sanitário sem porta estilo turco - ou “boi’’, como é chamado por detentos - no famoso complexo penitenciário de Bangu, no subúrbio do Rio de Janeiro.

Do lado de fora, o cheiro das valas de esgoto se mistura com o aroma de terra batida e frituras que as mulheres compram para seus maridos presos de vendedores em frente ao presídio.

Do lado de dentro, o ex-presidente do conselho e ex-CEO do Grupo BTG Pactual , o maior banco de investimento independente da América Latina, toma banho com um sabão em barra, que se vindo de fora é cortado em fatias por guardas na revista em busca de contrabando.

A prisão de Esteves, junto com o encarceramento em junho do diretor do maior conglomerado de construção do Brasil, causou um sentimento de “bem feito para eles” em um país acostumado com a impunidade para os criminosos de colarinho branco.

Esses executivos simbolizam uma geração de líderes empresariais que fizeram negócios com o governo e lucraram com o boom que transformou o Brasil na maior economia em desenvolvimento depois da China.

A investigação de corrupção os obrigou a aguardar o julgamento atrás das grades, ajudou a mergulhar o país em uma recessão profunda e deixou a presidente Dilma Rousseff lutando pela própria sobrevivência política.

Antonio Carlos de Almeida Castro, ou Kakay, o advogado que representa Esteves, disse que a reação não é surpreendente. “Existe um ódio contra banqueiros”, disse ele. Ele está confiante em relação ao seu cliente, que negou acusações de ter obstruído a investigação.

“Ele é um cara firmíssimo”, disse Castro, “mas é claro que ninguém sendo inocente acorda normal em Bangu 8”.

Esteves – que uma vez disse brincando que BTG significava “Better than Goldman” (melhor que Goldman, em inglês) – foi preso no dia 25 de novembro como parte da investigação sobre propinas conhecida como Operação Lava Jato, que envolveu a estatal Petrobras e algumas das maiores construtoras do país.

O suposto esquema inflou os preços de projetos de construção e rendeu propinas a autoridades da Petrobras e a outras pessoas.

Em Bangu

Na penitenciária em Bangu, famosa pela violência de gangues sanguinárias retratada em filmes brasileiros como “Tropa de Elite 2”, Esteves está em uma unidade chamada Bangu 8, reservada para detentos com diploma universitário.

Ao contrário dos homens das outras 24 unidades, ele tem a chance de ficar sozinho em sua cela, que tem mais de 12 leitos. Geralmente, nunca há mais de 60 presos em Bangu 8 ao mesmo tempo, de acordo com funcionários da prisão, e a instalação foi construída para mais de 200.

A rotatividade é grande na unidade.

Há outros benefícios: uma cantina, onde uma pet de dois litros de Coca-Cola custa R$ 10, quase o dobro que do lado de fora. Mas os visitantes em todo o complexo não podem levar aos detentos determinadas comidas como farofa, o tradicional prato brasileiro de farinha, bacon e ovos, porque eles poderiam esconder contrabando - como pedras de crack nas unidades com traficantes.

E, embora geralmente os homens presos em Bangu 8 não precisem raspar a cabeça, um procedimento realizado com regularidade por motivos sanitários nas seções superlotadas, as madeixas de Esteves foram cortadas há alguns dias, segundo Castro.

O advogado disse que isso aconteceu depois de relatos de que Esteves estaria recebendo tratamento especial.

A mídia local disse que Lilian Esteves, a esposa do detento, recebeu autorização para levar-lhe bacalhau do Antiquarius, um restaurante sofisticado no Leblon, Rio de Janeiro. Castro disse que essa informação é incorreta e que os penosos procedimentos de visita de Lilian Esteves são iguais aos de qualquer parente de detentos.

Ricos na prisão

“Ele merece”, disse Roberto Duarte, 25, vendedor em um quiosque na praia de Ipanema, onde Esteves tem um apartamento com vista para o mar.

“Os ricos mandam neste país. Você não acha que ele tem ar-condicionado lá?”.

Independentemente de como Esteves esteja sendo tratado, só o fato de ele estar atrás das grades é o bastante para alguns.

“Eu não diria que o Brasil está mudando, mas o país está mostrando uma cara nova”, disse Paulo Machado, 58, que trabalha com Duarte na praia de Ipanema. “Os ricos agora vão para a prisão, isso não acontecia antes”.

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