Da academia para o Vale
Steve Lohr © 2016 New York Times News Service Durante oito anos, Peter Coles teve o emprego dos sonhos de qualquer economista na Harvard Business School. Sua pesquisa se concentrava na criação de mercados eficientes, uma área importante e crescente que influenciou a criação de leis do Tesouro americano, além de decisões sobre quem deve receber […]
Da Redação
Publicado em 8 de setembro de 2016 às 12h41.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h49.
Steve Lohr
© 2016 New York Times News Service
Durante oito anos, Peter Coles teve o emprego dos sonhos de qualquer economista na Harvard Business School. Sua pesquisa se concentrava na criação de mercados eficientes, uma área importante e crescente que influenciou a criação de leis do Tesouro americano, além de decisões sobre quem deve receber o transplante de órgãos. Ele chegou até mesmo a trabalhar com Alvin E. Roth, que recebeu o Nobel de Ciências Econômicas em 2012.
Mas prestígio não foi o bastante para segurar Coles em Harvard. Em 2013, ele se mudou para a região da Baía de San Francisco. Agora trabalha para o Airbnb, a empresa de aluguel de quartos, uma das muitas empresas de tecnologia que atrai economistas renomados com a promessa de grandes conjuntos de dados e salários vultosos.
O Vale do Silício está se voltando para a ciência em sua busca interminável por arrancar ainda mais dinheiro de velhos mercados e construir novos mercados no caminho. Por sua vez, os economistas afirmam que estão empolgados com a possibilidade de explorar o mundo digital em busca de novas respostas para antigos questionamentos econômicos a respeito de precificação, incentivos e comportamento. “É uma festa para os economistas”, afirmou Coles.
Naturalmente, o salário é muito melhor do que os encontrados na academia, onde os economistas geralmente recebem de 125.000 e 150.000 ao ano. Nas empresas de tecnologia, o salário de um economista com doutorado geralmente ultrapassa os 200.000 dólares ao ano, de acordo com as empresas. Com bônus e pagamentos em ações, a compensação pode facilmente duplicar em alguns anos. Os economistas sêniores que fazem a gestão das equipes ganham ainda mais.
As empresas têm contratado economistas há anos. Geralmente eles estudam tendências microeconômicas – assuntos como recessões e taxas cambiais – para ajudá-las a lidar com essas tendências.
Mas o que as gigantes de tecnologia estão fazendo diferente? Ao invés de pensar a respeito de tendências nacionais ou globais, elas se concentram em dados oriundos do comportamento do consumidor para ajudar na tomada de decisões inteligentes que fortaleçam o mercado virtual em áreas como marketing, cinema, música, viagem e hotelaria.
As empresas incluem gigantes como Amazon, Facebook, Google e Microsoft, além das que não param de crescer, como Airbnb e Uber, que esperam conseguir lucrar mais com o aumento na eficiência. Compreender como os mercados digitais funcionam é muito relevante neste momento, disse Hal Varian, economista-chefe do Google. Entretanto, afirmou: “Já achava isso fascinante há anos”.
Varian, de 69 anos, é o maior dos economistas do Vale do Silício. Conhecido professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Varian chegou ao Google em 2002, em meio período no início, mas logo aceitou ser funcionário. Ajudou a refinar o mercado de AdWords do Google, onde os anunciantes pagam para que seus anúncios sejam mostrados nas páginas de pesquisa, com base nas palavras utilizadas pela ferramenta de busca do Google.
Fora da caixa
A sacada do Google foi evitar dar o melhor lugar para quem pagasse mais. Varian trabalhou para desenvolver um modelo diferente para a colocação de anúncios, calculando a probabilidade de que o usuário clicasse em um anúncio e achasse o anúncio relevante. Esse foi um exemplo clássico de design de mercado inteligente.
Desde então, Varian e sua equipe aplicaram sua perspectiva econômica aos mercados de anúncios do Google à forma incomum como a empresa realizou um leilão no momento da oferta pública inicial de suas ações, além de estratégias de oferta para o espectro wireless, leilão e compra de patentes, e novos modelos de negócios, como carros automatizados.
Por hora, a Amazon parece ser a empresa que atrai economistas da forma mais agressiva. Eles têm até mesmo um site chamado Amazon Economists que pede o currículo de profissionais. Em um vídeo no site, Patrick Bajari, economista-chefe da empresa, afirma que a equipe ajudou a tomar decisões que tiveram “impactos multibilionários” para a empresa. Outro site de empregos na Amazon mostra a lista de vagas para economistas. No dia dois de setembro eram 34 vagas.
Ao ver esse mercado de trabalho emergente, a Associação Nacional de Economia Comercial dos EUA realizou sua primeira reunião de economistas de empresas de tecnologia em abril deste ano em San Francisco. A próxima está agendada para outubro no Vale do Silício.
A academia também está começando a notar a tendência – e a se adaptar a ela. “Tudo está acontecendo muito rápido. É difícil acompanhar”, afirmou Susan Athey, especialista em Economia da Tecnologia da Faculdade de Pós-Graduação em Negócios de Stanford e consultora da Microsoft.
Muitos estudantes de Economia também fazem cursos de Ciências da Computação e alguns saem formados em ambos. Mas um novo curso criado este ano em Yale, chamado “Projetando a Economia Digital”, visa unir economia e ciência da computação da mesma forma que os economistas digitais fazem nessas empresas. Quem ministra o curso é Glen Weyl, economista da Microsoft Research, e o curso vai contar com aulas de economistas de Amazon, Pandora e Uber.
O curso é o piloto de uma mudança curricular, além de um possível programa multidisciplinar focado em mercados digitais e sua criação. Dirk Bergemann, diretor do departamento de Economia de Yale, explicou que a economia geralmente se preocupa com eficiência, preços e incentivos, ao passo que a ciência da computação se concentra em algoritmos e complexidade.
“Nos mercados digitais, tentamos abordar os dois conjuntos de problemas”, afirmou.