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Como um e-commerce gaúcho driblou a enchente, teve o maior mês de sua história e não para de crescer

Estratégia de A Rede foi ter um armazém de distribuição, mas não comprar o estoque das indústrias antes de vender para o cliente final

Romeu Donada e Luiz Carlos Porciuncula, sócios da Rede: barreiras nas estradas impediram a empresa de escoar mercadorias (Leandro Fonseca/Exame)
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 21 de agosto de 2024 às 08h02.

Última atualização em 22 de agosto de 2024 às 13h56.

O empreendedor Luiz Carlos Porciúncula, fundador da varejista digital A Rede, aproveitou o ambiente em que estava inserido para encontrar um nicho e empreender. Nascido na serra gaúcha, sempre esteve perto das dezenas da indústria da região. Por ali, setores como de malha, de móveis e, principalmente, o metal mecânico têm bases fortes.

Já inserido na era digital, Porciúncula criou em 2015 uma consultoria para ajudar as indústrias a venderem diretamente para o consumidor final por e-commerce.

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“Na época, o setor industrial começava a sinalizar que tinha interesse de pular o caminho entre vender para um revendedor, e ter sua própria loja digital”, diz.

Por cerca de dois anos, esse foi o negócio do empreendedor de Caxias do Sul. Mas, aos poucos, percebeu uma dificuldade do setor: operacionalizar a venda online dentro da indústria. “A indústria não costuma ter esse dinamismo em atuar no segmento online, muito menos de atuar com o consumidor final”.

Foi quando entrou na operação o sócio Romeu Donada, que também trabalhava com e-commerce e marketplace. O ano era 2017. Os dois juntos mudaram o modelo de negócio da empresa: agora, ela seria uma revendedora que iria centralizar mercadorias de indústrias da região e oferecer em vários marketplaces diferentes ao mesmo tempo. Nascia assim A Rede.

O pulo do gato aqui foram os custos com estoque: a Rede tem centros de distribuição, mas a mercadoria que está lá dentro segue sendo da indústria até que seja vendida. É como se cada indústria tivesse um “mini” centro de distribuição dentro da Rede, à disposição da varejista para que ela comercialize em e-commerce.

Sem os custos de estoque, mas com agilidade de ter a mercadoria à disposição, a Rede escalou rapidamente. Nos últimos dois anos, inclusive, entrou no Negócios em Expansão , ranking da EXAME e do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) que atesta o crescimento de pequenos e médios negócios.

“E se tivesse o ranking em 2017, quando mudamos o negócio, certamente estaríamos liderando, porque foi um crescimento fora da curva”, diz Porciúncula.

No último ano, a empresa faturou 58,6 milhões de reais, um crescimento de 48,5% em relação a 2022. Com esse número, garantiu a 35ª posição na categoria de 30 a 150 milhões de reais no anuário.

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Como funciona a Rede Marketplace hoje

O nome da empresa meio que entrega como ela funciona hoje em dia: um varejo que é, ao mesmo tempo, uma rede de marketplaces.

Isso porque o produto que é comercializado pela Rede não vai parar num e-commerce próprio, mas sim, em vários grandes marketplaces ao mesmo tempo.

O produto é comercializado ao mesmo tempo em lojas como Mercado Livre, Amazon, Shopee, Magazine Luiza e Casas Bahia. Quando é vendido, o sistema atualiza automaticamente o estoque em todas essas lojas. Quando o preço é alterado, também.

Todo produto que é vendido já está no armazém da Rede, mesmo que a empresa ainda não tenha comprado o estoque da indústria. A compra só acontece quando o cliente final adquire o item, num modelo que até então só existia para grandes varejistas.

Há também semelhanças com o "drop ship", quando o produto sai diretamente da indústria para a casa do consumidor final. Mas Luiz garante que há diferenças:

“No modelo de envio direto, acabam usando o estoque dentro da fábrica, e perdem o dinamismo e a organização. A indústria tem milhares de envios para fazer, e um deles é para o cliente final”, diz. “Já no nosso modelo, o estoque está do nosso lado, assim que compra, conseguimos mandar muito rapidamente. Ganha agilidade”.

Apesar de um modelo diferente, a receita da empresa vem da mesma forma que faturam todos os varejos: cobrando uma margem do produto que está à venda. Por isso, há desafios inerentes ao setor, como gestão tributária e operação eficiente.

“Nós nos beneficiamos do fato de termos 50 pessoas na empresa ao total, dividida em setores como comercial, financeiro, compras e tecnologia, e conseguimos escalar sem crescer tanto a quantidade de pessoas. Isso nos dá mais eficiência”, diz. “Somos praticamente uma startup do varejo”.

Outro benefício é já ter o conhecimento para saber como fazer os produtos se destacarem no meio de um oceano de itens nos marketplaces do Brasil. A estratégia passa por preço, prazo de entrega e avaliação dos produtos.

Pela frente, crescimento no radar. Quando a EXAME visitou a operação da empresa no início de julho, viu o início da construção de um novo armazém para estocar mais mercadorias. Além disso, assim como faz com as indústrias, a Rede começará agora a cuidar da parte de e-commerce de varejistas tradicionais, que ainda não conseguiram ter um braço forte no digital.

Como atravessaram a enchente

A empresa ainda trabalhava com uma projeção de crescimento de 50% neste ano, quando as chuvas atingiram o Rio Grande do Sul, fechando estradas e alagando cidades inteiras.

Com uma operação que depende das rodovias para escoar mercadoria, a Rede foi diretamente atingida pela tragédia climática do Estado.

“A operação ficou sem funcionar por 20 dias. Se não fosse a unidade no Espírito Santo, teríamos ficado parados um mês”, diz Porciúncula.

Para complicar ainda mais, os marketplaces suspenderam vendas de produtos gaúchos durante o pior momento da enchente, já que não tinha previsão de quando as lojas conseguiriam enviar seus produtos.

“Mas nosso negócio estava tão azeitado que, bastou as estradas serem limpas e os marketplaces voltarem a vender produtos gaúchos, que em junho tivemos o melhor mês de vendas da história”.

Agora, as coisas já estão mais normalizadas, os pedidos estão cheios e os produtos, sendo escoados. Pelo jeito, a Rede estará novamente no ranking no ano que vem.

Veja como foi o Negócios em Expansão 2024

O que é o ranking EXAME Negócios em Expansão

O ranking EXAME Negócios em Expansão é uma iniciativa da EXAME e do BTG Pactual. O objetivo é encontrar as empresas emergentes brasileiras com as maiores taxas de crescimento de receita operacional líquida ao longo de 12 meses. Em 2024, a pesquisa avaliou as empresas brasileiras que mais conseguiram expandir receitas ao longo de 2023.

A análise considerou os negócios com faturamento anual entre R$ 2 milhões e R$ 600 milhões. Após uma análise detalhada das demonstrações contábeis das empresas inscritas, a edição de 2024 do ranking foi lançada no dia 24 de julho.

São 371 empresas de 23 estados brasileiros que criam produtos e soluções inovadoras, conquistam mercados e empregam milhares de brasileiros. Conheça o hub do projeto, com os resultados completos do ranking e, também, a cobertura total do evento de lançamento da edição 2024.

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