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Da Redação
Publicado em 8 de janeiro de 2013 às 12h16.
Uma sucessão de empréstimos de má qualidade concedidos a grandes clientes corporativos foram a razão de o Banco Central (BC) ter decretado a intervenção no Banco Santos na noite desta sexta-feira (12/11). Paulo Sérgio Cavalheiro, diretor de Fiscalização do BC, afirmou que o Santos, controlado pelo banqueiro e mecenas Edemar Cid Ferreira, tem cerca de 700 milhões de reais em empréstimos de difícil recebimento.
"Esse valor zera o patrimônio e o deixa negativo em cerca de 100 milhões de reais, o que impede o banco de continuar operando", disse Cavalheiro durante uma entrevista coletiva concedida na sede do BC em São Paulo, na manhã deste sábado (13/11). O BC ainda estuda se liquidará a instituição ou se é possível recuperá-la ou vendê-la.
O Banco Central detectou irregularidades nos balanços e decidiu congelar depósitos no valor de 1,8 bilhão de reais. Também ficaram indisponíveis os bens do presidente do banco, Edemar Cid Ferreira, e de outros 12 diretores.
Cavalheiro também disse que o Banco Santos já vinha deixando de cumprir suas obrigações com o BC desde meados de outubro: "Eles não recolhiam os depósitos compulsórios sobre os depósitos a prazo. Chegaram a ser multados, pagaram as multas, mas agora o BC entendeu que o banco não tinha condições de continuar trabalhando".
A aceleração do ritmo de resgates por parte dos investidores precipitou a crise. No dia 5 de novembro, pousou sobre a mesa de Carvalheiro, em Brasília, um relatório mostrando que o banco não teria condições de operar. Nesses casos, o regulamento diz que o BC tem de obrigar os donos do banco a injetar mais dinheiro na instituição ou a abrir mão do controle acionário e procurar um sócio que faça isso.
"Como isso não era possível, o BC teve de intervir", disse Carvalheiro. O diretor do BC negou que houvesse qualquer instituição negociando a compra do Santos nos últimos tempos. De adordo com ele, o impacto no mercado será pequeno, pois a exposição do Banco Santos aos demais bancos é pequena em relação ao total de recursos do sistema financeiro.
O Santos é uma instituição financeira que atua principalmente no atacado. Tem cerca de 6 bilhões em ativos, 1,8 nilhão em depósitos e 303 funcionários. Pelo critério de ativos, é o vigésimo-primeiro banco do país.
Costuma captar dinheiro de grandes investidores, como fundos de pensão, seguradoras e empresas com sobra de caixa, e repassá-lo sob a forma de empréstimo para empresas de médio e grande porte. Esses créditos foram mal-concedidos, segundo Cavalheiro. "A administração do banco Santos errou na hora de conceder empréstimos e avaliou mal os riscos", disse.
A intervenção na noite da sexta-feira fará com que o banco interrompa suas atividades. "Quem tem dinheiro aplicado lá não poderá resgatá-lo imediatamente", disse Cavalheiro. Por lei, os investidores estão protegidos até o limite máximo de 20 000 reais para cada pessoa física ou jurídica.
Acima disso, os pagamentos ficam na dependência de o banco sob intervenção receber o dinheiro que emprestou. "Esse é um assunto que deverá ser tratado diretamente com o interventor", disse Cavalheiro.
O funcionário do BC que passou a responder pelo Banco Santos a partir da sexta-feira é Vânio César Aguiar, superintendente de Fiscalização Indireta do BC. Diferentemente de outros interventores de há alguns anos, Aguiar não é um funcionário aposentado do BC. "Ele vai se afastar de suas funções na supervisão enquanto durar a intervenção", disse Cavalheiro.
Depósitos bloqueados
A intervenção no Santos é a primeira em seis anos. Em meados de 1998, o BC fechou as portas de dois bancos de médio porte, o goiano Banco Brasileiro Comercial (BBC) e o paulista Banco Mercantil de Descontos (BMD). O caso do BMD foi o mais sério dos dois em relação a seu impacto no sistema financeiro.
Mais de 20 000 depositantes individuais do banco ficaram com seus depósitos bloqueados, e a intervenção ainda não foi concluída. Quem tinha recursos depositados no BMD não recebeu o que aplicou até agora.
Cavalheiro disse acreditar que a situação do Banco Santos terá um desfecho mais rápido. "É um banco de atacado em que tanto os clientes quanto os depositantes são pessoas jurídicas, por isso há mais espaço para renegociações", disse ele. O diretor do BC explicou que, a partir da terça-feira, quando o mercado reabrir, credores e devedores serão cadastrados e catalogados pelo interventor.
"Todos serão chamados a negociar seus depósitos e empréstimos", disse Cavalheiro. "Se os depositantes concordarem em receber menos do que têm direito e se os credores honrarem ao menos parcialmente os empréstimos problemáticos, é possível que o banco volte e operar."
No entanto, ele descartou a hipótese de soluções a curto prazo. "Não se espera nenhuma decisão antes do prazo regulamentar dado ao interventor", disse Cavalheiro. Aguiar tem 60 dias, prorrogáveis por mais 60, para apresentar suas conclusões sobre o banco.
Crescimento rápido
A intervenção do Banco Central colocou um ponto final na trajetória do Banco Santos, que começou modestamente como uma corretora de câmbio e de mercadorias na cidade paulista de Santos, em 1969. Desde a fundação, sua trajetória se confunde com a de seu acionista controlador, o banqueiro paulista Edemar Cid Ferreira.
O banqueiro, amigo pessoal do ex-presidente José Sarney, viu seu banco crescer rapidamente quando Sarney ocupava a Presidência, na segunda metade dos anos 80, até ser detentor dó trigésimo-quinto patrimônio líquido no sistema financeiro nacional. Ao mesmo tempo que o banco subia nas listagens do BC, Edemar se destacava na função de mecenas.
Como mostrou reportagem de EXAME de abril de 2002, o banqueiro firmou-se como um dos principais patronos das artes no país. Entretanto, o estilo de trabalho de Edemar e as polêmicas em que se envolveu chamam tanta atenção quanto as exposições que realiza. Ele passou a ser o curador da Fundação Bienal de São Paulo entre 1983 e 1987 e, mais recentemente, patrocinou grandes exposições artísticas, como a Mostra do Redescobrimento no ano 2000.