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Com manifesto antirracista, Nubank quer desafiar status quo do mercado

Em entrevista à Exame, Cristina Junqueira admite que Nubank está longe do que considera ideal em termos de representatividade negra

Nubank: empresa divulgou manifesto antirracista (Nubank/Divulgação)

Nubank: empresa divulgou manifesto antirracista (Nubank/Divulgação)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 11 de junho de 2020 às 15h12.

Última atualização em 11 de junho de 2020 às 18h44.

Para Cristina Junqueira, cofundadora da fintech Nubank, a intenção da empresa no quesito diversidade sempre foi "desafiar o status quo e a inércia do sistema financeiro". Parece até óbvio imaginar os homens de camisa social azul, em sua maioria brancos, andando pela Avenida Faria Lima, polo do mercado na cidade de São Paulo. Mas não era o que o roxinho queria. "A gente queria pensar diferente, reinventar muitas coisas. Se tívessemos apenas pessoas com as mesmas opiniões e experiências, da mesma indústria, isso não seria possível", diz ela em entrevista à Exame.

Na semana passada, o Nubank publicou em suas redes sociais um manifesto antirracista, relembrando os assissanatos de George Floyd, homem negro morto pela polícia americana, João Pedro Mattos, adolescente de 14 anos que foi morto pela polícia dentro de sua casa, entre outras vítimas do racismo. Em um vídeo de quase 1 minuto e 30 segundos, os funcionários Nu-Blacks (como é chamado o grupo de negros da empresa), expressaram um pouco sobre o que precisa ser mudado --- de dentro para fora --- para que o racismo seja foco nas conversas. "Nós sentimos muito. Mas sabemos que sentir não é o bastante", escreveu a companhia em seu perfil no Instagram.

Apesar da atitude da empresa, Junqueira admite que estão longe do que consideram o número ideal em termos de representatividade negra. "Não temos uma estatística sobre diversidade racial aqui, mas sabemos que ela é muito menor do que deveria ser", afirma. "Racismo é um tema muito complexo e muitas vezes a gente se sente impotente nessa luta, porque é um negócio tão grande, tão sistêmico, que as empresas pensam que não vão resolver o problema sozinhas --- e é claro que não vão", continua. "Mas nós queremos ser protagonistas em relação ao papel que temos. Queremos ouvir o que a comunidade negra tem para dizer dentro de casa, a gente entende que nunca vai entender exatamente como essas pessoas vivem, e a dor delas, ou o que elas passam, mas a gente sabe que não pode se conformar com as questões estruturais e que a gente precisa contribuir para a solução", diz.

No vídeo, a empresa também faz um mea culpa por não ter tantos funcionários negros no quadro. "Ainda estamos aprendendo como executar isso de forma consistente", afirmaram no manifesto. "Acreditamos em um comprometimento real para mudar essa realidade. E esse é o nosso: escutar o que a comunidade negra tem a nos dizer, usar o nosso espaço para dar voz as suas palavras, e agir para fortalecê-la", finaliza a gravação.

Ampliar a participação dos negros no quadro de funcionários não é um fator benéfico somente à sociedade. Segundo a consultoria McKinsey, empresas com diversidade étnico-racial lucram até 36% mais do que as que não têm esse perfil. Para isso, é preciso envolver os funcionários por meio de indicações, eventos e comunicação.

O Nubank, para entender melhor como tratar assuntos como racismo, deu voz aos funcionários negros que trabalham na empresa. "Nosso representante do grupo de afinidade Nu-Blacks fez uma reunião para sabermos o que temos que fazer. Esse é só o começo da conversa, estamos abrindo o espaço para o diálogo e tomando ações necessárias para garantir que a gente tenha um espaço livre de preconceito, para que todo mundo que for negro no Nubank se sinta bem", afirma Junqueira. "A gente não abre mão da diversidade de jeito nenhum. A gente continua muito inconformado com essa situação. Chega. Não podemos mais ficar esperando as soluções acontecerem, a gente precisa ser parte da solução", pontua.

Em outras instituições financeiras, como é o caso do Santander, em 2019 foi iniciado um programa de mentoria para que pessoas negras pudessem chegar ao nível gerencial. Como aponta a segunda edição do Guia Exame de Diversidade, o banco percebeu a necessidade de aumentar o número de funcionários pretos e pardos. No ano passado, 2.300 foram contratados. Isso foi possível por meio de uma série de iniciativas, como apostar nos programas de entrada.

No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2019, os negros têm uma diferença salarial de 45% se comparados a profissionais brancos. O Instituto Locomotiva, neste ano, calculou que a diferença salarial é de 31% entre brancos e negros quando as duas raças têm ensino superior completo. Variação que acontece somente pela cor da pele das pessoas, de acordo com a pesquisa. Por aqui, 56% das pessoas se declaram como pretas ou pardas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até o ano passado, a taxa de desemprego era maior entre os negros --- com 14,9% deles fora do mercado de trabalho. A conta não fecha.

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