Masayoshi Son: bilionário está por trás do SoftBank, fundo que possui participações tanto no Uber quanto na 99 (Koki Nagahama/Getty Images)
Mariana Desidério
Publicado em 17 de outubro de 2018 às 11h47.
Última atualização em 7 de junho de 2019 às 17h16.
São Paulo – A startup brasileira de entregas Loggi acaba de ganhar um sócio e tanto: a empresa recebeu um aporte de 100 milhões de dólares do Vision Fund, fundo de investimentos do grupo SoftBank, controlado pelo ousado bilionário japonês Masayoshi Son.
Com isso, a companhia brasileira entra para a lista de empresas investidas pelo fundo, que inclui gigantes da tecnologia como Alibaba, Uber e WeWork. O Vision Fund de Masayoshi tem quase 100 bilhões de dólares – 45 bilhões de dólares vêm do governo da Arábia Saudita, o restante tem origem no próprio Sofkbank, e em empresas como Apple, Oracle Qualcomm e Foxconn.
Masayoshi é conhecido por seus investimentos megalomaníacos. O fundo do investidor japonês tem 9,3 bilhões de dólares no aplicativo de transportes Uber e 4,4 bilhões de dólares na empresa de escritórios compartilhados WeWork. A participação na gigante do varejo chinesa Alibaba foi vendida por cerca de 8 bilhões de dólares.
O estilo agressivo de Masayoshi tem afetado o mercado de venture capital. As regras do jogo no Vale do Silício envolvem investimentos menores em startups iniciantes, seguidos de aportes maiores conforme a companhia se desenvolve. Mas o bilionário japonês faz justamente o contrário: além de aportar em pequenas, coloca dinheiro grande em companhias consolidadas. Isso impacta as avaliações de valor de mercado das empresas e tem gerado mudanças em fundos consolidados, como o Sequoia Capital, que está levantando 12 bilhões de dólares para continuar competitivo.
O estilo heterodoxo também gera dúvidas sobre os retornos sobre esses investimentos tão vultosos. Masayoshi se mostra pouco preocupado com isso: ele afirma que, desde o ano 2000, seus investimentos tiveram um retorno de 44% ao ano. Mas o bilionário de 61 anos já perdeu bastante dinheiro. O estouro da bolha da internet no ano 2000 levou o SoftBank a perder 93% de seu valor de mercado – conta-se que o bilionário japonês viu sua fortuna encolher 70 bilhões de dólares à época. Atualmente, ele é dono de uma montanha de dinheiro de 18 bilhões de dólares, de acordo com a Bloomberg.
Mais recentemente, a companhia de Masayoshi despencou 15% na bolsa de valores de Tokyo este mês, depois atingir um pico no dia 28 de setembro. O motivo é a origem de grande parte do dinheiro do Vision Fund: a Arábia Saudita. O país árabe enfrenta uma crise diplomática com Estados Unidos e Turquia após o desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi.
Khashoggi morava nos Estados Unidos e trabalhava para o jornal The Washington Post. Ele desapareceu depois de ir ao consulado saudita em solo turco para resolver pendências documentais no último dia 2 de outubro. Nunca mais foi visto. Há a expectativa de que a Arábia Saudita reconheça que Khashoggi tenha morrido durante interrogatório realizado no consulado. O caso pode afastar do Vision Fund investidores e empreendedores promissores, que não queiram associar sua imagem à do governo saudita.
A meta declarada de Masayoshi é ser a principal força de desenvolvimento de tecnologia e robótica do mundo. O bilionário japonês diz acreditar que os robôs vão mudar a força de trabalho inexoravelmente e que, num futuro próximo, as máquinas serão mais inteligentes que as pessoas (fenômeno chamado de singularidade). Com isso em vista, sua intenção é possuir participações em todas as empresas que possam sustentar as mudanças globais causadas pela inteligência artificial no mundo.
Além de investir, Masayoshi desenvolve seus próprios brinquedos. Em 2016, o SofkBank – grupo de telecomunicações e internet, com ramificações em comércio eletrônico, serviços de tecnologia, finanças e marketing – lançou o robô Pepper, um companheiro que usa a computação em nuvem e o reconhecimento de voz para aprender de tudo, inclusive a amar seus donos.
Sua predisposição ao risco distingue Masayoshi da classe empresarial japonesa, em sua grande maioria cautelosa. Ele nasceu na ilha de Kyushu, no sul do Japão. Vivia num barraco. Seu pai era um criador de porcos que produzia e vendia bebidas alcoólicas para complementar a renda. De etnia coreana, Masayoshi sofreu preconceito na escola e foi forçado a adotar o sobrenome japonês de Yasumoto.
Aos 16 anos, contra a vontade da mãe, foi para os Estados Unidos, estudar em São Francisco. Lá conseguiu pular três anos de preparação do ensino médio e passou nos testes de admissão para a universidade da Califórnia em Berkeley.
Em 1995, já antevendo o poder da internet, Masayoshi decidiu investir no Yahoo. Quando a companhia abriu o capital, em 1996, ele elevou sua participação na empresa para 37%, tornando-se seu maior investidor. Seu maior sucesso veio em 2000, quando ele investiu meros 20 milhões de dólares numa empresa de comércio eletrônico chinesa totalmente desconhecida, chamada Alibaba.
Agora, Masayoshi ensaia criar um segundo fundo, também no valor de 100 bilhões de dólares para continuar o plano de dominar o mundo da tecnologia do futuro. Sua meta é dar a oportunidade aos empreendedores de competir com “dinheiro ilimitado”. Sorte da Loggi e de outras brasileiras que podem entrar no radar do magnata.