"E-commerce não segura a companhia", diz presidente da C&A
Segundo Paulo Correa, as margens do online são um pouco menores em razão do espírito promocional mais agressivo do segmento
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de maio de 2020 às 13h11.
"Chegaremos em dezembro com toda a operação física funcionando. Acho pouco provável que seja com a força que estávamos em março (antes da pandemia), mas acredito que estaremos poderosíssimos em todos os canais de venda." Essa é a leitura do presidente da C&A , Paulo Correa. Para ele, o problema não é o dia em que as lojas vão reabrir, mas quando as pessoas vão se sentir seguras para voltar a frequentar esses espaços. "O pior de tudo é a falta de coordenação entre as esferas federal, estadual e municipal. Poderia ser muito mais coordenado e, em tese, deveria trazer resultados melhores do que os que vimos até agora. Essa descoordenação faz o nosso ciclo ser mais longo do que o de outros países. Isso é lamentável." Confira principais trechos da entrevista.
O plano de investimentos do grupo foi alterado?
O digital já estava no nosso programa, mas imaginávamos que chegaríamos a uma parcela do faturamento de dois dígitos em três anos. Isso aconteceu em três semanas. A aceleração foi forte, mas porque havíamos preparado várias coisas. Já tínhamos o "ship from store" (vendas de produtos de lojas físicas feitas pela internet) em 80 lojas. Aos poucos, fomos reabrindo essas lojas no formato "dark" (quando a loja é fechada ao público, mas funciona como um centro de distribuição). Assim, esse formato, que representava 5% do e-commerce, hoje é de 55%. Tínhamos vários projetos de lojas físicas engatilhados que não pudemos tocar. Esses gastos devem escorregar para o ano que vem, o que liberou investimentos. As reformas de lojas também foram postergadas. Tudo isso permitiu acelerar projetos de online. Nosso investimento nessa área vai ser duas vezes e meia, quase três vezes o que era planejado no início do ano. Ninguém imaginava que cresceríamos tanto. Tivemos picos de 800% de crescimento de vendas. Nem na Black Friday foi assim. Desde o dia 15 de março, todo dia é Black Friday.
As margens de lucro não são menores no e-commerce?
As margens do online são um pouco menores em razão do espírito promocional mais agressivo do segmento. Mas a diferença não é tão grande assim.
Como a C&A vai chegar ao fim do ano?
Vamos chegar em dezembro com toda a operação física funcionando. Acho pouco provável que seja com a força que estávamos em março (antes da pandemia), mas acredito que estaremos poderosíssimos em todos os canais de venda. Como nunca poderíamos ter imaginado quando tudo isso começou.
Quais desafios a crise impôs?
Até a crise estávamos vindo com crescimento de dois dígitos. Em 48 horas, nos vimos obrigados a fechar as lojas. A participação do e-commerce nas vendas antes da pandemia era de 3%. Quando o fechamento das lojas aconteceu, o faturamento despencou para o tamanho que o e-commerce tinha. Ter faturamento zero por duas semanas, desmonta o plano de resultados. Montamos um comitê de crise e o primeiro mandato dele era a situação de caixa. Já tínhamos uma operação de crédito em fase final, que foi fechada com uma taxa (de juros) pré-covid. Depois, fechamos outra de mais R$ 350 milhões (com juros mais alto). Nossa sustentação ficou garantida. Trabalhávamos com o cenário de que nenhuma loja abriria até o fim de junho.
Como foi a busca por crédito?
Dizer que as medidas do governo facilitaram o crédito para os empresários, na prática, não é o que acontece. Nossa capacidade e histórico de pagamento tornaram a oferta de crédito mais aberta e disponível que a média. Sei que essa não é a realidade do mercado. Se o negócio é uma empresa de pequeno porte, é mais difícil.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.