Negócios

Eles ganhavam R$ 600 como designers. Hoje, faturam R$ 1,4 bilhão no maior delivery do interior

Empresa decidiu crescer pelo modelo de microfranquias, em que empresários de cada cidade administram o delivery

Steph Gomides e Igor Remigio, da Aiqfome: “Percebemos que para crescer no interior do Brasil, precisávamos de pessoas locais que entendessem a realidade das cidades menores” (Aiqfome/Divulgação)

Steph Gomides e Igor Remigio, da Aiqfome: “Percebemos que para crescer no interior do Brasil, precisávamos de pessoas locais que entendessem a realidade das cidades menores” (Aiqfome/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 19 de outubro de 2024 às 08h08.

No começo dos anos 2000, Steph Gomides e Igor Remigio, hoje fundadores da Aiqfome, estavam longe de imaginar que seus serviços de design gráfico em Maringá, cidade paranaense a 426 quilômetros de Curitiba, seriam o embrião do maior aplicativo de delivery do interior do Brasil. 

Na época, eles ganhavam 600 reais por mês, e a maior parte de seu trabalho consistia em fazer cardápios para restaurantes locais. O telefone, até então, era o principal meio de contato entre os restaurantes e seus clientes, mas as falhas na comunicação despertaram uma inquietação no casal.

“Era comum ligarmos para pedir comida e o telefone estar ocupado ou o pedido sair errado”, diz Steph. “ Pensamos: ‘Deve haver uma forma mais fácil de pedir comida”. 

A ideia ficou latente até 2007, quando eles decidiram transformar a frustração em oportunidade, criando uma plataforma online de pedidos de delivery.

Era o início do Aiqfome, uma das principais plataformas de delivery nas pequenas cidades, com um faturamento de 1,4 bilhão de reais. O crescimento da empresa foi acelerado após a aquisição pelo Grupo Magalu em 2020, consolidando sua posição como uma das maiores plataformas de entrega do país.

A história da Aiqfome: de R$ 600 a R$ 1,4 bilhão

A trajetória da Aiqfome começa de maneira humilde, com Steph e Igor conciliando trabalhos de freelancers em design gráfico com a ideia de criar algo inovador.

“Naquela época, eu já atendia muitos restaurantes fazendo cardápios e identidades visuais. Quando percebemos que os pedidos telefônicos não davam conta, pensamos em criar uma plataforma digital para facilitar a vida dos restaurantes e clientes”, afirma Steph.

A primeira versão do aiqfome  foi criada em 2007. 

“A internet no Brasil ainda era discada, e muitos restaurantes não tinham computador. Mas nós acreditávamos que a digitalização chegaria rápido, então começamos a oferecer o site como um ‘guia gastronômico’, onde as pessoas podiam ver os cardápios online”, diz Igor.

Nos primeiros anos, o negócio caminhou devagar. 

“Tínhamos que convencer os donos dos restaurantes de que aquilo ia funcionar, mas eles eram descrentes. Muitos achavam que a internet era uma moda passageira”, diz Igor

A dificuldade tecnológica da época também pesava. “Para o restaurante ficar online, ele precisava desconectar o telefone da linha. Era um desafio”, afirma Steph.

Mesmo com a baixa adesão inicial, o casal persistiu. Em 2011, com a popularização da internet banda larga, eles conseguiram virar a chave do negócio e passar a oferecer pedidos online diretamente pela plataforma

“No começo, não tínhamos nem sistema para receber os pedidos direito. Era tudo feito no improviso. O restaurante recebia os pedidos por e-mail e organizava as entregas manualmente”, diz Igor.

O ponto de virada aconteceu em 2012, quando eles criaram um modelo de microfranquias para expandir o serviço. 

“Percebemos que para crescer no interior do Brasil, precisávamos de pessoas locais que entendessem a realidade das cidades menores”, afirma. “Foi aí que criamos o sistema de licenciamento, onde os franqueados cuidavam das operações em suas regiões”.

A Aiqfome logo começou a ganhar tração. Em 2014, veio a versão mobile da plataforma, e no ano seguinte, eles já registravam 75.000 pedidos. Até 2019, a empresa estava presente em 320 cidades de 22 estados, com 5 milhões de reais em pedidos mensais. Mesmo com o sucesso, o casal recusou três ofertas de compra de seu maior concorrente entre 2013 e 2018. 

“Recusamos porque nossos objetivos eram diferentes. Queríamos construir algo sustentável, sem pressionar tanto os parceiros”, diz Igor.

apor

O modelo de expansão da Aiqfome: foco no interior e microfranquias

Uma das grandes inovações da Aiqfome foi o modelo de expansão baseado em licenciamento local. Enquanto outras plataformas, como o iFood, focaram nas grandes capitais, a Aiqfome se consolidou no interior do Brasil, com a ajuda de parceiros locais que atuavam como “embaixadores” da marca. 

“Decidimos que as pequenas cidades tinham mais a ver com o nosso perfil”, afirma Igor. “É um mercado mais familiar, e ninguém conhece melhor as necessidades de um restaurante local do que um empreendedor que mora na cidade”, afirma Igor.

Esse modelo deu tão certo que a Aiqfome se tornou a plataforma de delivery mais utilizada em várias cidades do interior, muitas vezes superando a presença de grandes players do setor. 

“Foi uma escolha estratégica. Fomos aos poucos, cidade por cidade, sempre com alguém local à frente do negócio. É um relacionamento próximo, diferente do que as grandes plataformas conseguem fazer”, afirma Steph.

Outro diferencial da Aiqfome é a política de taxas para os restaurantes. “Nossa proposta sempre foi criar um modelo ganha-ganha. Enquanto outras plataformas cobram até 30% de comissão, nossa taxa é muito mais baixa, porque acreditamos que todo mundo precisa lucrar para o negócio ser sustentável”, diz Igor.

Desafios e a competição com grandes players

Mesmo consolidada no interior do Brasil, a Aiqfome enfrenta grandes desafios. O maior deles é a concorrência com gigantes como iFood e Rappi, que também têm investido em cidades menores. 

“Competir com essas empresas não é fácil, porque elas têm muito capital para investir em expansão. Mas o nosso diferencial é o relacionamento. Nós conhecemos o pequeno empresário e estamos próximos dele”.

Além disso, a logística nas cidades do interior é um obstáculo constante.

“Muitas vezes, o CEP cobre áreas muito grandes, e a logística se torna complicada. Mas como conhecemos bem as cidades, conseguimos adaptar nosso modelo para superar essas dificuldades”, diz Steph.

Outro desafio é manter a rentabilidade. “O mercado de delivery tem margens muito apertadas. Muitas empresas queimam caixa para ganhar mercado, mas nós sempre fomos lucrativos desde o primeiro dia. Nunca tivemos um investidor, então tivemos que fazer tudo com o que ganhávamos”, diz Igor.

A parceria com o Magalu e o crescimento durante a pandemia

Em 2020, a Aiqfome deu um grande salto quando foi adquirida pelo Grupo Magalu. A parceria ajudou a empresa a dobrar de tamanho em meio à pandemia, que aumentou a demanda por serviços de entrega. 

“Com a pandemia, vimos o mercado crescer 187%. Foi um momento crucial para a nossa expansão, e o apoio do Magalu foi fundamental”, diz Steph.

A partir de 2020, a Aiqfome também começou a expandir seus serviços para além do delivery de comida, oferecendo entregas de farmácias, supermercados e pet shops

“A ideia é continuar crescendo nessas outras categorias, que já representam 7% do nosso faturamento. O foco continua sendo comida, mas vemos um grande potencial em outros mercados”.

Hoje, a Aiqfome está presente em 700 cidades, com mais de 25.000 restaurantes cadastrados e R$ 1,4 bilhão em faturamento anual

Acompanhe tudo sobre:DeliveryStartups

Mais de Negócios

Empresa de SC cresce seis vezes com fundo e é revendida à família fundadora

Superlógica lança plataforma que agiliza o trabalho de imobiliárias e corretores

Queridinha dos contadores, IOB investe R$ 220 milhões para dar a volta por cima

NotCo desiste dos congelados no Brasil e aposta nas bebidas proteicas para competir com YoPro