Eles se conheceram na igreja e fizeram um negócio para carregar carros. A Volkswagen virou parceira
A empresa é a única que firmou parceria com a montadora alemã para disponibilizar carregadores aos veículos elétricos da marca
Repórter de Negócios
Publicado em 29 de dezembro de 2023 às 07h32.
Última atualização em 26 de janeiro de 2024 às 15h51.
O jornalista Marcos Nogueira e o engenheiro de computação Júnior Miranda tinham o sonho de empreender. Eles pensavam nisso desde antes de se conhecerem na igreja em que frequentavam em São Paulo. Mas foi quando se conheceram e viraram amigos que a ideia aflorou.
“A gente sempre conversava, batia papo que queríamos empreender”, diz Nogueira. “Um dia, um amigo meu me chamou para um negócio. Eu falei que topava, mas só se o Miranda fosse comigo”.
Foi assim que, em 2011, nasceu o primeiro negócio dos dois, uma empresa de automação. Dois anos depois, em 2013, a arquiteta Jóia Bergamo convida os dois empreendedores a desenvolver uma “casa do futuro” para o CasaCor. É quando a empreitada dos amigos se consolida e surge a AZ Energy.
“Nessa casa do futuro, automatizamos tudo e colocamos energia sustentável”, afirma Miranda. “A casa tinha placa solar, uma torre eólica e o primeiro carregador para veículo elétrico. Isso em uma época ainda que pouco se falava do assunto”.
Dez anos depois, a AZ Energy já não carrega mais esse nome. Em 2021, virou a GreenV, focada totalmente em mobilidade elétrica. A empresa fornece carregadores e desenvolve projetos inteiros de eletrificação para outras companhias.
Por exemplo, se uma empresa varejista quer transformar sua frota logística com veículos elétricos, a GreenV faz todo o planejamento e projeto com carregadores. Ela faz a instalação dos pontos de recarga nas unidades necessárias, monitora se eles estão recebendo toda energia possível e acompanha os “abastecimentos” para ver se está tudo sob medida.
Agora, acaba de firmar uma parceria que vai ajudar no planejamento de crescer 80% no faturamento neste ano. O valor bruto não foi informado. A empresa será a parceira exclusiva de carregadores e pontos de recarga de dois veículos elétricos da Volkswagen. A montadora alemã confirmou a informação à EXAME.
Como vai funcionar a parceira com a Volkswagen
A Volkswagen terá um modelo diferente de comercialização dos veículos elétricos que estão chegando no Brasil, os SUV ID.4 e ID Buzz. No lugar de vendê-los, a empresa vai alugar os veículos por um período de 24 meses.
A GreenV entra no projeto oferecendo, justamente, o aluguel dos pontos de recarga. A opção de locar será opcional, mas a única empresa a qual a Volkswagen recomendará o serviço é a dos empresários que se conheceram na igreja.
“Serão dois contratos”, diz Miranda. “Quando ele assina o carro, faz o contrato com a Volkswagen. Ela sugere os pontos de recarga da GreenV. O cliente vem para nós e fazemos um segundo contrato. Se ele fica conosco pelos 24 meses, ao final do período de locação, o carregador e ponto de recarga é dele”.
Se o contrato é firmado, a equipe da GreenV instala um ponto de recarga na casa do cliente. Antes, é feita uma visita técnica, com avaliação para garantir que está dentro das normas e padrões de segurança. Depois, é feita a instalação. Os produtos da GreenV são importados.
O aluguel é de 599 reais mensais.
Qual é a aposta da GreenV
A empresa tem apostado, nos últimos anos, na mobilidade elétrica. Veículos movidos à energia elétrica têm se popularizado fora do país, e a tendência de mercado é que o setor cresça por aqui também, superando algumas barreiras, como o preço e a infraestrutura de recarga.
A estimativa da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) foi de que quase 50 mil carros e comerciais leves elétricos e híbridos foram emplacados em 2022. O valor representou uma alta de 41% sobre 2021.
O número deve aumentar ao passo que as montadoras começam a apostar neste setor. Além dos anúncios da Volkswagen, outras empresas estão investindo forte na eletrificação de suas frotas. A BYD da China, por exemplo, lançou no Brasil uma versão de carro elétrico popular. O preço ainda é elevado comparado ao de outros modelos. Custa 149.800 reais. Mas já é mais em conta que outras opções da marca, que não baixavam dos 269.000 reais.
Foi identificando essas oportunidades já há alguns anos que a GreenV tenta se consolidar no mercado. Em 2021, recebeu um aporte importante, de 22 milhões de reais de um fundo americano. O valor ajudou a empresa a quadruplicar o número de funcionários, indo de 30 para 120. Também estão presentes em 3.000 pontos de recarga no país.
Como um jornalista e um engenheiro montaram esse negócio
Antes das histórias de Marcos e Júnior se cruzarem na igreja, ambos já tinham uma certeza: gostavam de tecnologia.
“Desde pequeno, eu tinha muitos produtos ligados à tecnologia”, diz Nogueira. “Tinha todos os vídeo games. Atari, MegaSystem. Sempre fui muito ligado nisso. Quando comecei a trabalhar, aos 18 anos, entrei em uma multinacional que estava fazendo a migração de sua tecnologia. Trabalhei lá até a empresa exigir um diploma. Foi quando eu pensei em fazer jornalismo”.
No jornalismo, ele já se aprofundou nos estudos sobre empreendedorismo. E foi pouco depois que conheceu Miranda, que também era aficionado por tecnologia e já tinha feito a faculdade de engenharia da computação.
“E além de tudo, gostamos da questão da sustentabilidade”, diz Miranda. “A gente tem a possibilidade de transformar a sociedade e fazer um país limpo. É uma questão muito forte. Lá atrás a gente olhou essa oportunidade. Coincidiu em colocar energia em um momento certo”.
Quais são os próximos passos
Além de consolidar a parceria com a Volkswagen e com outras empresas, a GreenV se prepara para começar a expansão para a América Latina.
Além disso, a aposta pelo crescimento de 80% no faturamento se baseia no avanço da comercialização dos produtos que foram lançados no ano passado.
Esta reportagem foi publicada em 29 de julho de 2023. Leia aqui o conteúdo original.