Negócios

iFood e Rappi: mais entregadores (e mais cobrança por apoio) na pandemia

iFood, Rappi e 99Food registraram aumento no número de entregadores cadastrados e percebem maior solidariedade dos consumidores

Entregadores: ontem, um grupo fechou um trecho da Avenida Paulista (SP) para reivindicar remuneração maior e mais transparência dos aplicativos (iFood/Divulgação)

Entregadores: ontem, um grupo fechou um trecho da Avenida Paulista (SP) para reivindicar remuneração maior e mais transparência dos aplicativos (iFood/Divulgação)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 18 de abril de 2020 às 15h21.

Última atualização em 20 de abril de 2020 às 16h02.

Mais entregadores, mais pedidos e mais gorjetas. Com as medidas de quarentena e isolamento social, além do crescimento acelerado do delivery, as empresas de entrega receberam milhares de novos motoristas em suas plataformas e observaram o aumento no pagamento de gorjetas - chegando a quase 50% dos pedidos em alguns casos.

A Rappi chegou a registrar pico de 300% de crescimento no número de pedidos de cadastros de entregadores no app e está recrutando entregadores parceiros. Triplicou o número de contratações de personal shoppers, os responsáveis por fazer a compra no supermercado para o cliente. Notou ainda aumento de entregadores que entregam de carro cadastrados na plataforma de entrega colombiana. 

A 99Food, novo serviço da empresa de transporte 99, criado em novembro, também viu aumento no número de entregadores cadastrados na plataforma. Atualmente, a 99Food está presente em Curitiba, no Paraná, e em Belo Horizonte e Divinópolis, em Minas Gerais. No último mês, registrou um aumento de 20% no número de pedidos pela plataforma.

No iFood, o número de entregadores passou de 147 mil para 170 mil de fevereiro para março. Outro dado relevante é o aumento de cadastros. Cerca de 175 mil pessoas fizeram um pedido para entrar na plataforma em março, ante 85 mil no mês anterior.

Além dos novos pedidos, a plataforma de entrega também viu milhares de entregadores retornando depois de alguns meses sem usar o serviço. Se em fevereiro 12 mil entregadores voltaram a acessar a plataforma depois de meses sem uso, em março esse número foi de 26 mil voltas.

A empresa diz que não tem dados exatos sobre o motivo no aumento de entregadores, e que março historicamente já é um mês mais agitado para a empresa em relação a fevereiro, que tem menos dias e o feriado do carnaval. Mesmo assim, Bruno Montejorge, diretor de comunicação do iFood, entende que a situação está muito conectada com o cenário de pandemia. "Muitos perderam a fonte principal de renda e se voltam aos aplicativos", afirma em entrevista à EXAME.

Para Montejorge, administrar o número de entregadores na plataforma é um desafio. "Temos uma responsabilidade de oferecer oportunidades para quem está buscando renda, mas não podemos colocar todo mundo na plataforma, porque teria diluição da renda para quem já está trabalhando", diz. "O desafio é manter o equilíbrio no sistema."

Gorjetas e remuneração

O iFood diz que percebeu um aumento na solidariedade dos consumidores em relação aos entregadores, com aumento no pagamento de gorjetas. A plataforma aumentou os valores das gorjetas, pagas integralmente aos entregadores de 1, 3 e 5 reais para 2, 5 e 10 reais. Dessa forma, foram 735 mil reais pagos em gorjetas para os entregadores em março. Um crescimento de 218%, comparado com fevereiro.

Durante a última quinzena de março, o entregador que mais recebeu gorjetas em todo o país é carioca, beneficiado pela funcionalidade do app 56 vezes em 15 dias, diz a empresa. 

De acordo com Montejorge, o tíquete médio também aumentou. Se antes as pessoas pediam refeições individuais para se alimentar durante o dia de trabalho, hoje fazem pedidos para toda a família. A plataforma também percebeu um incremento em certas categorias - o segmento de padarias, por exemplo, viu as vendas mais que dobrarem no mês. "É um hábito muito paulistano comer um pão na chapa na padaria antes do trabalho. Hoje, na loucura do home office e com crianças estudando de casa, pede pelo delivery", diz o diretor.

Para a Rappi, houve um aumento de 50% no percentual de pessoas dando gorjeta, principalmente aos finais de semana. Os valores, na média,cresceram 80% e mais pessoas estão dando acima de R$ 5. Em algumas semanas, o número de pedidos com gorjetas chegou a 50%. Além disso, em apenas 10 dias, mais de 2.400 pessoas doaram 8.000 “cestas básicas digitais”, uma arrecadação de mais de 400 mil reais na plataforma da Rappi. 

Segurança

No início de abril, o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo determinou que as plataformas de entrega Rappi e iFood deem assistência financeira aos entregadores afastados por causa da pandemia do coronavírus. O pagamento deverá ter por referência a média dos valores diários pagos nos 15 dias anteriores à decisão e deve ser de no mínimo um salário mínimo mensal, diz a decisão. 

O iFood afirma que, desde o início de março, já divulgou mais de 40 conteúdos informativos sobre os cuidados a serem tomados nas entregas, além de distribuir álcool em gel e outros equipamentos de segurança aos entregadores. A empresa criou dois fundos solidários de 1 milhão de reais cada, para apoiar entregadores em quarentena e para apoiar os parceiros que fazem parte de grupos de risco.

Para distribuir equipamentos de proteção individuais (EPIs), estacionou vans em diferentes pontos da cidade e faz chamadas para que os entregadores retirem os itens sem aglomeração. "O iFood paga por essa rota do entregador até a van", diz Montejorge.

Segundo a 99Food, além de oferecer seguro contra acidentes pessoais, os entregadores têm acesso a kits contendo máscaras da categoria N95/FFP2 e álcool em gel 70% para higienização de mãos, bolsas e guidão, diz a empresa. A DiDi Chuxing, dona da 99Food e da 99, criou um fundo de ajuda especial para motoristas e entregadores parceiros afetados pela covid-19, que chegará a 10 milhões de dólares para apoiar os mercados internacionais em que a empresa opera. 

A Rappi informa que comprou álcool gel e máscaras para entregadores parceiros e que reforçou medidas de segurança nas Dark Kitchens e com os entregadores que trabalham dentro dos supermercados parceiros.

Manifestação

Os entregadores de aplicativos contestam que venham recebendo mais dinheiro pelas corridas. Ontem, um grupo parou um trecho da Avenida Paulista, em São Paulo, para contestar pela queda do valor repassado.

"A paralisação é sobre as taxas, estão pagando muito pouco para a gente", reclama um entregador que não se identificou, em vídeo divulgado no Instagram do perfil napaulista. "É uma falta de comunicação com a gente, o pessoal bloqueia a gente do nada. Queremos transparência dos aplicativos", complementa outro entregador também não identificado.

Segundo relatos coletados no vídeo, as empresas estão pagando entre 6 e 7 reais para os entregadores percorrerem 15 quilômetros. "Ninguém deu nada para a gente, nem máscara nem álcool em gel", diz outro entregador.

Em nota, o iFood informa que tomou conhecimento da movimentação dos parceiros de entrega e reforça que entende a importância de manifestações e apoia totalmente a liberdade de expressão. Em relação a precificação aplicada, a empresa diz que não alterou os valores e leva em consideração uma série de fatores como, por exemplo, o tipo de rota percorrida. 

O iFood diz ainda que não faz sentido bloquear entregadores sem motivo. "Erros, se acontecem, devem ser sinalizados pelo entregador no canal (contato.entregador@ifood.com.br) onde analisamos os casos individualmente. Se for equivocado, reativamos a conta", acrescenta.

A empresa esclarece ainda que realiza a distribuição de álcool em gel sem gerar aglomeração desde dia 27 de março e a distribuição de máscaras começou ontem. O iFood reitera que mantém canais oficiais para quaisquer esclarecimentos, dúvidas e orientações, os quais podem ser utilizados pelos entregadores nestes e em quaisquer outros casos.

Da mesma forma, a Rappi reconhece o direito à livre manifestação pacífica e busca continuamente o diálogo com os entregadores parceiros de forma a melhorar a experiência oferecida a eles. A Rappi informa ainda que continua aplicando os mesmos critérios no valor do frete - que varia de acordo com o clima, dia da semana, horário, zona da entrega, distância percorrida e complexidade do pedido - e só bloqueia entregadores parceiros em caso de descumprimento dos Termos e Condições da plataforma.

Além disso, a empresa conta com um suporte em tempo real para os entregadores parceiros e reforçou o time de atendimento e revisou os fluxos diante do aumento expressivo de pedidos. "Compramos álcool gel e máscaras para entregadores parceiros, e estamos trabalhando para intensificar sua distribuição, assim como os orientando quanto aos procedimentos de uso", diz a empresa, em nota. 

Acompanhe tudo sobre:99taxisAlimentosiFoodRappi

Mais de Negócios

Ela gastou US$ 30 mil para abrir um negócio na sala de casa – agora ele rende US$ 9 milhões por ano

Ele só queria um salário básico para pagar o aluguel e sobreviver – hoje seu negócio vale US$ 2,7 bi

Banco Carrefour comemora 35 anos de inovação financeira no Brasil

Imposto a pagar? Campanha da Osesp mostra como usar o dinheiro para apoiar a cultura