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Época de aperto da GM originou modelos com falhas

Carros que foram alvo de recall ainda estavam na prancheta de desenho quando alto engenheiro ordenou uma montagem mais barata

Chevrolet Cobalt, da General Motors: Cobalts e Ions estão entre os 1,6 milhão de veículos do recall da GM no mês passado devido a uma falha na chave de ignição (Jeff Kowalsky/Bloomberg)

Chevrolet Cobalt, da General Motors: Cobalts e Ions estão entre os 1,6 milhão de veículos do recall da GM no mês passado devido a uma falha na chave de ignição (Jeff Kowalsky/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 21 de março de 2014 às 17h32.

Detroit/Nova York/Southfield - Os carros que foram alvo do recall de fevereiro da General Motors ainda estavam na prancheta de desenho quando um alto engenheiro reuniu mais de uma dúzia de gerentes e entregou uma mensagem decisiva: construam-nos por menos.

Na época, por volta de 2000, as margens de lucro da GM estavam encolhendo devido ao aumento dos custos dos benefícios de trabalhadores e aposentados e sua liderança no mercado americano estava desmoronando. O grande plano da GM para lucrar com carros pequenos, desenvolvendo-os em conjunto com a Fiat, deixava de funcionar.

Como se tornou claro que os Chevrolet Cobalt e os Saturn Ion planejados pela GM não poderiam ser fabricados com um design global econômico, Gary Altman, engenheiro-chefe dos modelos, disse ao grupo que eles precisavam encontrar outras maneiras de reduzir custos, incluindo uma sugestão para recorrer a peças de modelos existentes, disse uma fonte que estava na reunião, realizada no centro técnico da fabricante de carros no subúrbio de Detroit.

Aqueles mesmos Cobalts e Ions estão entre os 1,6 milhão de veículos do recall da GM no mês passado devido a uma falha na chave de ignição que a empresa diz que está por trás de 12 mortes. Investigadores e órgãos reguladores americanos querem saber o que deu errado, quem sabia disso e por que a maior fabricante de carros do país demorou tanto para realizar um recall de modelos fabricados há uma década.

A mensagem de Altman, embora não signifique uma ordem para construir carros inseguros, refletiu o ambiente na GM: os carros eram o produto de uma cultura de corte de custos e aperto das fornecedoras, conforme descrito por cinco pessoas com conhecimento da engenharia, da gestão e dos fornecedores da fabricante de carros na década que antecedeu sua falência, em 2009.

‘Custo China’

A GM também começou a pressionar seu fornecedor e antiga divisão de peças, a Delphi Automotive Plc, a cortar centavos do preço de cada peça para chegar ao que várias das fontes familiares à GM chamaram de “custo China”: preço mais baixo possível, em referência à mão de obra barata chinesa. Se os fornecedores não pudessem se adequar, disseram essas fontes, a GM ameaçaria terceirizar a produção no exterior.


“A situação era caótica dentro da General Motors na época”, disse Maryann Keller, uma analista de automóveis com experiência que escreveu dois livros sobre a empresa. “Era uma empresa sofrendo com a queda das margens e desesperada para reduzir custos. Então, engenheiros e fornecedores de peças estavam sob uma pressão extrema para fazer o que pudessem para eliminar custos”.

A falha fatal na chave de ignição, que a GM agora diz que seus engenheiros descobriram em 2001 enquanto desenvolviam o Ion, provocou a maior crise da fabricante desde sua falência e resgate, em 2009. Depois que a GM começou o recall, em 13 de fevereiro, suas ações caíram até 4,1 por cento, atingindo uma baixa de US$ 34,09 em 13 de março. Desde então, elas se recuperaram e desceram 0,4 por cento a US$ 35,11 as 10hs.04em Nova York.

A nova CEO da GM, Mary Barra, no cargo há dois meses, nesta semana pediu desculpas pessoalmente pelos “trágicos acontecimentos” resultantes das chaves problemáticas. A GM iniciou uma investigação interna e ela irá prestar depoimento perante um comitê do Congresso no dia 1º de abril.

Engenheiros haviam identificado a falha e apresentaram soluções para consertá-la no final de 2004, segundo o cronograma submetido pela GM em 24 de fevereiro à Administração Nacional de Segurança do Tráfego Rodoviário dos EUA, a reguladora de segurança automobilística do país. Contudo, “depois de considerar o tempo exigido de execução, o custo e a efetividade de cada uma dessas soluções”, a GM encerrou a investigação sem tomar nenhuma medida, disse a fabricante.

Embora o preço real da chave de ignição fosse baixo, um recall teria custado “centenas de milhões de dólares” quando consideradas as despesas de reparo e comunicação, acrescentou Keller.

“Eles tinham que ficar olhando tudo na empresa e dizendo ‘este é um custo que nós não podemos enfrentar agora’”, disse Keller. “De qualquer maneira esses carros não estavam dando lucro”.

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