Conselheiro da Eletropaulo critica acordo com Eletrobras
A Eletrobras cobra da Eletropaulo na Justiça cerca de 2,7 bilhões de reais em uma dívida que teria origem em empréstimo feito pela estatal em 1986
Reuters
Publicado em 26 de dezembro de 2017 às 11h32.
São Paulo - Um acordo em negociação sobre uma dívida bilionária que a estatal Eletrobras cobra junto à elétrica Eletropaulo gerou protesto de um dos conselheiros independentes da empresa controlada pela norte-americana AES, segundo ata de reunião do colegiado da Eletropaulo divulgada nesta terça-feira pela empresa.
A Eletrobras cobra da Eletropaulo na Justiça cerca de 2,7 bilhões de reais em uma dívida que teria origem em empréstimo feito pela estatal à empresa em 1986. Em outubro, as companhias anunciaram um memorando para buscar um entendimento sobre o débito.
Mas na semana passada o conselheiro independente Marcelo Gasparino apresentou um voto em separado ao colegiado da Eletropaulo em que se colocou contra o modo como as negociações com a Eletrobras têm sido conduzidas.
Executivos da Eletropaulo sempre negaram a responsabilidade pela dívida com a Eletrobras e afirmaram entender que o pagamento caberia à Cteep, uma empresa nascida de uma cisão da Eletropaulo quando a elétrica ainda era estatal.
Com base nisso, Gasparino defendeu que mesmo com um acordo a Eletropaulo não deveria pagar mais que 1 bilhão para a Eletrobras e ainda deveria buscar o ressarcimento de no mínimo 1 bilhão junto à Cteep-- ele alegou que um entendimento que não siga esses termos pode não ser favorável à empresa.
"Este conselheiro não pode correr o risco de convalidar uma operação que não seja exclusivamente no melhor interesse da companhia.... não sendo uma operação 100 por cento "hediada" num parecer que garanta a probabilidade de cobrança do valor da Cteep, sou contra a evolução de qualquer tipo de negociação com a Eletrobras", disse Gasparino, em reunião em 19 de dezembro.
O conselheiro ainda insinuou que poderia haver interesse da AES em encerrar a discussão sobre a dívida como forma de acelerar uma venda da Eletropaulo pelo grupo norte-americano, há muito especulada no mercado.
"Já há forte especulação de que essa negociação viabilizaria a porta de saída do Grupo AES do capital da Eletropaulo", apontou Gasparino.
Ele disse ainda não concordar com uma redução no valor presente da dívida e queixou-se também de não ter sido disponibilizada minuta do acordo.
Procuradas, Eletropaulo e AES não comentaram de imediato. Eletrobras e Cteep não responderam imediatamente a pedidos de comentário.
Controle
O conselheiro Gasparino também fez críticas ao que considera ser um forte poder de controle da AES sobre a Eletropaulo mesmo após ela migrar para o Novo Mercado da bolsa paulista B3, o que em tese pulverizaria o controle da companhia.
"O grupo AES... continua exercendo o controle pleno da Eletropaulo após essa data por ter eleito 7 dos atuais 11 conselheiros, sendo que para as regras que criou para o novo estatuto social continuará detendo pelo menos 5 das 9 cadeiras", apontou.
Para Gasparino, a maioria da AES no colegiado "não está em linha com o discurso que se propala de uma 'corporation'", desde a migração da companhia para o Novo Mercado.
A Eletropaulo não comentou de imediato.