Cena do filme "A Entrevista": Sony gastou cerca de US$ 80 milhões para fazer e promover o filme, cujo lançamento foi cancelado ontem (Divulgação/A Entrevista/Facebook)
Da Redação
Publicado em 18 de dezembro de 2014 às 18h15.
Los Angeles - A decisão da Sony Pictures de deixar Seth Rogen fazer uma comédia sobre um plano para assassinar um chefe de Estado poderá custar ao estúdio milhões de dólares depois de um ataque cibernético devastador vinculado à Coreia do Norte.
O estúdio Sony Corp. gastou cerca de US$ 80 milhões para fazer e promover o filme, cujo lançamento foi cancelado na quarta-feira depois que os hackers fizeram ameaças de violência, de acordo com Wade Holden, pesquisador da SNL Kagan. Além disso, é preciso somar a conta de reconstruir a rede informática da Sony.
“O custo que a Sony terá com novo software e hardware, mão-de-obra para arrumar a bagunça, investigação, produtividade perdida e dano à reputação, para citar alguns, é de pelo menos US$ 100 milhões e cresce a cada dia”, disse Hemanshu Nigam, que fundou a empresa de segurança virtual SSP Blue e já trabalhou com a Microsoft Corp. e a News Corp.
Os executivos da Sony Pictures tiveram divergências sobre a conveniência de realizar o filme “A entrevista”, uma comédia de Rogen sobre uma equipe de TV que tenta assassinar o líder norte-coreano Kim Jong-un, e acabaram resolvendo seguir adiante. O filme saiu pela culatra quando hackers roubaram documentos e ameaçaram funcionários e fãs da Sony. As redes de cinemas da América do Norte, preocupadas com a segurança, desistiram do filme.
A Sony cancelou o lançamento do filme, uma decisão sem precedentes que privará o estúdio de sua quota da venda de ingressos com um dos principais lançamentos da temporada de fim de ano. Planos para lançar o filme no futuro – para a TV paga, DVD e streaming – estão suspensos, disse o estúdio em um comunicado. Isso implica perda de receita no mercado local de entretenimento.
Ataque profundo
As pessoas que tomaram o controle dos computadores da Sony em novembro expuseram o endereço de rede de centenas de computadores e outros aparelhos. Elas encontraram históricos clínicos, e-mails, salários e números do seguro social de milhares de funcionários e lançaram filmes em sites de compartilhamento e arquivos.
A Macquarie Research disse neste mês que a Sony, com sede em Tóquio, pode ser obrigada a quitar 10 bilhões de ienes (US$ 82 milhões) em ativos cinematográficos depois que cinco filmes, como “Annie”, que será lançado nesta semana, e “Fury”, foram roubados e lançados pelos hackers.
Além disso, ex-funcionários abriram processos alegando que a unidade de entretenimento da Sony não fez o suficiente para proteger informações pessoais.
Papel de Hirai
O CEO da Sony Corp., Kazuo Hirai, questionou as cenas que mostravam a morte de Kim. Ele autorizou pessoalmente uma versão mais branda depois que os diretores Rogen e Evan Goldberg se opuseram à ideia de substituir Kim por um líder fictício.
Essas preocupações tinham fundamento. O regime norte-coreano criticou “A Entrevista” em junho e disse que iria “destruir impiedosamente” qualquer um associado ao filme.
Autoridades dos EUA concluíram que a Coreia do Norte está por trás do ataque virtual e pretende fazer uma declaração nesta semana, de acordo com uma fonte consultada sobre o inquérito do FBI. A Coreia do Norte negou o envolvimento.
“A Sony sofrerá uma perda substancial se o filme nunca chegar às salas de cinema e é possível que as lojas temam ataques caso o filme seja lançado em vídeo”, disse Holden, da SNL, por e-mail.
Danos à reputação
Os danos à reputação da Sony e às relações no setor são mais difíceis de avaliar. E-mails divulgados pelos hackers mostraram uma das presidentes da Sony Pictures, Amy Pascal, e o produtor Scott Rudin fazendo piadas às custas do presidente Barack Obama.
A capitulação da Sony e dos cinemas levanta novas dúvidas sobre a disposição de Hollywood para lidar com assuntos arriscados. Os estúdios cinematográficos modificaram filmes para aplacar os censores na China.
A decisão da Sony de se render e retirar o filme foi criticada por Frances Townsend, ex-assessora em segurança nacional e antiterrorismo do ex-presidente George W. Bush, e também pelo diretor Judd Apatow e pelo comediante Jimmy Kimmel.
“É um precedente horrível, na minha opinião”, disse Townsend em um fórum patrocinado pela Atlantic Live. “Não se trata de um caso isolado. Os estúdios vão enfrentar essa situação novamente”.