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Como fica a Petrobras (e a gasolina) com a crise do petróleo?

Certeza, mesmo, é que a decisão da Arábia Saudita de medir forças com a Rússia no mercado global de petróleo vai trazer grandes consequências para o Brasil

Petrobras: dólar em alta pode não compensar queda do petróleo para a Petrobras (Germano Lüders/Exame)

Petrobras: dólar em alta pode não compensar queda do petróleo para a Petrobras (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2020 às 06h14.

Última atualização em 9 de março de 2020 às 17h59.

São Paulo — A perspectiva de desaceleração mundial por conta da epidemia de coronavírus (covid-19) já vinha castigando a petroleira Petrobras neste ano. Com uma queda de 24% na cotação internacional do petróleo, a estatal perdeu cerca de 80 bilhões de reais em valor de mercado na bolsa brasileira B3 em 2020 – até a sexta-feira.

A guerra de preços do combustível iniciada pela Arábia Saudita no final de semana deve impor uma nova depreciação à empresa mais importante do mercado brasileiro, que tem peso de 9,8% no índice acionário Ibovespa.

No início da manhã de hoje, o contrato futuro de petróleo tipo Brent, que serve de referência para os preços praticados pela Petrobras, recuava 19,9%, para 36 dólares o barril, na bolsa de Londres.

Com o dólar perto de 4,75 reais, essa cotação significa uma geração anual de caixa de cerca de 15,2 bilhões de dólares para a Petrobras, segundo cálculos do analista Thiago Duarte, do banco de investimentos BTG Pactual. Quando o petróleo estava um pouco acima de 60 dólares o barril, no final de janeiro, a geração de caixa estimada era de 35,3 bilhões de dólares.

Ou seja, em sete semanas, a perspectiva de geração de caixa anual da Petrobras caiu 20 bilhões de dólares. Como o preço de mercado da ação é calculado, pelos investidores, a partir das estimativas de ganhos futuros da companhia, a ação tende a continuar caindo conforme o petróleo recuar. A petroleira Saudi Aramco desabou 9% na bolsa saudita hoje, passando a valer menos que em sua abertura de capital, no ano passado.

A ação preferencial da Petrobras terminou o último pregão cotada a 24,10 reais. “Segundo nossa equipe de análise técnica, o papel tem pontos de resistência relevantes nos níveis de 20 reais e 17 reais. Ou seja, a queda pode ficar entre 12,4% e 25,5%”, André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, escreveu em relatório a clientes.

Os recibos de ações da Petrobras (em inglês, American Depositary Receipts, ou ADRs) recuavam 14,05% no pré-mercado de Nova York. A cota do fundo EWZ, que replica a carteira do Ibovespa, caía 9%, após as aspas do Perfeito.

Agora, os investidores aguardam as comunicações da administração da Petrobras sobre o repasse da redução do preço do petróleo à gasolina e ao óleo diesel. A fórmula de cálculo é secreta, então fica difícil para quem está fora da empresa estimar o tamanho do corte e a data.

Certeza, mesmo, é que a decisão da Arábia Saudita de medir forças com a Rússia no mercado global de petróleo vai trazer grandes consequências para o Brasil se durar muito. A Petrobras vai ter menos recursos para investir na exploração da camada pré-sal, o seu maior ativo.

Atualmente, o preço de custo da extração de petróleo pela estatal é de 16 dólares o barril. Futuros projetos podem custar entre 35 e 45 dólares o barril.

Além disso, se o preço da gasolina e do diesel for reduzido, o etanol é inviabilizado. Possíveis efeitos positivos seriam diminuir a inflação e colocar mais gás na atividade econômica brasileira. Mas existem tantas variáveis nessa equação que os especialistas em investimentos recomendam não mexer em aplicações financeiras no meio do tumulto. “Uma forte queda das ações da Petrobras hoje já está dada. Resta ver como essa crise se desenvolve nos próximos dias”, diz Pedro Galdi, analista-chefe da corretora Mirae.

Arábia Saudita versus Rússia

A decisão da Arábia Saudita de reduzir seus preços na produção de petróleo foi uma retaliação à Rússia, que não topou fazer cortes na produção junto à Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo (Opep) como resposta aos impactos do coronavírus na demanda por petróleo.

Com a epidemia na China, a demanda pela commodity caiu e os preços despencaram nas últimas semanas. A situação levou a Arábia Saudita, que lidera a Opep, a propor os cortes na produção. Como a Rússia "não se importava" os preços baixos causados pelo coronavírus, o país boicotou a proposta dos árabes.

Com a decisão de influenciar os preços de petróleo a caírem ainda mais — contrária aos seus objetivos iniciais de pressionar por um aumento do valor do barril — a Arábia Saudita se coloca como concorrente do petróleo russo.

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