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Escândalo da Odebrecht cresce com novas revelações no Peru

Casos de corrupção envolvendo a empresa já levaram à renúncia do presidente Pedro Pablo Kuczynski e ao suicídio do ex-mandatário Alan García

Odebrecht em Lima: Depois do Brasil, o Peru foi o país mais atingido pelo escândalo de corrupção envolvendo a construtora e governos locais. (Mariana Bazo/Reuters)
A

AFP

Publicado em 28 de junho de 2019 às 15h29.

O escândalo da construtora brasileira Odebrecht no Peru , que atingiu quatro ex-presidentes, ganhou novo vigor com as revelações sobre pagamentos ilegais em contratos não incluídos nas investigações do Ministério Público.

Os novos casos, que incluem pagamentos ilegais na construção de um gasoduto durante o governo de Ollanta Humala, se somam à denúncia de um procurador contra um colega por supostamente ter facilitado a fuga do país do ex-mandatário Alejandro Toledo.

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Um portal de jornalismo investigativo que vaza informações sobre o caso Odebrecht publicou planilhas de pagamentos ilegais da brasileira em 11 contratos "que até agora não tinham sido sequer mencionados nos acordos de confissão ou de indenização" entre a empresa e a procuradoria peruana.

São "registros de mais de 45 pagamentos vinculados a nosso país, de mais de 10 milhões de dólares. São pagamentos ilegais a beneficiários finais associados a 11 projetos públicos", segundo o portal IDL-Reporteros, dirigido pelo jornalista Gustavo Gorriti. "As planilhas provinham, obviamento, do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht", onde eram registrados os pagamentos ilegais, como propinas e doações para campanhas eleitorais.

"Não tinha segurança de que todos os pagamentos foram propinas, mas, sim, que todos eles eram ilegais, clandestinos, produtos de lavagem de dinheiro " e quase todos foram feitos "antes da prisão de Marcelo Odebrecht em 2015", disse o portal. O IDL-Reporteros afirmou que, "em todos os casos, os receptores de dinheiro figuram com 'codinomes' nessas planilhas".

As tabelas registram pagamentos a pessoas com apelidos como Disco (US$ 400 mil), Princesa (US$ 900 mil), Gaza (US$ 430 mil), Magali (US$ 450 mil), French (US$ 500 mil), Novatos (US$ 200 mil), Magneto (US$ 40 mil), Japa (US$ 50 mil), Sorte (US$ 50 mil) e Vermelho (US$ 189.474).

Gasoduto

Três milhões de dólares em pagamentos são ligados ao contrato de construção de um gasoduto que vai da floresta ao mar, cruzando os Andes. "Até hoje, a Odebrecht não tinha reconhecido o pagamento de propinas no projeto do Gasoduto do Sul", contrato "de mais de US$ 7 bilhões de dólares durante o governo de Ollanta Humala", informou o portal. "Foram 19 pagamentos a diferentes codinomes ligados a esse projeto entre 15 de abril e 12 de novembro de 2014, por um valor total de mais de US$ 3,2 milhões", acrescentou.

O ex-presidente Humala e sua esposa Nadine Heredia passaram nove meses em prisão preventiva acusados pela procuradoria de receberem aportes ilegais de campanha da Odebrecht.

Algumas das outras transações estão ligadas às obras de uma linha de metrô em Lima, uma rodovia costeira entre Lima e o porto vizinho de Callao, uma rota suburbana na cidade andina de Cusco e uma estrada amazônica entre Peru e Brasil.

"O notável neste caso é que quase todas as transações registradas nas planilhas vazadas não estavam nas confissões nem nas delações premiadas da Odebrecht, nem no Brasil, nem nos Estados Unidos, nem tampouco no Peru", detacou o ILD-Reporteros.

Inatividade

Depois do Brasil, o Peru foi o país mais atingido pelo escândalo da Odebrecht. As investigações da procuradoria levaram à renúncia do presidente Pedro Pablo Kuczynski em março de 2018 e ao suicídio do ex-mandatário Alan García em abril de 2019.

Kuczynski está em prisão domiciliar, e Toledo enfrenta um pedido de extradição dos Estados Unidos. Também estão em prisão preventiva a opositora Keiko Fujimori, a ex-prefeita de Lima Susana Villarán e uma dezena de ex-funcionários.

Somam-se às novas revelações sobre pagamentos ilegais as declarações do procurador José Domingo Pérez, que afirmou em um programa de televisão que a "inatividade" de um colega facilitou a fuga de Toledo aos Estados Unidos no início de 2017.

"Houve inatividade (...). No expediente [de Toledo] não se registra nada desde 21 de novembro [de 2016] até 10 de janeiro [de 2017], quando o procurador Hamilton Castro tinha acabado de decidir iniciar as diligências" contra Toledo, disse Pérez, o membro mais proeminente da equipe da procuradoria que investiga o caso Odebrecht.

Castro se defendeu nesta quinta: "Não houve nenhuma inatividade de minha parte e de nenhum procurador que esteve sob minha direção", disse à imprensa.

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