Fila de espera: quem comprar um Porsche pode demorar até 12 meses para receber o veículo (Porsche/Divulgação)
Gabriel Aguiar
Publicado em 31 de agosto de 2021 às 15h05.
Os carros da Porsche podem custar mais de 1,5 milhão de reais. Mesmo assim, a empresa tem fila de espera de 12 meses e, até agosto, vendeu quase o acumulado de 2020 (que, por sua vez, havia superado 2019). Mas não é nada fora do normal para os alemães, que mantêm ritmo de crescimento em 15% desde que assumiram oficialmente a operação, em 2015. Até então, o fabricante tinha representação no país por meio de importadores – que continuam no negócio como concessionários.
“Nosso momento é extremamente positivo e não somente pelas boas vendas, mas pelo market share. Porque não adianta vender muito e ter participação de mercado que seja insignificante. No segmento premium [que inclui Audi, BMW e Mercedes-Benz], temos 8% de participação. Só que, quando tiramos os modelos que não disputam diretamente com a gente, chegamos a 21%. É um resultado sólido e que foi feito de maneira sustentável”, diz Ulisses Gonçalves, gerente regional de vendas.
“Desde então trouxemos todos os programas e ferramentas corporativas, temos crescimento ano após ano. Mas é muito interessante observar que mantivemos esse movimento mesmo durante a pandemia, o que é diferente do que muita gente poderia ter pensado lá atrás. Na verdade, cresceu a demanda por bens emocionais, só que mantemos o bom ritmo há cinco anos. É resultado de um trabalho estruturado de desenvolvimento. É uma escadinha que, em 2021, deverá superar 3.000 unidades”.
“Nosso processo de encomenda sempre foi diferente por conta do alto nível de personalização, que leva de quatro a seis meses entre pedido e entrega. Mas estamos no momento no qual a demanda cresceu e os prazos acabaram dilatados em todo o mundo. E não somente para as marcas de luxo. Todos os carros que vendemos têm espera porque falta estoque. Todos são configurados e demandam mais tempo para produção. O tamanho da fila é confidencial, mas, em média, a espera é de até um ano”.
“Não temos produtos em segmentos de maior volume e a entrega de conteúdo também é maior que em outras marcas premium. E, nas versões topo de linha, acabamos brigando com produtos de luxo [Ferrari, Lamborghini e McLaren, por exemplo]. Além disso, quando o veículo é ultrapersonalizado, perde menos valor de mercado e se posiciona de maneira diferente. Por fim, não temos políticas de desconto, frotas e vendas diretas. Nós cuidamos de oferta e demanda, porque o estoque força descontos”.
“Temos um plano de expansão e, neste ano, inauguramos no nordeste a 12ª concessionária da marca. E, a curto prazo, teremos duas concessionárias em regiões estratégicas, que funcionarão até dezembro do ano que vem. Além disso, fizemos investimento em eletrificação, porque queremos trazer mais modelos eletrificados [atualmente, são vendidos aqui Taycan e Taycan Cross Turismo], com instalação de rede de carregadores com empresas parceiras e plano de eletrificação para rodovias brasileiras”.
“Os seminovos fazem parte de qualquer marca como apoio à venda de carros novos, com trade in [troca de produto] na compra do 0 km. Na Porsche, essa frente de negócio demorou mais para se desenvolver, talvez pela baixa necessidade de troca, mas sempre fez parte do nosso business. O que acontece é que a gente passou a profissionalizar o mercado, que é uma fonte importante de receita para concessionários, permite aumentar o volume e também serve como porta de entrada para novos clientes”.
“Temos um programa de certificação que confere diferentes pontos do veículo. Afinal, quando se fala de esportivos, existe a preocupação com o uso [como disputas em pistas e desgaste do motor], acidentes e adulteração da quilometragem. Mais interessante é que o Porsche Approved dá um ano de garantia para modelos de até 15 anos ou 200 mil quilômetros, que nem sempre são atendidos por seguradoras. E não há custos: basta atender aos requisitos e ser oferecido pela rede, mesmo que consignado”.
“Não vejo mercado de seminovos como ameaça, mas sim como oportunidade. Claro que, quando existe um desbalanço pontual entre oferta e demanda, abre a possibilidade de especulação. Mas automóvel é um bem que, exceto no caso de colecionáveis ou edições especiais, sempre tende a desvalorizar. Então, o mercado deverá voltar à normalidade no médio prazo. Nossa estratégia é trazer cada vez mais serviços para dentro da rede e, por isso, lançamos recentemente até um serviço financeiro próprio”.