Raíssa Assmann Kist, fundadora e CEO da Herself (Herself/Divulgação)
A história da empreendedora gaúcha Raíssa Assmann Kist é a prova de que repensar o consumo não é algo restrito a grandes empresas e fabricantes de produtos com linhas industriais robustas.
Kist leva consigo uma preocupação socioambiental desde a época da faculdade. Quando era estudante de engenharia química, passou a questionar a forma como alguns itens são produzidos — e oferecidos — aos consumidores finais, desde a sua formulação. “Sempre me questionei se o consumo de descartáveis era realmente algo que não poderia ser mudado”, conta. “Foi quando percebi que aquele era um mercado que não tinha inovação há décadas”.
Essa inquietação logo se conectou também ao desejo de empreender. Foi quando, em 2017, Kist fundou a Herself, marca de biquínis e calcinhas reutilizáveis que propõe uma nova maneira para descarte de absorventes femininos.
O protótipo veio em meados de 2017, logo após a estudante de engenharia química decidir ir ao mercado para buscar informações sobre o interesse de outras mulheres envolvendo produtos que pudessem substituir os tradicionais absorventes descartáveis. “As alergias, assaduras e outros incômodos causados por esses itens, que acompanham as mulheres por décadas, mas principalmente a falta de soluções sustentáveis, era uma dor comum e compartilhada por milhares de mulheres de todo o país”, diz.
O negócio saiu do papel meses depois, após uma rodada de financiamento coletivo de R$ 100 mil envolvendo 800 investidores.
A Herself produz e vende calcinhas reutilizáveis que substituem os absorventes tradicionais. Os itens são laváveis e podem ser usados múltiplas vezes por mulheres em diferentes ciclos menstruais. Em 2018, a marca também lançou seu primeiro biquíni reutilizável, com uma tecnologia voltada para o uso do produto na água.
O biquíni foi criado a partir de uma demanda dos próprios investidores coletivos, diz a fundadora. Hoje eles são carro-chefe da marca, que tem 85% do seu faturamento vindo do e-commerce próprio. O restante da receita é resultado da parceria com lojas físicas com alguma pegada de moda sustentável.
A proposta da Herself é oferecer “dignidade menstrual'' a uma contingente de mais de 60 milhões de mulheres em idade reprodutiva no país.
Fazer com que os ciclos menstruais deixem de ser fator limitante e desconfortável, para empresa, também esbarra na questão da diversidade. “Causar impacto é algo que vai muito além do ambiental. Queremos estar presentes na vida dessas mulheres com produtos diversos, acessíveis e baseados em tecnologia”, diz.
Para isso, a marca oferece um portfólio de 16 tamanhos, do 30 ao 60, de olho em todos os tipos de corpos femininos. Além disso, a Herself também vende biquínis com aberturas laterais, voltadas a pessoas com deficiência (PcD).
A marca desenha todas as modelagens e estampas e conta com matéria-prima 100% nacional. A fábrica fica em Porto Alegre, onde a companhia tem 19 funcionárias, todas mulheres.
Em um projeto com o sistema prisional do Rio Grande do Sul, a convite da Secretaria da Segurança Pública do estado, a Herself incentiva as mulheres em situação de cárcere a fabricarem seus próprios produtos da marca a partir de workshops educativos. “Entendemos que além do impacto ambiental, também era do cerne da empresa olhar para impactos sociais e encontrar maneiras de a tecnologia chegar a mais pessoas, especialmente aquelas que nunca tiveram acesso à absorventes, tampouco escolher o melhor produto para sua realidade”, diz.
Além do Rio Grande do Sul, o projeto também já foi levado a outros três estados: Rondônia, Ceará e Minas Gerais.
Recentemente, a empresa concluiu uma rodada pré-seed com a rede de investidoras anjo Sororitê, dedicada exclusivamente a startups femininas. Sem divulgar o valor captado pela empresa, Kist afirma que o capital será totalmente dedicado ao crescimento da marca e para acelerar os planos de internacionalização — hoje a empresa também está no Uruguai, Colômbia e Chile.
Nessa frente, a intenção da empreendedora é tornar a Herself mais conhecida no mercado e também melhorar o e-commerce, principal canal de vendas atual. “É um recurso que vai para produto, inovação, tração e escala das vendas”.
De olho no potencial dos biquínis menstruais e na chegada do verão, a empresa estima um crescimento de 80% nas vendas nos próximos meses.
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