Como a Hypermarcas pretende liderar o setor farmacêutico
Após a aquisição da Mantercorp, companhia continuará a investir no setor – e os genéricos são um dos principais alvos
Da Redação
Publicado em 21 de dezembro de 2010 às 09h22.
São Paulo - Depois de cerca de um ano de conversas, a venda por 2,5 bilhões de reais da Mantecorp tornou a Hypermarcas a maior empresa nacional de medicamentos. Entre as 11 aquisições da empresa no ano, essa foi a sexta do setor de fármacos. “Dentro dessa unidade de negócios, a Mantecorp era uma estratégia para alcançar nosso objetivo de ser a líder do setor no país”, disse a EXAME.com Claudio Bergamo, presidente da Hypermarcas.
Porém, a conquista da liderança ainda está longe da companhia. Na competição com multinacionais, a Hypermarcas fica com a vice-liderança no país. Para reforçar sua posição, a companhia adquiriu da farmacêutica francesa Sanofi-Medley as marcas de medicamentos Digedrat (tratamento cardíaco), Peridal (gastroenterologia) e Lopigrel (pediatria) por 84 milhões de reais, em novembro.
Tanto interesse da Hypermarcas pelo mercado de medicamentos -- que corresponde a 45% do faturamento total da empresa -- se dá pelo potencial do mercado brasileiro. A estimativa é que, nos próximos anos, o crescimento da indústria venha sobretudo dos países emergentes. Nações como Brasil, China e Índia terão crescimento anual entre 14% e 17% até 2014, contra uma taxa de 3% a 6% nos países desenvolvidos, que já tem um mercado consolidado. Cada um desses países movimentará uma receita de até 15 bilhões de dólares até 2013. Nesse cenário, o Brasil será o oitavo maior mercado farmacêutico do mundo, ultrapassando o Reino Unido, já em 2011.
De olho nos genéricos
“Agora está na hora de alinhar as operações, mas continuaremos de olho em novas oportunidades”, diz Bergamo. “O objetivo agora é ficar mais distante dos concorrentes.” Oportunidades não faltam e os genéricos continuarão como parte importante da estratégia da empresa. O Brasil conta com cerca de 90 laboratórios de genéricos, sendo a maioria de pequeno porte -- é claro, estão na mira da Hypermarcas.
Ingressar nessa indústria do zero não é fácil. É preciso cumprir uma série de exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como registro de produtos e testes. Todo o processo consome, pelo menos, quatro anos e alguns milhões de dólares. “A Anvisa nos impede de crescer mais rápido com seus demorados processos”, diz Bergamo. Segundo ele, a Hypermarcas terá cerca de 150 novos medicamentos registrados até junho de 2011 – 50 deles em genéricos.
Até 2012, 30 medicamentos perderão suas patentes no Brasil. Neste ano, por exemplo, venceu a patente do Viagra, para disfunção erétil. Em 2011, quem perde a patente é o Lipitor, que combate o colesterol. Ambos da americana Pfizer. Só no primeiro trimestre, foram comercializados 93,8 milhões de medicamentos genéricos no Brasil - um crescimento de 76% sobre o mesmo período do ano passado. E altas vendas são importantes para os laboratórios, já que por lei os genéricos são 35% mais baratos. Entre os dez produtos mais receitados no país, oito são genéricos.
Bergamo afirma que a Hypermarcas continuará com seus planos de investimento (o valor não é revelado) para a unidade fabril de Anápolis (GO). Segundo especialistas ouvidos por EXAME.com, a empresa teria de desembolsar, no mínimo, 110 milhões de reais para ter condições de brigar de igual para igual no setor farmacêutico – apenas uma nova fábrica de comprimidos exigiria um aporte de cerca de 50 milhões de reais. “A nossa proposta é ser um consolidador do setor, tanto em genéricos como em similares”, diz Bergamo.