Negócios

“É fundamental que as empresas continuem operando no RS”, diz presidente da Tramontina

Eduardo Scomazzon, à frente da tradicional indústria gaúcha, faz um balanço das ações da empresa e do tamanho dos desafios que se impõem ao Rio Grande do Sul

Eduardo Scomazzon, da Tramontina: "É fundamental que as empresas, sejam elas de pequeno, médio ou grande porte, tenham apoio e condições de seguir operando para que possam manter o emprego e renda das pessoas"

Eduardo Scomazzon, da Tramontina: "É fundamental que as empresas, sejam elas de pequeno, médio ou grande porte, tenham apoio e condições de seguir operando para que possam manter o emprego e renda das pessoas"

Lucas Amorim
Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 16 de maio de 2024 às 11h01.

Última atualização em 16 de maio de 2024 às 18h08.

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Fundada em 1911, a fabricante de itens para casa Tramontina operou em tempos de guerra e enfrentou todo tipo de desafio. As enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul nas últimas semanas são mais uma prova de resistência para a empresa e para os empreendedores gaúchos. Com mais de 22 mil tipos de produtos, a Tramontina tem sete fábricas no estado, além de unidades industriais em Belém (PA) e Recife (PE). Nos últimos dias, concedeu férias coletivas a 4 mil de seus 10 mil funcionários, e paralisou duas fábricas no Rio Grande do Sul como consequência das chuvas.

O impacto de longo prazo segue imprevisível. Nas próximas semanas e meses, o amplo portfólio da empresa vai ser afetado pelos desdobramentos da tragédia, seja em vendas diretas ao consumidor, seja na relação com milhares de pontos de venda. Herdeiro dos fundadores da empresa e há 50 anos no negócio, o atual presidente do conselho de administração, Eduardo Scomazzon, falou à EXAME sobre as ações emergenciais de curto prazo e sobre a necessidade de manter a atividade econômica no estado.

Quais foram as prioridades nos últimos dias com os negócios, os funcionários, a comunidade?

A Tramontina está unida aos movimentos de solidariedade de todo o Brasil para ajudar as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Estamos atuando em diferentes frentes, articulando doações para auxiliar nas demandas mais urgentes da população, adotando medidas capazes de manter os colaboradores impactados em segurança e colaborando com o restabelecimento das comunidades afetadas. E seguiremos atuantes, realizando novos esforços conforme as necessidades.

Até agora, já auxiliamos com 65 toneladas de donativos, que foram direcionados para o Banco de Alimentos de Porto Alegre e Centro Regional de Doações de Garibaldi, 130 mil litros de água, distribuídos também no Banco de Alimentos e no Hospital Santa Casa de Misericórdia. Contribuímos com mais de 40 mil ferramentas para auxílio na limpeza das regiões afetadas, e móveis plásticos para os pontos de acolhimento e abrigo de desalojados. Além disso, unidades da Tramontina em todo o território nacional se mobilizaram para a logística de doações para o estado.

Estas são algumas das ações. Entendemos que vivemos um momento bem delicado, que exige união, solidariedade e empatia com todo povo gaúcho. Temos pessoas que perderam seus entes queridos, desabrigadas, estradas destruídas e negócios atingidos. Ainda é cedo para falar de todos os desafios, pois essa tragédia está na etapa inicial. Por isso, estamos analisando um dia de cada vez, ajudando a população de acordo com suas necessidades urgentes e imediatas e já tentando prever como poderemos atuar no momento de reconstrução, quando a água começar a baixar. Infelizmente, ainda não sabemos quando chegaremos a esta nova etapa, por isso é importante seguirmos unidos e atentos.

Qual o papel de um empresário em um momento como esse?

Os empresários têm uma missão fundamental na mobilização de recursos para atender às enormes demandas desta tragédia. Ao mesmo tempo, é preciso resiliência para manter a operação das nossas empresas e atenção às necessidades dos funcionários e comunidades. É indispensável manter a agilidade para superar dificuldades que surgem a todo momento.

A visão de negócios como parte de uma sociedade e um mundo mais amplos estão na base da Tramontina. Como isso se desdobra e se intensifica agora para?

A Tramontina tem em sua essência o propósito de “Crescer para transformar vidas. Criar laços para evoluirmos juntos”. As pessoas estão no centro do nosso negócio e, por isso, atuamos com um compromisso inabalável com a excelência. Esta abordagem se desdobra em diversas frentes e se intensifica em momentos de desafios, como a tragédia que enfrentamos hoje no Rio Grande do Sul.  Estamos solidários com o povo gaúcho, mas atuantes, confiantes e comprometidos com a recuperação do estado.

Como olhar pra frente? Que lições podem ser tiradas deste momento e que possam ser bases para um reconhecimento, tanto para empresas com dificuldade, quanto para o Estado?

Uma tragédia desta magnitude deixa muitas lições. Agora é necessário um imenso esforço de todo o país para a recuperação desse estado. É uma tarefa que não pode ser suportada apenas pelo RS.

Na sequência, são necessários grandes investimentos em obras e ações que garantam que tragédias como esta não voltem a se repetir.

A Tramontina é uma multinacional nascida no RS. Como turbinar a ambição econômica, social e ambiental do estado a partir dessa tragédia?

Somos uma empresa gaúcha e temos muito orgulho desta origem. O Rio Grande do Sul é berço de importantes companhias, com um povo forte e grande capacidade empreendedora. Esta tragédia vem demonstrando que a união, a solidariedade e a manutenção da atividade econômica serão essenciais para a recuperação do nosso Estado e das comunidades mais afetadas.

É fundamental que as empresas, sejam elas de pequeno, médio ou grande porte, tenham apoio e condições de seguir operando para que possam manter o emprego e renda das pessoas. Isso é crucial nessa fase de recuperação que estamos iniciando agora.

Negócios em Luta

A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolam o estado desde o fim de abril.

São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente.

Tem uma história? Mande para negociosemluta@exame.com. 

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