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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h38.
A desvalorização de suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) - que já supera 50% desde sua oferta pública inicial, em outubro de 2004 - não é a única coisa que preocupa a Grendene neste ano. No campo operacional, a prioridade da companhia será reverter a queda das vendas sem comprometer a crescente margem de ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização).
Com uma capacidade instalada de 160 milhões de pares por ano, distribuída por cinco plantas industriais, a Grendene produziu e vendeu 130 milhões de pares. O volume representa uma queda de 10% sobre os 145 milhões do ano retrasado. A maior queda (12%) foi sentida no mercado interno, onde foram comercializados 103 milhões de pares. As exportações recuaram 4%.
A Grendene, bem como a indústria calçadista em geral, foi prejudicada pela desvalorização do dólar, que reduziu os ganhos com exportações e ainda alimentou a concorrência com produtos importados. A produção brasileira alcançou 725 milhões de pares no ano passado, contra 755 milhões em 2004. A importação praticamente dobrou de 9 para 17 milhões de pares no mesmo período. Já as exportações recuaram de 212 para 189 milhões.
O menor volume físico de vendas também repercutiu no faturamento da empresa. A receita bruta baixou 11%, para 1,353 bilhão de reais. As receitas com o mercado interno recuaram 9%, para 1,170 bilhão. Já as exportações recuaram bem mais - 22% - para 183 milhões de reais. "A queda das vendas é o que mais nos deixa desconfortáveis atualmente", afirma Marcus Peixoto, diretor financeiro e de Relações com Investidores da companhia.
Perspectivas
A reversão dessa queda, no entanto, não virá no primeiro semestre. As próprias projeções da Grendene apontam para uma retração de 6% na receita bruta em relação ao mesmo período do ano passado. Entre janeiro e junho, a companhia espera faturar 540 milhões de reais, contra 575 milhões em 2005. O Brasil deve contribuir com uma queda de 5%, para 460 milhões de reais, enquanto as exportações renderão 12% menos, ou 80 milhões de reais.
Mesmo esperando um desempenho operacional menor, a Grendene deseja fechar o semestre com lucro líquido 20% superior - ou 56 milhões de reais. A disparidade viria da contenção de custos e despesas e da racionalização da produção. Além disso, Peixoto afirma que a empresa estuda ocupar sua capacidade ociosa com produtos de maior valor agregado, que ampliariam as margens de lucro.
Uma alternativa descartada é a redução dos preços dos produtos, para concorrer com os similares importados. "Não vamos flexibilizar preços no curto prazo", afirma Peixoto, embora o executivo reconheça que a medida está em debate pela diretoria da empresa.
Em tese, o corte dos preços é viável devido à geração de caixa da companhia. Pelo segundo trimestre consecutivo, o ebitda da Grendene cresceu em relação ao mesmo período de 2004. No último trimestre de 2005, a margem de ebitda era de 33,3%, contra 28,4% no mesmo intervalo do ano retrasado.
A recuperação do caixa da companhia também lhe dá mais tranqüilidade para decidir a melhor estratégia de crescer, afirma Peixoto. Alguns analistas afirmam que a Grendene foi muito lenta para traçar uma estratégia capaz de conter a concorrência, voltar a crescer e recuperar o valor de suas ações. "Temos muito o que melhorar, mas não estamos correndo perigos imediatos", diz Peixoto. A companhia encerrou o ano com lucro líquido consolidado de 195 milhões de reais, 3% menor que o de 2004.