Normano Ribeiro (esquerda) e Leonardo Pontes, fundadores da Able-On: empreendedores se juntaram em 2019 para criar a startup (Able-On/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 6 de novembro de 2023 às 10h40.
Sabe as notas que damos aos motoristas de aplicativo depois de uma corrida? Geralmente, avaliamos o profissional por itens como segurança, tranquilidade na viagem e qualidade do veículo. A startup Able-On tem uma missão parecida: ela precisa avaliar como motoristas de frotas de companhias dirigem. Mas como fazer isso em escala, considerando que há empresas com centenas de caminhões ou veículos para transporte? Usando inteligência artificial.
Na prática, a Able-On instala sensores - ou usa os que já existem nos veículos - para fazer análise de vários dados em tempo real, e avaliar como está a condução do motorista. Esses dados são encaminhados para a inteligência artificial proprietária da empresa, que analisa se há algum desvio de comportamento e gera reports para os próprios motoristas e para as empresas donas das frotas.
“Baseado em algoritmo próprio de IA, a tecnologia faz a leitura de dados de geoposicionamento de um veículo e começa a identificar padrões comportamentais que levam a desgaste excessivo, consumo elevado e aumento de risco de acidente”, afirma o cofundador Normano Ribeiro. “Esta análise é traduzida em indicadores de tranquilidade e conforto, que por sua vez, permitem ser correlacionados com o objetivo da operação do cliente".
No caso de acidentes, por exemplo, a Able-On consegue identificar padrões relacionados a 1.000 acidentes fatais. Pelo geoposicionamento, ela percebe se o veículo está muito colado no carro da frente, se está em alta velocidade, e até se a pessoa parece estar embriagada. “Ela dá pistas no volante, como, por exemplo, frear mais bruscamente do que precisa”, diz. “Nosso sistema identifica que essa pessoa dirige como alguém embriagado. Não quer dizer que ela esteja bêbada, mas que está adotando o mesmo padrão de alguém bêbado”.
Com essa tecnologia, a startup acaba de anunciar uma captação de 7,2 milhões de reais feita pela locadora goiana de veículos para frotas ITA Frotas. O dinheiro será usado para ampliar as funcionalidades de IA da plataforma e dobrar o tamanho da empresa.
Ribeiro, co-fundador e CEO da empresa, já estava trabalhando com inteligência artificial antes de criar a Able-On. Ele desenvolvia um algoritmo para compreender o comportamento de um condutor para avaliação de preços de seguros. Só que isso necessitava de um equipamento de geoposicionamento, que era muito caro e praticamente inexistente no país. Nessa jornada, encontrou Leonardo Pontes, que trabalhava na operação brasileira da norte-americana Verizon.
A empresa tinha o produto que Ribeiro precisava, mas dois meses depois, saiu do Brasil. Pontes, então, tirou um período sabático e, depois, entrou em contato com Ribeiro para falar mais sobre a tecnologia. Foi o início da Able-On.
De lá para cá, com a entrada de novos clientes, o negócio foi crescendo. Em 2021, a empresa faturava 50.000 reais. Em 2022, passou a faturar 2 milhões de reais, valor que deve ficar estável no fechamento de 2023. Para o ano que vem, o objetivo é dobrar de tamanho, muito pelo aporte que acaba de receber.
Para os empresários fundadores da Able-On, um ponto importante neste aporte que está sendo anunciado agora é a empresa que assina o cheque: a goiana ITA Frotas, de 53 anos de atuação no mercado. Como ela tem uma boa jornada de tempo de experiência, será usada, também, para testar os novos produtos da startup e como “smart money”, dando orientações para a plataforma.
“Estamos com a ideia de pegar essa startup para poder construir e potencializar as duas empresas”, diz João Gama, diretor da ITA Frotas. “Do lado da ITA, vamos aplicar a tecnologia da Able-On em produtos. E para eles, poderemos expandir a gama de clientes e dar conhecimento de mercado”.
De acordo com Gama, esse é um dos primeiros (e únicos) aportes que a ITA está fazendo. “Não temos um programa de investimento”, diz. “Temos contratos com startups, mas sem pretenção de fazer aporte. Estamos investindo porque é a Able-On e entendemos uma possibilidade de trabalharmos juntos”.
A startup atua com dois produtos distintos. Um é o On-Drive, que foi contextualizado no início da reportagem. Trata-se da tecnologia que monitora e identifica padrões dos motoristas de frotas usando inteligência artificial. Nesse caso, é preciso que seja instalado um equipamento no veículo, que fará a conectividade para a transmissão e recepção de dados.
O outro produto da empresa é o On-Data. Nele, as empresas de frotas podem escolher que tipo de análise de dados querem fazer usando equipamentos já existentes nos veículos. A Able-On recebe a demanda e adapta a interpretação de dados para as necessidades específicas de cada empresa.
“É como se fosse um super analista, super bem treinado”, diz Pontes. “É uma plataforma que recebe dado de tudo que é jeito e consegue interpretá-los”.
Além do aumento dos ganhos, a startups, que hoje conta com 18 funcionários e planeja expandir a operação para os Estados Unidos.