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Empresas brasileiras dão pouco espaço às mulheres no conselho

Executivas estão em 11% dos cargos de alto comando, mas ocupam menos de 8% dos assentos em conselhos de administração

Mulheres ocupam apenas 7,7% dos assentos em conselhos de administração das empresas brasileiras (Stock Exchange)

Mulheres ocupam apenas 7,7% dos assentos em conselhos de administração das empresas brasileiras (Stock Exchange)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de março de 2012 às 18h06.

São Paulo - Se o assunto é a presença feminina no alto escalão das empresas, os números traçam um retrato severo. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), as mulheres ocupam apenas 7,7% das cadeiras dos conselhos de companhias listadas na bolsa. No Novo Mercado, grupo das empresas que compartilham o mais avançado nível de governança e transparência, o percentual desce para 4% - o mais baixo entre todos os segmentos da Bovespa. 

Ana Novaes caminha na contramão destes dados. Doutora em economia em Berkeley, a executiva trabalhava como gestora de renda variável do Pictet Modal Asset Management quando recebeu o convite para entrar no conselho da CCR. Dez anos se passaram desde que ela se tornou a primeira conselheira independente do mercado. Hoje, Ana também assume posições nos conselhos da CPFL Energia e Metalfrio. 

Mas ela sabe que é exceção. "Existem três formas principais de virar conselheiro: sendo um executivo experimentado, um acadêmico reconhecido ou parte da família que controla a empresa", afirma. "Precisamos entender por que a oferta de mulheres ainda é baixa nesses três canais."

Peso do passado

Para Heloísa Bedicks, superintendente geral do IBGC, alguns motivos explicam a rarefeita presença feminina. De um lado, o avanço educacional das mulheres é relativamente recente. “Há 50 anos, éramos criadas para sermos donas de casa”, diz. A opção por ter filhos também faria com que, de maneira geral, mais mulheres interrompessem a carreira – seja por alguns meses ou para se dedicarem permanentemente à família. 

Números do Hay Group corroboram o abismo de gênero no comando das grandes empresas. Dentre os 150 conselheiros brasileiros que compõem a base de dados da consultoria global em RH, apenas 5% são mulheres. Segundo Leonardo Salgado, diretor de remuneração executiva para América Latina, as mulheres abocanham 11% dos cargos de altos executivos. "A presença feminina nos conselhos deveria, no mínimo, refletir essa porcentagem", pondera. 

Ex-ministro da Fazenda e conselheiro de oito companhias, Maílson da Nóbrega acredita que essa é uma questão de tempo. "A atuação de mulheres em postos de comando nas empresas brasileiras é algo muito recente. E os conselhos de administração são normalmente compostos por pessoas mais experientes e maduras", diz. 


Projeto polêmico

No congresso, tramita um projeto de lei que pretende acelerar esse processo. Elaborado pela senadora Maria do Carmo Alves (DEM/SE), ele propõe que as mulheres preencham gradativamente as vagas nos conselhos de estatais. Pelo texto, elas ficariam com 10% dos cargos até 2016. Em 2022, responderiam por 40% da ocupação. O texto aguarda aprovação da Comissão de Assuntos Sociais do senado.

Enquanto o parecer não sai, o assunto segue dividindo opiniões. "A ascensão da mulher no mercado de trabalho tem que ser algo natural", afirma Maílson da Nóbrega. "Ao estabelecer cotas, você cria uma rigidez na gestão das empresas, uma interferência indevida e até uma má vontade com as mulheres."

Conselheira da Cemig, a arquiteta Maria Estela Kubitschek Lopes também defende que a entrada das mulheres não seja instituída por lei. "Cota para mulher não é importante. O importante é que a mulher tenha caminhos para chegar lá por mérito próprio", diz.


Onde tem

O primeiro país a exigir um percentual mínimo para as mulheres nos conselhos de administração foi a Noruega. Em 2003, foi aprovada uma lei estabelecendo que 40% dos assentos dos conselhos fossem destinados a elas. Espanha, Holanda, Bélgica e Itália seguiram passos semelhantes.

Além de regulamentar o assunto, a França também implementou a paridade salarial entre os sexos para que as mulheres não fossem colocadas nos conselhos apenas para cumprir tabela. Mas o caminho não parece ser o único para assegurar a representatividade das mulheres. Apesar de não contarem com políticas semelhantes, países como Finlândia e Suécia exibem um dos maiores percentuais de presença feminina nos conselhos de empresas europeias. 

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