Dois brasileiros recebem R$ 12 milhões para criar a maior IA para empresas — do mundo
Aporte da Canary quer fazer com que tecnologia de inteligência artificial para criação de conteúdos de empresas seja o principal software criado no Brasil
Repórter de Negócios
Publicado em 2 de abril de 2024 às 08h55.
Última atualização em 9 de abril de 2024 às 16h18.
Vamos supor que um relatório de 20 páginas sobre o código de ética de uma empresa precisa ser resumido num único slide para o processo de integração de um novo funcionário.
Até pouco tempo atrás, a missão iria requerer muita criatividade e uma boa sintaxe da parte de quem estivesse fazendo a apresentação. Nos últimos dois anos, com a intensificação de tecnologias como ChatGPT, porém, isso ficou mais fácil. Basta subir o documento numa plataforma de inteligência artificial e pedir para o robô resumi-lo para você.
Agora, uma empresa brasileira quer dar um passo além: quer se consolidar como a grande plataforma de inteligência artificial para os negócios criarem todos os conteúdos que precisarem.
A ambição é dos empreendedores paulistanos Pedro Salles e Eduardo Mitelman. Eles lançam, nesta terça-feira, a plataforma Inner AI. A inteligência artificial vai funcionar como um hub de criação de conteúdo para as empresas. Por ali, companhias poderão fazer reports, e-mails, comunicados e até vídeos com ajuda dos robôs.
Apesar do lançamento ser agora, a plataforma já está em funcionamento há alguns meses, testando com clientes como
- Claro
- Embraer
- Mercado Livre
- Bayer
Para a inauguração da plataforma e o desenvolvimento da tecnologia, a empresa usou parte de um aporte que acaba de anunciar de 12 milhões de reais. A rodada foi liderada pelo fundo brasileiro Canary com participação da LASP Capital, Play9, Alexia Ventures, Crivo Ventures, Newtopia VC.
“Além de desenvolver a tecnologia, o investimento permitirá expandir a infraestrutura tecnológica, garantindo uma experiência de usuário incomparável aos softwares tradicionais que existem no mercado hoje”, diz Pedro Salles, co-fundador e CEO da Inner AI. “Isso inclui investimentos em pesquisa e desenvolvimento para explorar novas tendências e avanços na área de IA, assim como a implementação de práticas de segurança robustas para proteger os dados dos clientes”.
Como a Inner AI nasceu
O paulistano Pedro Salles, hoje com 26 anos, tem duas paixões: audiovisual e tecnologia. Programador de software desde os 10 anos, ele foi para os Estados Unidos depois que terminou o Ensino Médio. O objetivo? Estudar mais sobre as duas coisas que amava, programação e cinema. No meio do caminho, encontrou outro assunto que se encantou, a inteligência artificial.
“Desde então, vim pensando em como juntar esses dois mundos”, diz Salles. “Eu percebi que como programador, minha produtividade dobrou usando ferramentas de inteligência artificial. Me sentia um super herói. No audiovisual, ainda não tinha ganho de eficiência. Comecei a pensar como fazer os criadores de conteúdo também se sentirem super heróis”.
Foi quando começou a desenvolver a tecnologia para os robôs da inteligência artificial ajudarem a produzir conteúdos.
De volta ao Brasil, encontrou Eduardo Mitelman. Formado em publicidade e propaganda, ele dividia o mesmo gosto de Pedro pelo cinema. Mitelman já empreendia, ensinando empresas a criarem cursos digitais. Passou a vender, também, para essas instituições de ensino a tecnologia que Pedro tinha desenvolvido.
Em janeiro do ano passado, se juntaram de vez e criaram o esboço da Inner AI. Alguns meses depois, conseguiram os clientes pilotos, como Embraer e Bayer. No final do ano, fizeram a captação de 12 milhões de reais que estão anunciando agora, e estão prontos para lançar, oficialmente, a plataforma ao mercado.
Como a Inner AI funciona
A nova plataforma funciona como um consolidador de várias tecnologias de inteligência artificial num único portal, focado especificamente na criação de conteúdos para empresas.
Por ali, os usuários podem transformar arquivos existentes em novos formatos de textos, imagens e vídeos. A plataforma é inteira otimizada para inteligência artificial, como a adição de vídeos, que são automaticamente legendados e dublados, e podem ser editados cortando a transcrição.
“Nossos clientes querem maneiras mais eficientes de criar material de treinamento para funcionários, criativos de marketing e realizar tarefas diárias com mais velocidade”, diz Mitelman.
Entre as funcionalidades da plataforma, estão:
- Templates de conteúdo
- Ferramentas para encurtar, aprimorar a legibilidade, melhorar a escrita e aplicar transformações personalizadas;
- Vídeo: geração de avatar, legendagem e dublagem, edição de vídeo baseada em texto;
- Imagens: geração de imagem sintética, melhoria de resolução, inpainting e substituição de fundo;
- Chat de IA
- Busca semântica em dados da empresa
Para faturar, a empresa cobrará uma mensalidade por usuário da empresa. Quanto mais usuário a empresa tiver cadastrado na plataforma, menor será o preço unitário.
Como a empresa quer se diferenciar de plataformas globais de inteligência artificial
A grande questão que fica é como a Inner AI conseguirá conquistar um mercado com grandes players globais que já realizam, de certa forma, o que a brasileira está se propondo a fazer.
Uma das apostas é na concentração de diversas funcionalidades separadas em um único hub.
“A empresa que nos contratar não vai ficar se preocupando em pagar várias ferramentas ou em qual estará na dianteira”, diz Salles. “No caso das bigtechs, sempre uma estará na frente. E traremos todos esses modelos num único espaço, sem risco de vazamento de dados”.
“Na inteligência artificial de hoje, é preciso fazer 10 testes até ter um bom resultado”, complementa Mitelman. “Nós já desenhamos vários templates, temos um ex-roteirista da Netflix conosco para pensar nisso, com o objetivo de trazer a versão final mais próxima. Isso é um diferencial nosso”.
O aporte de 12 milhões de reais, além de ter ajudado a empresa a ser lançada agora, também servirá para aquisição de clientes e desenvolvimento de tecnologias nos próximos meses. A ambição dos empreendedores é fazer com que a Inner AI, num médio prazo, seja o principal softwares SaaS do país, assim como o Spotify foi para a Suécia, por exemplo.
“Queremos ter uma tecnologia brasileira que o resto do mundo use”, diz Salles.
Esse foi o motivo pelo qual o fundo liderado pela Canary apostou na tecnologia também, mesmo antes dela ser oficialmente lançada.
“O investimento na Inner AI reflete nosso compromisso em fomentar uma plataforma global de SaaS vinda do Brasil”, diz Florian Hagenbuch, sócio da Canary e co-fundador da Loft. “Prevemos uma mudança de plataforma com empresas nativas em IA, e acreditamos que o time da Inner AI, sendo veloz e orientado ao produto, está bem posicionado para essa oportunidade”.