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Dos dois lados do muro

A estratégia social do Janssen-Cilag busca a qualidade de vida na comunidade e no próprio negócio

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Para um grupo de pacientes do Hospital Psiquiátrico Pinel, localizado no bairro de Santana, zona norte de São Paulo, as sessões de terapia ocupacional são mais do que parte do tratamento usual. São momentos em que eles podem transformar sensações, medos, sentimentos em arte. Portadores de deficiências como psicose aguda e neurose grave, eles passaram a apresentar suas telas e poesias a um grupo especial de críticos: artistas plásticos como Aldemir Martins, Cláudio Tozzi e Sérgio Longo, o crítico de arte Jacob Klintowitz, escritores e poetas como Arnaldo Antunes, Mário Prata e Lêda Beatriz Abreu Spinardi.

Todos eles são jurados voluntários do programa Arte de Viver, desenvolvido pela subsidiária brasileira do laboratório Janssen-Cilag, localizada em São José dos Campos, no interior de São Paulo. Seu foco é valorizar e reintegrar à sociedade pacientes com transtornos psiquiátricos. A missão dos jurados é analisar, dentro de parâmetros técnicos e estéticos, mais de 3 mil obras de arte e poesias. Desse total, 50 são selecionados para fazer parte de exposições e de uma publicação. O projeto tem se mostrado uma terapia eficiente no tratamento dos pacientes. Os que participam dos trabalhos ficam menos ansiosos e irritados , diz Regina Célia Grazella Spera, terapeuta do Pinel. Concursos como esse têm uma importância enorme, pelo incentivo que apresentam para a reestruturação e a reintegração social das pessoas que vivem essa realidade apartada , diz o poeta e ex-titã Arnaldo Antunes.

Parte do grupo Johnson & Johnson, o Janssen-Cilag destina, todos os anos, 1% de seu faturamento a ações de cidadania como essa. Em 2002, suas vendas no Brasil atingiram 388,9 milhões de reais. Apenas no Arte de Viver foram investidos 500 mil reais. A responsabilidade social tem caráter estratégico na nossa organização , diz Jorge Mendonça Romaneiro, presidente da subsidiária brasileira do Janssen-Cilag, dona de marcas como Tylenol, Reminyl e Eprex. Faço questão de estar à frente de todos os projetos desenvolvidos por nós.

O maior deles é o Criança Saudável, Futuro Saudável, cujo foco é o combate à verminose e à anemia infantil em regiões brasileiras carentes de infra-estrutura de saneamento básico. Realizado em parceria com a ONG Inmed Serviços Médicos Internacionais para a Saúde, o programa consumiu investimentos de 1,5 milhão de reais neste ano. Boa parte disso foi destinada à doação de medicamentos e ao fornecimento de material educativo. No total, mais de 500 mil crianças já foram atendidas em todo o país. A matriz está tão empolgada com os resultados do programa que resolveu instituí-lo em outros países , diz Romaneiro. Ele já está indo, por exemplo, para o México.

Além da área de saúde, a estratégia de atuação social do Janssen-Cilag se estende para ações de meio ambiente. A empresa é parceira da The Nature Conservancy, organização internacional, na recuperação de uma região de mangue originário da Mata Atlântica, em Guaraqueçaba, Paraná. Área de preservação ambiental e último reduto do papagaio-do-bico-roxo, a região estava sendo devastada pela população ribeirinha, composta de cerca de 9 mil habitantes. Treinamos os habitantes para sobreviver da floresta, em vez de destruí-la , diz José Nilton Rodrigues, gerente de assuntos ambientais, higiene industrial e segurança em vendas. Hoje eles conseguem obter recursos, por exemplo, da cultura controlada de ostras.

O relacionamento com funcionários e seus familiares é outro ponto forte das ações corporativas da empresa. Tentamos praticar uma política que supere o assistencialismo tradicional , diz Juarez F. Pereira Júnior, diretor corporativo e jurídico da empresa. Como resultado, temos um índice anual de demissões que fica abaixo de 1%. O programa de participação nos lucros é estendido a todos. Graças a ele, os operários levaram para casa, no final do ano passado, entre 1 e 1,5 salário de bonificação.

Filhos de funcionários, com idades entre 14 e 17 anos, podem se candidatar a uma vaga no programa anual de intercâmbio de estudantes para Argentina, Itália, Suíça, Suécia, Nova Zelândia e Estados Unidos. Carregam dinheiro só para despesas pessoais. Funcionários dependentes de álcool ou outras drogas são assistidos pelo Programa de Assistência ao Empregado (PAE). A empresa assume o custo integral da internação e oferece tratamento ambulatorial. Entre 3% e 4% do quadro da Janssen-Cilag composto de um total de 950 pessoas é portador de algum tipo de deficiência física.

Promover esse conjunto de ações voltadas para dentro e para fora dos muros da companhia é parte dos princípios corporativos da Janssen-Cilag. Nele há orientações sobre temas como a conduta em relação ao governo, à comunidade, aos funcionários e ao mercado. Uma pesquisa com 209 questões, coordenada pela matriz americana, é feita uma vez a cada dois anos com os funcionários de todas as subsidiárias. O objetivo é checar se os valores corporativos estão sendo respeitados. Os princípios são validados por todos os funcionários, do chão de fábrica até o presidente. Compilado por uma empresa independente, o resultado da pesquisa é avaliado. Se a empresa fizer bem a lição de casa, a matriz orienta para que sejam feitas as correções. Pelo menos por enquanto, a Janssen-Cilag do Brasil provou ser uma aluna exemplar.

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