Em carta, novo presidente do BB explicita alinhamento a Bolsonaro
A carta veio depois da saída de André Brandão, executivo de mercado que veio do HSBC nos EUA para assumir o banco público
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de abril de 2021 às 15h52.
Última atualização em 5 de abril de 2021 às 16h29.
O novo presidente do Banco do Brasil , Fausto de Andrade Ribeiro, enviou nesta segunda-feira, 5, uma mensagem aos funcionários do conglomerado em seu primeiro ato após tomar posse na quinta-feira, 1º de abril. Na carta, obtida pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), ele prometeu "austeridade" nas despesas e sequência à agenda de venda e de reorganização societária de negócios secundários, movimento que já está em curso na instituição. Ao mesmo tempo, tentou mostrar alinhamento ao presidente da República, Jair Bolsonaro, contrário à privatização da instituição.
A carta veio depois de uma polêmica. Na esteira da saída de André Brandão, que era um executivo de mercado e veio do HSBC nos Estados Unidos para assumir o banco público, a escolha de Ribeiro não agradou a membros do conselho do BB.
Na semana passada, o presidente do conselho, Hélio Magalhães, e o conselheiro independente José Guimarães Monforte, devolveram os cargos que ocupavam. Uma das razões para a saída de Brandão foi o anúncio de um forte programa de redução de agências, o que desagradou o presidente da República.
"As circunstâncias [ da substituição ], representadas por restrição inaceitável a atos da administração, emergiram e impedem efetivar medidas que visam realizar avanços na direção de ganhos de eficiência", afirmou Monforte em trecho de sua carta de renúncia. "Acredito também que o processo de sucessão na liderança de empresas, principalmente as de capital aberto, não deve ser feita somente porque se detém o poder para fazê-las."
Alinhamento com Bolsonaro
Mesmo sem citar explicitamente, a leitura foi de que Ribeiro defende o mesmo discurso do presidente Jair Bolsonaro, que é contra a privatização do BB, diz um funcionário, na condição de anonimato. De diferentes maneiras, ele afirmou na carta aos funcionários que o conglomerado, de 212 anos de atuação, é um "patrimônio de todos os brasileiros".
"O Banco do Brasil é de mercado e é do Brasil", afirmou o novo presidente da instituição.
E explicou: "É de mercado, está listado em bolsa, tem de ser lucrativo, competitivo e eficiente ao atender mais de 65 milhões de clientes no Brasil e no exterior; e é do Brasil, porque cada brasileiro é um sócio desse banco, que nos faz ser historicamente compromissados com o desenvolvimento econômico e social do país."
Citando seus colegas de BB, o novo presidente do banco disse que tem o compromisso de conduzi-lo com "retornos adequados" aos acionistas e "atuando de forma integrada e sinérgica com as diretrizes de seu controlador, o governo federal". "É inegociável buscar eficiência, lucros crescentes, rentabilidade compatível com as principais instituições financeiras", prometeu.
Na carta, Ribeiro listou dez itens que chamou de iniciativas estruturantes e nos quais suas gestão focará esforços. Dentre os pontos mencionados, prometeu acelerar a transformação digital e a inovação; compromisso com a austeridade e a eficiência na gestão de despesas; priorizar a cadeia do agronegócio; efetuar alianças e parcerias estratégicas para ampliar competências que permitam a expansão dos resultados do conglomerado; e realizar desinvestimentos e reorganização societária em determinados negócios.
Desafios tecnológicos
Ribeiro afirmou ainda que tem consciência de que o banco "está diante de enormes desafios" e que o ambiente é desafiador, mencionando fintechs e novas tecnologias como Pix, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, e o open banking, que vai permitir o compartilhamento de dados do cliente.
Para ele, as novas tecnologias "exigem novos modelos de negócios em um ambiente financeiro cada vez mais complexo".