Eletrobras: TCU cobra ajuste em processo de venda da estatal
Tribunal sugere reavaliação em preços usados no cálculo do valor para novos contratos
Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de novembro de 2021 às 18h13.
Vista como a principal oportunidade de o governo Bolsonaro repassar uma grande estatal para a iniciativa privada, a privatização da Eletrobras — empresa de geração e transmissão de energia — enfrenta mais um desafio que pode atrasar o processo. Após analisar informações do governo, a área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou o que chama de inconsistências nos dados da operação e apresentou uma série de recomendações ao Ministério de Minas e Energia (MME), principalmente relacionadas aos preços de energia estabelecidos pela pasta — o que pode interferir nos valores que serão pagos à União e nas projeções para amenizar as tarifas nos próximos anos.
Antes esperada para fevereiro de 2022, agora a operação deve ocorrer entre abril e maio, conforme previsão do presidente da empresa, Rodrigo Limp. Trata-se da primeira proposta de privatização aprovada no Congresso durante a gestão de Bolsonaro. Com o aval, o governo deu prosseguimento aos preparativos para emissão de novas ações da empresa, por meio da qual a União pretende reduzir sua fatia na companhia de cerca de 60% para 45%.
O processo no TCU está sob a relatoria do ministro Aroldo Cedraz e não há previsão para desfecho. Apesar disso, o presidente da estatal avalia que o andamento das discussões na Corte está "dentro da normalidade" e diz esperar que o processo seja analisado ainda neste ano. Para isso, a matéria teria de ser submetida ao plenário do Tribunal até 8 de dezembro, data prevista para realização da última sessão deste ano antes do recesso.
Mudanças
O relatório do TCU sugere a reavaliação do preço de energia usado para o cálculo do valor que a Eletrobras pagará pelos novos contratos, por considerá-lo subestimado. Pelas estimativas do governo, a União receberá R$ 23,2 bilhões em bônus de outorga (a taxa que é paga pela exploração do serviço). A empresa ainda terá de pagar R$ 29,8 bilhões para abater parte das contas de luz dos consumidores ao longo de 25 anos.
O TCU aponta que, nas premissas adotadas na modelagem para cálculo do valor da operação, não foram previstos novos estudos para a definição do aproveitamento de usinas hidrelétricas antigas.
Em relação à garantia física das usinas — parâmetro que indica a quantidade máxima de energia que as hidrelétricas podem entregar ao sistema —, o Tribunal indicou que as informações estão desatualizadas. O risco, segundo o documento, é de que as usinas não tenham capacidade de gerar a quantidade de energia prevista com base nos parâmetros atuais, o que afetaria todo o planejamento da operação e a segurança energética do País.