Endividamento é só um dos problemas da Triunfo
Além de estar endividada, a Triunfo é sócia de uma empresa investigada na Lava Jato, entrou na mira do MPF e tem uma importante concessão a vencer em 2017
Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2016 às 11h20.
São Paulo - O inferno astral da Triunfo Participações e Investimentos (TPI) vai além do vencimento de dívidas de curto prazo. Ela é sócia de uma das empresas envolvidas na Operação Lava Jato (a UTC), entrou na mira do Ministério Público Federal por causa de uma obra e tem uma importante concessão de rodovia que vence no ano que vem.
No meio disso tudo, ainda tem de conviver com a crise econômica que afeta a movimentação nas estradas e aeroportos.
"Nossa margem de manobra é limitada. Não posso deixar o nível de serviço piorar por causa da crise (sob pena de ser punido pela agência reguladora) ", afirma o presidente da TPI, Carlo Bottarelli. Mas, segundo ele, com ganho de escala, a empresa conseguiu fazer sinergias em algumas concessões. Isso permitiu reduzir o quadro de funcionários, por exemplo.
Segundo o executivo, o objetivo hoje é "desalavancar" a empresa, ou seja, reduzir o nível de endividamento. Esse processo foi iniciado em 2015 com a venda de duas hidrelétricas para a China Three Gorges Energia Brasil (CTG), por cerca de R$ 2 bilhões.
"A empresa tem uma capacidade de solvência grande porque tem patrimônio e ativos bons que podem ser vendidos", diz o analista da Eleven Financial Research, Adeodato Netto.
Na avaliação de Botarelli, como a capitalização não parece razoável no atual cenário, a venda de ativos deve ser prioritária. Na lista de empreendimentos, está a participação do grupo na empresa de energia Tijoá e até em Viracopos. Há ainda um terreno de 1 milhão de metros quadrado em Santos. O executivo garante que, por ora, não há nenhuma venda em curso ou em estágio avançado.
Concer
Além das renegociações de dívidas, a Triunfo tem outra preocupação imediata. Em meados do mês passado, o Ministério Público Federal entrou na Justiça com uma ação de improbidade administrativa por causa de supostas irregularidades cometidas em obras da nova subida da serra na BR-040, entre as cidades de Juiz de Fora (MG) e Petrópolis (RJ).
Por causa desse pedido, a Concer - empresa do grupo que administra um trecho da rodovia BR-040 - teve bens bloqueados judicialmente por suspeita de superfaturamento nas obras.
"Mas os únicos bens que a concessionária tem são 2 ambulâncias, 1 guincho e veículos leves", destaca Bottarrelli, explicando que o governo está inadimplente com a empresa por causa dessa obra. Em 2013, a empresa assinou um aditivo com o governo para tocar a construção.
"Pegamos uma dívida e tínhamos de pagar com o dinheiro que receberíamos do governo, mas os pagamentos foram suspensos no ano passado. Em maio deste ano, desmobilizamos uma obra de 2.500 pessoas num eixo importante para o País."
Hoje a empresa está renegociando a dívida da Concer com os bancos. A companhia já havia feito quatro de cinco túneis previstos no projeto. "Em algum momento terão de nos pagar por esse serviço, seja por meio de tarifa, prazo ou dinheiro."
Questionado sobre a acusação de superfaturamento, ele explicou que o Tribunal de Contas da União (TCU) reclama de sobrepreço numa pintura antipichação que nem está pronta.
"Esse superfaturamento não existe. Se acham que essa pintura é cara, que encontrem uma alternativa e nos apresente", reclama Bottarelli. A concessão da Concer vence em 2021 e um dos objetivos do governo era renovar a concessão. Mas, diante da situação, a decisão virou uma incógnita.
Antes disso, no entanto, a Triunfo terá outra "perda". A concessão da Concepa, que administra 121 quilômetros nas BRs 290 e 116 no Sul do País, vence em julho de 2017. A concessionária é uma importante geradora de caixa para o grupo. "Essa rodovia deve ser relicitada e vamos disputar. Com sorte, continuaremos com ela."
Por fim, há ainda os problemas envolvendo o Aeroporto de Viracopos, em Campinas, onde o grupo detém 23% de participação. Além de uma multa milionária aplicada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a UTC, envolvida na Lava Jato, deve vender sua participação. Isso sem contar que a própria Triunfo pode ser obrigada a se desfazer do ativo para fazer caixa.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.