São Paulo - Nos últimos anos, a prática de brainstorming adquiriu má reputação por diversos motivos. É ineficaz. É dominada por tagarelas. A maioria das pessoas pensa melhor sozinha.

Então, por que o brainstorming ainda é tão utilizado pelas empresas com o objetivo de gerar ideias?

A resposta tem mais a ver com os preconceitos e limitações inerentes que não percebemos no brainstorming do que com o que pode ser observado durante o processo.

"A maioria das pessoas participa de sessões de brainstorming onde se expõe apenas metade das ideias existentes no local", diz Loran Nordgren, professor associado de gestão e organizações na Kellogg School.

"Muitas vezes as melhores ideia não são expressas e, ainda assim, os participantes saem da sessão achando ter sido uma reunião produtiva".

Com isso em mente, Nordgren projetou recentemente o aplicativo móvel Candor, uma forma prática de gerar, captar, organizar e avaliar ideias que, ao mesmo tempo, ignora alguns dos principais obstáculos do brainstorming tradicional.

Com o Candor, as ideias são geradas antes da sessão e, em seguida, debatidas e avaliadas em grupo. Assim, aumenta o número e a diversidade das ideias levadas para discussão.

Esse processo muitas vezes parece ser contra intuitivo ou não natural para aquelas pessoas que cresceram com a prática de geração de ideias em grupo. No entanto, Nordgren tenta superar essa resistência, mostrando-lhes o quão eficaz o processo pode ser.

"O ideal é fazer com que as pessoas pensem antes de ver o que os outros pensaram; em seguida, terão a oportunidade de expor suas ideias", diz Nordgren.

"Após coletar todas as ideias, teremos realmente milhares de opções. É possível projetar todas as ideias no quadro por meio do site para ver o que todos fizeram. Tudo é visto simultaneamente. Esta é uma ferramenta que facilita uma prática de grande utilidade".
Soltando as amarras

Por que todas essas grandes ideias nunca saem do papel com sessões de brainstorming tradicionais? A resposta está na própria estrutura do brainstorming.

Como não queremos ser mal educados, cortar as pessoas que estão falando ou falar todos ao mesmo tempo ao apresentar e discutir ideias em voz alta, nós nos revezamos. "Isso cria uma série de problemas", diz Nordgren.

Dois grandes fatores atuam na constrição do fluxo de ideias neste cenário: a ancoragem e a pressão pela conformidade.

Com a ancoragem, uma pessoa do grupo apresenta uma ideia e as ideias subsequentes giram em torno da primeira. Isso reduz a diversidade do brainstorming e significa que as ideias apresentadas no início da conversa têm uma influência desproporcional sobre a discussão subsequente.

Portanto, nossa tendência em ir rumo a uma boa ideia pode apenas não incentivar ideias muito melhores e mais inovadoras.

A pressão pela conformidade se baseia em como prevemos que nossas ideias serão recebidas e quanta energia mental gastamos para pensar nessa receptividade. "Muito rapidamente, começamos a ter uma noção de quais ideias parecem ser adequadas ou não", diz Nordgren.

"Se a primeira pessoa diz: 'Vamos fazer um trabalho filantrópico' e minha ideia era 'vamos fazer uma festa', talvez eu não compartilhe minha ideia por pensar que a primeira ideia sugira que a minha não é apropriada".

Questões invisíveis

O pior de tudo é que nenhum desses fatores é facilmente perceptível na maioria das sessões de brainstorming.

O que as pessoas envolvidas consideram como uma sessão criativa—"Conseguimos criar novos estratégias de venda para o próximo trimestre!"—pode na verdade ser uma contusão da combinação de ideias que os demais desenvolvem.

E uma pressão subconsciente em se conformar com as ideias apresentadas, independente da falta de originalidade—"Calma aí, essas ideias não são iguais às do último trimestre?"

Ao permitir que os participantes separem a produção da avaliação, o Candor elimina a pressão da ancoragem e da conformidade por pressão.

Não há motivos para arrastar as ideias subsequentes para a órbita do que foi dito imediatamente antes, nem a timidez devido ao medo de se abrir a boca para falar a coisa errada.

A capacidade de poder ordenar as ideias captadas facilita a visualização das que estão se transformando em grupos, as que são as verdadeiras joias. Além disso, não há onde os praticantes de brainstorming se esconderem.

"Quando pessoas são colocadas em grupos, ocorre muita conversa inútil", diz Nordgren. "Mas, ao pedir para que elas realizem este exercício individualmente, o poder cerebral de cada pessoa é maximizado".

O importante é a funcionalidade

Convenientemente, somente uma inteligência coletiva poderia projetar um aplicativo que aproveite a inteligência coletiva.

Em resposta ao feedback recebido dos primeiros usuários, uma série de apresentações de vídeo foi acrescentada ao site da Candor.

Além disso, diversas características do aplicativo foram otimizadas em uma versão atualizada para dar aos usuários mais opções sobre quando e como compartilhar os brainstormings.

"Um grande avanço é a capacidade de participar ao vivo e compartilhar facilmente as informações agregadas com todo mundo, e não apenas com o criador da discussão", diz Nordgren.

Outros ajustes tornaram o aplicativo mais simples para usuários inexperientes. "Na versão 1.0, proporcionamos aos usuários a opção de selecionar a cor dos seus cartões de ideias", diz Nordgren.

"Esta foi uma espécie de decisão aleatória que um dos designers de aplicativos sugeriu para personalizar o aplicativo".

"Muitas pessoas – e isso é fácil de compreender - , acham que a escolha da cor comunica algo. Essa não era nossa intenção, mas os usuários inventaram teorias sobre o significado das cores", diz Nordgren.

"Ficou claro que cada elemento precisa ser articulado de forma muito clara a todos, pois quando uma ideia está em vias de ser gerada, tudo possui um conteúdo de avaliação".

Pode parecer impossível relatar as inúmeras formas de funcionamento de um aplicativo e seus elementos de design, mas o próprio Candor pode vir a ser a ferramenta mais eficaz para melhorar as futuras versões do próprio Candor.

O próprio nome do aplicativo foi o resultado de uma sessão de geração de ideias em grupo usando o aplicativo.

Texto publicado com a permissão da Northwestern University (em representação da Kellogg School of Management). Publicado primeiramente no Kellogg Insight.