Luiz Ramalho, da Magie: “Neste primeiro momento, o serviço é apenas para convidados e alguns usuários selecionados" (Luiz Ramalho/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 23 de abril de 2024 às 08h00.
Última atualização em 23 de abril de 2024 às 15h57.
O carioca Luiz Ramalho tem um feito e tanto no seu currículo: com a galeria de arte em NFT que ajudou a criar, a Fingerprints, ele fez uma captação curiosa. Levantou em 2021 850 ETH -- que à época valia cerca de 4.295,43 dólares cada -- com ajuda de uma fotografia digital. Na ocasião, daria cerca de 3,6 milhões de dólares. Hoje em dia, é algo em torno de 2,5 milhões de dólares.
A imagem era um NFT do fotógrafo americano Justin Aversano e foi usada como uma das moedas de troca para captar dinheiro para uma iniciativa da Fingerprints. Além da fotografia, os investidores também receberam tokens.
Antes de empreender com blockchain e arte, Ramalho, formado em economia, trabalhou no mercado financeiro, principalmente em bancos de investimentos como Goldman Sachs e Blackstone. Saiu para cofundar uma gestora focada no universo cripto. Foi quando se aproximou da tecnologia e decidiu, em 2021, lançar a Fingerprint, a galeria tecnológica de artes.
Desde o final do ano passado, porém, Ramalho trabalha num novo negócio, que será lançado nesta terça-feira, 23, ao mercado. Ele vem desenvolvendo a Magie, uma instituição financeira digital -- sim, uma fintech --, mas sem aplicativo. Todas as transações acontecem num chat no WhatsApp.
A ideia de Ramalho foi criar um negócio simples e prático para ajudar, inicialmente, pessoas que precisam fazer muitos pagamentos ao longo do dia.
“Tem pessoas que precisam fazer cinco, seis, dez pagamentos por dia”, diz. “É algo muito trabalhoso entrar num aplicativo, copiar o código Pix de cada conta, ou o boleto, e pagar uma por uma. Simplificamos isso”.
Na prática, funciona assim: você começa a conversa com o chat da Magie no WhatsApp e cria uma conta. A partir disso, você consegue depositar nesta conta e fazer a gestão do dinheiro por ali -- como se fosse qualquer outro banco. Aí, na hora de pagar, basta escrever (ou encaminhar, ou mandar um áudio) as instruções, e o chat vai realizar a transação. Depois, quase que instantaneamente, você recebe, no WhatsApp mesmo, o comprovante do pagamento.
“O Brasil é um dos países mais avançados em tecnologias de pagamento, mais do que a própria Índia”, diz Ramalho. “Esse avanço também trouxe muita tecnologia e muita segurança. Agora queremos dar um novo passo colocando essas facilidades e seguranças no aplicativo mais usado pelos brasileiros”.
A startup foi desenvolvida com recursos captados com o fundo de venture capital Canary. Em fase piloto desde o início do ano, a startup já processou mais de 13 milhões de reais em transações.
“Neste primeiro momento, o serviço é apenas para convidados e alguns usuários selecionados da lista de espera, para que possamos entregar um serviço excepcional ", afirma o empresário.
Para que o banco entenda todas as mensagens enviadas pelo cliente, o chat da aplicação recebe tecnologia de inteligência artificial. Assim, por exemplo, é possível enviar uma foto com o código Pix escrito à mão, que a IA da Magie irá entender e processar o pagamento. Também pode enviar um áudio de alguém fazendo a cobrança, falando o valor a ser pago e para onde pagar, que o robô fará o resto do serviço.
“É como se os clientes estivessem falando com um amigo ou com seu gerente do banco”, diz Ramalho. “Com a evolução Open Finance, nossa expectativa é que possamos nos conectar a todos os bancos, expandindo as funcionalidades do serviço para outras atividades financeiras”.
Para a parte de segurança, um dos grandes desafios do setor, Ramalho conta que as próprias aplicações do WhatsApp, como reconhecimento facial, ajudarão nas transações.
Mesmo com lançamento ao mercado agora, a startup seguirá em fases de testes, enquanto estuda as melhores maneiras de ter retorno financeiro com a aplicação. No futuro, a ideia é faturar com outros serviços integrados, inclusive gestão de investimentos.
Um dos aplicativos mais populares do país, o WhatsApp está presente nos celulares de 92% dos brasileiros, segundo um levantamento do Datafolha. A Meta não divulga o total de usuários do WhatsApp no Brasil, mas fontes do mercado apontam o país como o segundo maior mercado em número de usuários, atrás da Índia.
Na estratégia de Ramalho, somam-se dois fatores extremamente populares no país, então. Além do WhatsApp, o Pix.
Os brasileiros realizaram em 2023 quase 42 bilhões de transações por Pix, o que representa um crescimento de 75%, em relação ao ano anterior. Os dados sobre meios de pagamento são da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), baseados em levantamentos divulgados pelo Banco Central.
Se considerado somente o número de transações do Pix, elas superaram todas as de cartões de crédito e débito, boleto, Transferência Eletrônica Disponível (TED), Documento de Crédito (DOC), cheques e TEC no Brasil, que, juntas, somaram quase 39,4 bilhões de operações.