Eldorado tem recorde de produção, mas preços pressionam lucro
A companhia teve lucro líquido de 11 milhões de reais no período, ante resultado positivo um ano antes de 334 milhões
Reuters
Publicado em 20 de outubro de 2016 às 22h23.
São Paulo - A Eldorado Brasil teve forte queda no lucro do terceiro trimestre, apesar de um recorde de produção no período, pressionada pela queda nos preços da celulose em dólares, combinada com a valorização do real.
A companhia, uma das maiores produtoras brasileiras de celulose e primeira do setor a divulgar balanço trimestral, teve lucro líquido de 11 milhões de reais no período, ante resultado positivo um ano antes de 334 milhões.
A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de 324 milhões de reais, queda de cerca de 43 por cento na comparação anual. A margem recuou de 62 para 50 por cento.
"Todo o impacto negativo no Ebitda e lucro veio basicamente do impacto de preços menores (da celulose) em dólares e valorização do real (sobre o mesmo período de 2015)", afirmou o presidente-executivo da Eldorado, José Carlos Grubisich.
Ele acrescentou que de julho a setembro os dois efeitos produziram uma queda de preço na celulose em reais de 30 por cento sobre o terceiro trimestre de 2015.
Segundo o executivo, apesar da queda no Ebitda, a empresamantém tendência de melhora da rentabilidade diante do encurtamento do raio de oferta de madeira, conforme usa cada vez mais madeira plantada a menos de 100 quilômetros da fábrica instalada em Três Lagoas (MS).
Esse ganho de produtividade deve seguir até 2018, disse Grubisich acrescentando que o custo-caixa de madeira vai cair de 90 a 100 reais por tonelada até 2018.
A produção do trimestre somou 432 mil toneladas de celulose, alta de 6 por cento sobre um ano anos. O volume de vendas foi de 409 mil toneladas, praticamente estável na mesma comparação, mas a receita líquida recuou 28 por cento, a 652 milhões de reais.
Preços
Grubisich afirmou que a Eldorado Celulose acompanhou o aumento de 20 dólares anunciado pela rival Fibria no final de setembro para a tonelada do insumo vendida para a Ásia. Mas ele comentou que as negociações com os principais clientes só devem ser concluídas na próxima semana.
"Só na semana que vem vamos ver em que patamar o mercado se equilibra", disse o executivo.
Ele afirmou que os estoques de celulose na Ásia estão baixos, mas eventuais novos reajustes nos preços podem ocorrer dependendo da entrada em operação da fábrica de 2,5 milhões de toneladas de capacidade na Indonésia que está sendo erguida pela Asia Pulp and Paper (APP).
"Se a fábrica entrar em operação no começo de 2017, isso vai pressionar o mercado e não devemos ver aumentos adicionais (de preços)", disse ele.
"Se o projeto da APP entrar em operação só segundo trimestre, aí o estoque vai ficar baixo e existirá possibilidade de outro aumento", acrescentou.
Em 2017, a Fibria deve iniciar a operação de nova linha de produção de celulose em Três Lagoas, um projeto de cerca de 2 milhões de toneladas. A expectativa da empresa para o início da operação da linha é o quarto trimestre.
Finanças
A Eldorado terminou o terceiro trimestre com caixa de 1,6 bilhão de reais e a relação de dívida líquida sobre Ebitda subiu de 3,7 vezes no final de junho para 4,2 vezes, mas ficou abaixo do nível de 5 vezes do fim de setembro de 2015.
Grubisich evitou estimativa para endividamento, mas afirmou que a tendência é de queda, conforme a empresa vai reduzindo custos de madeira e gerando caixa para redução de dívida.
A Eldorado prepara um aumento de capital de 3,5 bilhões de reais. Os recursos serão usados na construção de nova linha de celulose.
A empresa negocia recursos com o Fundo do Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO), BNDES, FI-FGTS e agências de crédito internacionais.
O executivo estima que o escritório de advocacia Veirano e a Ernst & Young, contratados pela companhia, devem concluir em dezembro uma investigação interna dos contratos com o FI-FGTS, disparada após a operação Sépsis da Polícia Federal, que cumpriu mandados busca na empresa em julho.
Ele comentou que a operação da PF criou perturbação inicial nas negociações de financiamento da empresa, mas que atualmente "a relação com os bancos continua normal".
A operação também teve repercussões nos planos de oferta inicial de ações (IPO) da empresa, que agora espera pelo resultado da investigação interna antes de retomar os preparativos para a operação.
"Enquanto não houver a conclusão da investigação para deixar as questões claras, seria imprudente colocar uma operação no mercado", disse Grubisich, citando ainda o cenário de preços pressionados da celulose.