Principais destinos: sudeste asiático está na mira das principais empresas brasileiras (CourtneyK/Getty Images)
Desde a última década, buscar novos mercados deixou de ser apenas uma opção para se tornar um dos pilares de empresas que anualmente apresentam resultados sustentáveis, com crescimento até mesmo em períodos de recessão econômica. Com cadeias cada vez mais integradas, as companhias que não procuram expandir os negócios para outros países perdem não apenas competitividade, mas a oportunidade de alcançar novos consumidores.
“Internacionalizar é uma estratégia poderosa, pois aumenta a participação da companhia no mercado externo, melhorando sua exposição”, diz Lyana Bittencourt, diretora executiva do Grupo Bittencourt, especializado em expansão empresarial.
Diversificação de mercado, ganho de produtividade e redução de carga tributária são alguns dos motivos que justificam uma atuação global. É o que mostra uma pesquisa anual feita pela Fundação Dom Cabral. A última edição, publicada em 2016, analisou o desempenho de 64 companhias de diversos portes ao longo do ano de 2015. Delas, 50 são multinacionais e 14 têm franquias em outros países.
Segundo o levantamento, o índice médio de internacionalização das empresas cresceu de 21,8% para 26,1%, um aumento de quase 20%. No total, 78% das companhias que participaram da análise ampliaram sua presença internacional, e 28,1% entraram em 29 novos países.
Entre os principais destinos para as empresas brasileiras está o sudeste asiático. Dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês) mostram que Singapura atrai companhias em busca de novos mercados. Só em 2015, o país recebeu 65 bilhões de dólares de Investimento Estrangeiro Direto (IED), sendo a quinta economia no mundo mais atrativa para se fazer negócios.
Diversos motivos explicam o aumento do interesse na região asiática e em Singapura. O potencial mercado consumidor e internacional – já que a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) tem uma população de mais de 622 milhões de habitantes e um PIB combinado de 2,4 trilhões de dólares – é um deles.
Só em Singapura, 29% da população é composta por estrangeiros. Além disso, o país é dono de um grande hub logístico e inovador. É o primeiro colocado no Global Innovation Index de 2015, ranking que mede a capacidade de inovação das principais economias do mundo, à frente de países como Estados Unidos e Suíça.
Já o aeroporto de Changi, por exemplo, movimenta cerca de 6 800 voos semanais para 330 cidades. Ele é um dos responsáveis por conectar o país a grandes mercados consumidores, com voos diretos. Para chegar até Jacarta, capital da Indonésia, o passageiro gasta apenas uma hora. O país também está a duas horas de Manila, capital das Filipinas, e a sete horas de Tóquio, no Japão, e de Xangai, na China.
Responsável por auxiliar e promover a presença de empresas brasileiras no mercado global, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) listou os principais motivos pelos quais as companhias devem ampliar a operação internacional.
Entre os impactos, a agência destaca o aumento no valor da marca pela presença global, maior capacidade de atendimento e reposta a clientes globais, proximidade com o consumidor final, aumento na economia de escala e menor risco por diversificar mercados. “Em momentos de crise econômica como a que o Brasil enfrentou, por exemplo, ter uma gama maior de mercado faz com que as empresas não percam rentabilidade”, diz Lyana.
Para entrar em outro mercado, a organização deve estar preparada e bem pautada, principalmente para conhecer o local onde vai operar, bem como sua cultura. Traçar um plano de internacionalização com uma consultoria ou entrar no país por meio de parceria com empresas locais são os dois caminhos mais indicados para quem deseja ampliar a presença no mercado externo. Esse processo eleva o nível técnico da empresa, que passa por uma reestruturação pontual. Além disso, aprimora a inovação dos produtos, que devem se adaptar ao novo consumidor.
Segundo a diretora executiva Lyana Bittencourt, a empresa que deseja tornar a marca mais forte no exterior deve estar preparada para realizar novos aportes, não apenas na fase inicial, mas ao longo de todo o processo de expansão. Isso porque o investimento é realizado desde o momento em que se contrata um parceiro para contribuir no processo de ampliação até na readequação de produtos ou da marca para atrair o novo consumidor.
Porém, ela garante: o retorno vale a pena. “Estudar o mercado local e entender a população é muito importante, e tudo isso requer investimento. Já vimos casos de empresas de fast-food que incorporaram ao seu cardápio produtos exclusivos para um determinado país, justamente para atrair a população local.”
Entre os principais desafios elencados pela ApexBrasill na hora de promover a internacionalização de uma empresa estão: adaptar a estrutura organizacional global, moldando a relação entre a matriz e a subsidiária e adaptando os níveis de autonomia de cada operação; garantir um modelo de gestão transparente a fim de assegurar um bom relacionamento com toda a cadeia global; e, por fim, estabelecer um modelo de gestão de recursos humanos internacional que esteja habilitado para trabalhar em fusos horários diferentes e incluir um quadro de funcionários bem diversificado.