Negócios

Diversidade é necessária para sobrevivência, diz RH da Mastercard

"Precisamos encontrar pessoas com habilidades e experiências adequadas para nos ajudar a crescer em novos mercados", diz diretor global de recursos humanos

"Com pessoas diferentes, conseguimos entregar soluções mais criativas para os clientes", diz diretor de RH (./Thinkstock)

"Com pessoas diferentes, conseguimos entregar soluções mais criativas para os clientes", diz diretor de RH (./Thinkstock)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 14 de agosto de 2017 às 10h21.

Última atualização em 14 de agosto de 2017 às 12h07.

São Paulo - Tradicionalmente conhecida como uma empresa de cartões, a Mastercard quer ampliar sua área de atuação para continuar relevante. Ela está investindo em consultoria, uso de dados, inteligência artificial, entre outros.

No meio do processo de expansão, descobriu que também precisava aumentar a diversidade de seus funcionários. "Se você recrutar pessoas com a mesma história, das mesmas escolas, com a mesma aparência, você terá sempre as mesmas respostas", afirmou Michael Fraccaro, diretor global de recursos humanos a EXAME.com.

A companhia passou a se focar em outras regiões, além dos Estados Unidos e Europa, mudou seu processo seletivo e criou mecanismos para aumentar a diversidade entre os funcionários.

"Com pessoas diferentes, conseguimos entregar soluções mais criativas para os clientes. Podemos ser mais do que uma empresa de cartão de crédito", disse o diretor.

Confira a entrevista abaixo.

EXAME.com - Por que a diversidade é importante para a Mastercard?

Michael Fraccaro - Porque precisamos crescer e expandir nossos negócios. A Mastercard é uma empresa de tecnologia em pagamentos, mas historicamente é vista como uma empresa de cartão de crédito.

Se quisermos continuar crescendo no futuro, não podemos apenas nos concentrar nos nossos produtos principais e precisamos diversificar os produtos, pessoas e mercados.

Uma forma de fazer isso é ir para além dos Estados Unidos, e expandir mercados como o Brasil, América Latina, Oriente Médio e África. Além disso, não fazemos produtos apenas para bancos, mas também para comerciantes e governos.

Estamos aumentando nossa área de atuação e temos projetos em consultoria, serviços de informação, programas de fidelidade e recompensas, processamento de dados e segurança cibernética.

EXAME.com - O senhor é o responsável por integrar novas aquisições e novas joint ventures. Qual a relação dessa área com a diversidade?

Michael Fraccaro - Na área de recursos humanos, pensamos em como os recursos humanos ajudam a apoiar o futuro da empresa. Precisamos encontrar pessoas com habilidades e experiências adequadas para nos ajudar a crescer em novos mercados.

Tradicionalmente, recrutamos do que chamamos de fontes tradicionais, como bancos ou redes como Visa, American Express. Mas, como queremos atrair governos e comerciantes, sabemos que precisamos recrutar pessoas dessas origens. Podemos crescer organicamente ou podemos acelerar o processo e comprar negócios.

Recentemente, adquirimos a VocaLink, Nudata Security e Brighterion. Elas possuem experiência em segurança cibernética, artificial e biometria. Isso é algo que nós realmente acreditamos que é importante para a transformação digital que vamos trilhar. Essas empresas têm um conjunto de habilidades realmente especial que o resto da Mastercard não possui.

EXAME.com - Como integrar essas empresas na cultura da Mastercard sem fazer com que as pessoas passem a pensar do mesmo jeito ou agir da mesma maneira, sem perder o que as torna únicas?

Michael Fraccaro - Basicamente, olhamos para dois aspectos. De um lado, os produtos e plataformas e, do outro, os talentos e a cultura da empresa. Passamos um bom tempo fazendo o diagnóstico da empresa para ver o quão alinhada ela está da Mastercard.

Nós olhamos para quais os aspectos da cultura naquela empresa acreditamos serem tão únicos e especiais, que queremos proteger e preservar. A pior coisa que podemos fazer é pedir que eles adotem tudo o que o Mastercard tem.

Há, porém, outros aspectos que podemos mudar e acrescentar, como a globalização da companhia e planos de carreira mais amplos.

Para integrar a adquirida, uma das coisas que fazemos é um intercâmbio cultural entre as duas empresas. Levamos alguém da Mastercard e os colocamos na empresa adquirida e vice-versa.  Também alinhamos os processos de vendas. As equipes de vendas das diferentes empresas visitam clientes juntas.

EXAME.com - Quando o Mastercard diz diversidade, o que você quer dizer com isso? Diversidade de origem, gênero, LGBTQ, etnia?

Michael Fraccaro - Tradicionalmente, a maioria das empresas começa com a visão de como as pessoas se parecem, do ponto de vista exterior. Eles observam gênero, origem, etnia, coisas que são relativamente fáceis de definir.

O que fizemos nos últimos anos é realmente ampliar a definição de diversidade. Buscamos uma diversidade de mente, de pensamento e experiência. Olhamos para como as pessoas pensam, criam, e como interagem uns com os outros.

EXAME.com - Existe outra política para aumentar a diversidade na empresa, não apenas no processo de contratação?

Michael Fraccaro - Temos grupos que discutem ações voltadas a grupos específicos. Como jovens profissionais, liderança feminina, LGBT, veteranos militares, entre outros. Acabamos de estabelecer um grupo chamado de adaptabilidade, focado em pessoas com filhos portadores de alguma deficiência física ou mental.

EXAME.com – O senhor disse que a Mastercard está expandindo sua atuação geograficamente. Existe alguma região ou país mais abertos à diversidade? Há países onde isso é mais difícil do que outros?

Michael Fraccaro - Sim, existem países mais desafiadores do que outros. Por exemplo, há desafios culturais profundos em mercados como Índia ou partes do Oriente Médio e África. Funcionários são, na maioria, homens e o acesso educacional à população feminina é relativamente baixo.

Como empresa, não podemos impor nossas crenças e nossos valores para um país. Mas podemos dizer que representamos os interesses de todas as pessoas e não somos discriminatórios.

Globalmente, temos um programa chamado de Girls 4 Tech, Meninas pela Tecnologia. Nossos funcionários vão a escolas ou trazem jovens para trabalhar no Mastercard por um dia, para mostrar para as meninas que uma carreira em tecnologia é muito legal.

Também lançamos hackathons, onde convidamos as pessoas a entrar e passar horas criando ideias.

EXAME.com - Existem países ou setores onde não há necessidade de falar sobre diversidade, onde a força de trabalho já é diversa?

Michael Fraccaro - Eu diria que você precisa falar sobre isso em todos os países. Porque é algo que não necessariamente vem de forma natural. Continuamos a reforçar essas mensagens para nossa liderança.

EXAME.com – Mas é papel das empresas tornar a sociedade mais diversa, igualitária?

Michael Fraccaro - Sim, eu acho que está se tornando cada vez mais um papel das empresas. Acredito que ter esse propósito será um diferencial para os candidatos, que buscam empresas comprometidas com valores que eles consideram importantes.

Temos um programa de voluntariado, em que damos cinco dias de licença para os funcionários realizarem uma ação voluntária. Também temos um programa chamado Whole You, para ajudar o colaborador a avançar na carreira. E também oferecemos uma série de benefícios, como licença de paternidade, licença de maternidade e trabalho flexível.

O candidato, hoje, espera esse tipo de ação das companhias.

EXAME.com - Quando uma empresa se propõe a incluir pessoas de origens diferentes, se depara com pessoas que fogem do padrão. Em alguns casos, elas não frequentaram as melhores universidades ou não tiveram a chance de aprender uma segunda língua. Como você escolhe essas pessoas por suas mentes e não pelo seu currículo?

Michael Fraccaro - A experiência e carreira contam na hora de selecionar alguém e isso você pode descobrir facilmente pelo currículo.

Mas o currículo não lhe dirá nada sobre sua personalidade. Então na entrevista fazemos perguntas para ver o ajuste cultural daquela pessoa à cultura da Mastercard. Perguntamos para um aluno se eles tomaram parte em algum projeto da faculdade ou como eles lidam com trabalho em grupo quando um colega não faz sua parte, por exemplo. Perguntamos como eles solucionam problemas, porque queremos pessoas que nos ajudem a resolver nossos próprios problemas.

Isso vai além da formação em Harvard ou MIT ou qualquer universidade. Estamos realmente olhando para a pessoa.

EXAME.com - Como isso mudou o processo seletivo de vocês?

Michael Fraccaro - Precisamos transformar nossos processos continuamente. Porque os recrutadores vão chamar pessoas parecidas com eles e isso é um risco sério. Se você recrutar pessoas com a mesma história, das mesmas escolas, com a mesma aparência, você terá sempre as mesmas respostas.

Antes, quando íamos a feiras de emprego nas universidades, os estudantes não reconheciam a Mastercard, achavam que era uma empresa de cartão de crédito.

Criamos a campanha "what if". Queremos que nossos potenciais funcionários pensem sobre o que pode ser feito. E se toda a educação pudesse ser feita em um dispositivo digital? Ou se um sorriso pudesse pagar as compras? E se milhões tivessem acesso a uma conta bancária?

Buscamos pessoas que sonhem com o futuro de forma criativa.

EXAME.com - Qual é o valor da diversidade para a Mastercard?

Michael Fraccaro - Se você olhar para o desempenho do negócio da Mastercard, tanto em termos de receita líquida quanto em valor de mercado, você verá essas linhas subindo nos últimos cinco anos. Então a forma como pensamos sobre o nosso negócio e o nosso capital humano entrega resultados.

Com pessoas diferentes, conseguimos entregar soluções mais criativas para os clientes. Podemos ser mais do que uma empresa de cartão de crédito.

Acompanhe tudo sobre:Diversidadegestao-de-negociosMasterCardProcessos de seleçãoRecursos humanos (RH)

Mais de Negócios

Como a mulher mais rica do mundo gasta sua fortuna de R$ 522 bilhões

Ele saiu do zero, superou o burnout e hoje faz R$ 500 milhões com tecnologia

"Bar da boiadeira" faz investimento coletivo para abrir novas unidades e faturar R$ 90 milhões

Haier e Hisense lideram boom de exportações chinesas de eletrodomésticos em 2024