Como grandes empresas devem lidar com gestão de riscos
Dinamismo dos negócios e expectativa dos investidores pedem transparência; empresas devem calcular impacto nos negócios antes de agir
Thiago Araújo
Publicado em 3 de julho de 2017 às 17h40.
Última atualização em 6 de julho de 2017 às 11h39.
Como o cidadão deve se cuidar para prevenir acidentes, roubos e doenças, as empresas também devem tomar cuidados no dia a dia. Os riscos corporativos dependem do setor de atuação da companhia, mas, de modo geral, os mais temidos são os financeiros, os operacionais, os que oferecem danos à reputação, as mudanças tecnológicas e as demandas regulatórias que podem impactar nos negócios. Fazem parte das preocupações empresariais problemas trabalhistas, ambientais, tributários, fiscais e de segurança da informação.
A construção de uma política de gestão de risco eficaz é realizada com treinamento e desenvolvimento de cultura interna de atenção ao risco, que invariavelmente passa pelas etapas de mapeamento, classificação, priorização e definição das tomadas de decisão. Às vezes, é preciso mitigar ou transferir os riscos, mas, em outros casos, a solução é simplesmente abortar a operação ou até assumi-los e seguir em frente.
Um exemplo de como a gestão de risco tem entrado de forma cada vez mais intensa no cotidiano das organizações é a Instrução 552 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de 2014, cujo objetivo é melhorar a qualidade e a transparência das informações levadas ao mercado. A norma amplia o escopo da divulgação de informações, incluindo as práticas de gestão de riscos e as estruturas de controles internos.
De acordo com Fábio Lotti Oliva, professor de gestão de risco corporativo da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), há várias dimensões que precisam ser levadas em conta na hora de analisar os riscos. Objetivos, estratégia, conformidade e comunicação são algumas delas.
“As empresas devem ainda identificar os eventos naturais, políticos e econômicos e avaliar a probabilidade de impacto nos negócios para, só então, definir uma resposta para cada risco. O monitoramento, para mantê-lo sob gestão, também é fundamental”, explica Oliva, para quem o risco da imagem é atualmente o mais preocupante para as empresas.
Votorantim
O início do uso da gestão de risco como uma ferramenta para a tomada de decisão na Votorantim Papel e Celulose (VCP) aconteceu depois de um estudo realizado por uma consultoria externa ter identificado oportunidades de alavancar ganhos mediante a diminuição da variação do Ebitda. Desde o começo, a gestão de risco na empresa é guiada pela definição de que risco é todo evento que possa impactar o atingimento dos objetivos.
A área de Gestão de Ativos e Riscos reporta-se ao diretor de Finanças e Relações com Investidores e seu conceito fundador parte da ideia de que os gestores das áreas devem ser os donos dos modelos de gestão de riscos e precisam apoiar as demais áreas por meio de reuniões e apresentações sobre o assunto.
Petrobras
Já a Petrobras usa o mapa de riscos como um dos instrumentos para a aplicação da sua política de riscos. A construção do mapa é um processo estruturado de identificação, priorização (avaliação de magnitude, impacto e frequência da ocorrência) e detalhamento de ações de tratamento e resposta para os principais riscos das atividades realizadas pela empresa.
Como resultado final do trabalho, chega-se a um mapa que fornece elementos para o acompanhamento dos riscos de forma estruturada, sendo que os mais graves são acompanhados diretamente pela alta administração da empresa.
Equipes de diversos segmentos e atividades na Petrobras desenvolveram mapas para todas as 21 categorias de riscos da companhia, relacionando centenas de fatores e ações para sua mitigação, de forma a dar segurança ao cumprimento das metas estabelecidas em seus planos de negócios.
De acordo com a empresa, os riscos identificados e descritos na elaboração do mapa servem de insumo para a definição de iniciativas de monitoramento e controle que podem impactar significativamente o cumprimento de objetivos estratégicos, a segurança, a imagem e o valor econômico da companhia, aumentando a chance de ações preventivas para possíveis situações desfavoráveis ou para aproveitamento de oportunidades.
Na opinião do professor Fábio Oliva, o engajamento do time é, aliás, fator crucial para o sucesso da gestão do risco. “Envolver as pessoas em eventos que levem à reflexão é essencial para que elas se sintam responsáveis pelo assunto.”