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Dona da barrinha Nutry quer ampliar mercado com novas linhas

A Nutrimental está se estruturando para disputar o mercado de biscoitos, granolas, cereais matinais com gigantes como Nestlé e Pepsico


	Barrinhas Nutry: a pesquisa na área de nutrição está no DNA da empresa
 (Divulgação/Nutry/Facebook)

Barrinhas Nutry: a pesquisa na área de nutrição está no DNA da empresa (Divulgação/Nutry/Facebook)

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Da Redação

Publicado em 20 de outubro de 2014 às 08h21.

Curitiba - Se a paranaense Nutrimental fosse instada a fazer uma galeria das pessoas que marcaram sua trajetória, entre fundadores, executivos e pesquisadores, um velejador teria lugar de destaque. Foi um pedido feito em 1984 pelo navegador Amyr Klink, famoso por ter feito viagens como da Antártica ao Ártico, que levou a empresa de alimentos a desenvolver a primeira barrinha de cereal do Brasil: a Nutry.

O esportista estava em busca de alternativas de alimentos leves, saudáveis e compactos, capazes de o sustentar no mar durante mais de 100 dias.

"Era um desafio para nossos nutricionistas encontrar soluções que correspondessem à dieta de um atleta. Era como fazer uma dieta para astronautas, mas com restrições de custo", lembra Rodrigo Rocha Loures, um dos fundadores da empresa, em 1968, ao lado do sócio Arthur Leme.

A pesquisa na área de nutrição está no DNA da empresa. A Nutrimental nasceu dentro da UFPR, fruto de uma parceria entre os departamentos de Engenharia Química e Administração da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

"Havia um excesso de safra de batatas na região. Decidimos produzir purê de batata instantâneo para aproveitar o produto e fazer estoque para entressafra", conta Loures, que era professor de Administração da UFPR na época.

A fábrica foi criada em uma antiga fazenda em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Inicialmente, era um galpão de 200 metros quadrados (m²)- que ainda está lá -, mas hoje é parte de uma fábrica de 25,6 mil m², ao lado de uma avenida movimentada no caminho entre o aeroporto e o centro de Curitiba.

"Quando começamos a operar, os equipamentos não funcionavam e não deu para fazer purê instantâneo", lembra Loures.

Para não perder o investimento, a Nutrimental começou a pesquisar o que era possível fazer com aqueles equipamentos e adaptou a tecnologia. A solução foi desenvolver outros alimentos processados, como sopa de feijão, focados no combate à má nutrição infantil.

Com esse enfoque, a Nutrimental se tornou fornecedora de merendas para escolas públicas em todo o Brasil, filão que foi seu principal negócio até 1994.

Naquele ano, o governo cancelou o programa de compra de merenda escolar unificado. "A venda de alimentos para o governo era 70% do nosso negócio e quase 100% do resultado. A empresa quase quebrou", lembra Loures.

A salvação da Nutrimental veio da barrinha de cereal, que, naquele momento, era um produto de nicho. A primeira barrinha foi criada pelo filho de Loures, Rodrigo Santos da Rocha Loures, em meio a uma tentativa de lançar um alimento "sustentável", usando castanhas da Amazônia, durante a Eco-92.

A tecnologia para fazer a barrinha veio de uma evolução das pesquisas feitas para fazer a merenda seca que Amyr Klink consumiu nas suas viagens pelo mar.

Na sua primeira versão, a barra de cereal se chamava Chonk e era uma "guloseima saudável infantil", competindo com chocolates. O produto não pegou e foi relançado um ano depois com foco em atletas e com a marca Nutry.

Hoje as barrinhas respondem por 55% do negócio da Nutrimental, que faturou R$ 325 milhões em 2013. A empresa ainda tem receitas com venda de farinhas instantâneas e alimentos processados para refeitórios industriais.

Desafio

Agora, quase 20 anos depois de inventar a barrinha de cereal, a companhia se prepara para ampliar mais uma vez o seu mercado. A Nutrimental está se estruturando para disputar o mercado de biscoitos, granolas, cereais matinais com gigantes como Nestlé e Pepsico e tem a ambição de ganhar o consumidor sem gastar dinheiro com publicidade.

"Queremos capturar o valor da marca Nutry nas categorias em que ela pode ter competitividade. A Nutry pode vestir diversos produtos no segmento de snacks saudáveis", disse o presidente da empresa, João Guilherme Brenner, que comanda o negócio desde 2001, quando os atuais donos da Nutrimental se afastaram do dia a dia da companhia e passaram a acompanhar a empresa a partir do conselho de administração.

Desde então, Loures tem se dedicado a brigar pelos pleitos empresariais no âmbito político. Foi presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) por oito anos, até 2011. Seu filho, o inventor da barrinha de cereal, também deixou a empresa para seguir carreira política. Rodrigo Santos da Rocha Loures foi deputado federal entre 2006 e 2010 e assumiu o cargo de chefe de gabinete do vice-presidente da República, Michel Temer, no atual mandato. Disputou neste ano o cargo de deputado federal no Paraná pelo PMDB, mas não se elegeu.

Estratégia

Para competir com as grandes, a estratégia da Nutrimental é concentrar seus recursos em investimentos na qualidade e inovação do produto, disse o presidente da empresa. Segundo Brenner, as margens apertadas não permitem que a companhia faça investimentos publicitários e o foco da comunicação com o consumidor é por meio do próprio produto. "É o produto que faz uma marca campeã de vendas."

O dono da Nutrimental reconhece que enfrenta uma acirrada concorrência com as multinacionais e que fica atrás na disponibilidade de recursos. Suas concorrentes no mercado de barrinhas - e demais produtos - têm faturamentos bilionários.

A Pepsico, por exemplo, faturou US$ 66 bilhões no mundo todo no ano passado e a Nestlé somou receita de 92,158 bilhões de francos suíços no período.

Por ter, ao mesmo tempo, limitação de recursos e uma marca líder no mercado em que atua, a Nutrimental é um alvo natural para aquisições. Loures diz que a empresa já foi procurada desde 2002 por concorrentes e investidores interessados em comprar o negócio.

"Não vendemos por dois motivos: a forma que eles encontraram de avaliar a empresa não nos interessou e não encontramos propostas que agreguem valor à empresa", diz Loures. "Só uma agenda de performance financeira não nos interessa." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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