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Além de Ambev e JBS, caminhão elétrico da Volkswagen tem 58 interessados

Empresas se somam à Ambev, a primeira a fechar acordo para compra do modelo e-Delivery, que começa a ser vendido hoje

Modelo começa a ser vendido no Brasil a partir de hoje (Volkswagen/Divulgação)

Modelo começa a ser vendido no Brasil a partir de hoje (Volkswagen/Divulgação)

KS

Karina Souza

Publicado em 13 de julho de 2021 às 14h33.

Última atualização em 13 de julho de 2021 às 15h36.

Segundo uma tendência global por eletrificação de veículos e redução da pegada de carbono, a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) anunciou que fechou acordos com a Coca-Cola e a JBS para venda do novo modelo e-Delivery, 100% elétrico e desenvolvido no Brasil. As gigantes se somam à Ambev, que já confirmou a compra de cem unidades do veículo e assinou intenção de compra de outras 1.600. O e-Delivery é a principal aposta da companhia para 2021 e faz parte do investimento de R$ 2 bilhões no Brasil, anunciado no ano passado, e que deve ser aplicado de 2021 a 2025.

As “encomendas” mais recentes foram feitas em menor escala, se comparadas à Ambev. A Coca-Cola adquiriu 20 unidades do novo modelo e a JBS confirmou a compra de um caminhão de novo modelo.

Para esta última, o uso de veículos elétricos ou movidos a combustíveis de fontes renováveis faz parte do compromisso de ser Net Zero até 2040. "A Seara, por exemplo, já conta com veículos elétricos em operação no Brasil e pretende ter cada vez mais”, diz Wesley Batista Filho, CEO da JBS na América do Sul e da Seara, em nota.

Além das grandes empresas, a VWCO afirma que outras 58 empresas já estão interessadas em adquirir unidades do e-Delivery. Sem apontar nomes por questões contratuais, a empresa afirma que, entre elas, estão “uma grande produtora de ovos” e “grandes transportadoras”. Até o final do ano, a montadora vai produzir cerca de 400 unidades do e-Delivery em território nacional em Resende (RJ), mesmo local onde outros modelos são produzidos.

Ao todo, o investimento para o novo caminhão foi de R$ 150 milhões, dedicado tanto ao desenvolvimento do veículo quanto à adaptação da fábrica para produzi-lo. A diferença do e-Delivery em relação a outros modelos é a finalização numa parte da fábrica construída especificamente para os elétricos, chamada e-Shop, em que são inseridas as baterias usadas como combustível. O caminhão é fabricado em versões de 11 a 14 toneladas, sendo considerado um "peso pesado" versão elétrica.

“Estamos otimistas em relação às vendas nos próximos anos. Enfrentamos momentos de crise em 2016 e, recentemente, com a pandemia, mas já observamos uma recuperação importante. No primeiro semestre deste ano, crescemos 55% em relação ao ano passado em vendas”, afirma Roberto Cortes, presidente e CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus, à EXAME.

Não só a montadora obteve bons resultados de vendas. Segundo dados da Anfavea, entre janeiro e abril deste ano, foram licenciados 35.862 caminhões, alta de 48% em relação ao mesmo período de 2020 -- e de 19,5% em relação ao período de janeiro a abril de 2019. 

No caso da VWCO, o otimismo está relacionado principalmente às mudanças no consumo dos grandes centros urbanos -- com grande número de consumidores optando pelo delivery -- e, também, ao crescimento contínuo do agronegócio no Brasil. Fatores somados, é claro, à preocupação cada vez maior de empresas por sustentabilidade. 

Com um caminhão elétrico voltado principalmente para centros urbanos, a atenção a esses pontos faz todo o sentido. O e-Delivery deve atender, inicialmente, à demanda em locais com infraestrutura para carregadores elétricos, principalmente porque tem autonomia de 250 quilômetros. 

Para tornar isso possível, a Volkswagen contou com parceiros locais, como a WEG, para o desenvolvimento do motor, e a fabricante chinesa de baterias Contemporary Amperex Technology (CATL), que trabalha em parceria com a Moura. 

Caminhão elétrico x crise de energia no Brasil

Mesmo com o benefício da sustentabilidade, é impossível pensar em veículos movidos a energia elétrica num momento em que o país enfrenta uma enorme crise hídrica -- que já trouxe a conta de luz mais cara para todo o país. Para superar esse efeito, a VWCO investiu em um produto opcional que oferece instalação de captação de energia solar para alimentar os carregadores dos caminhões. 

Atualmente, a Ambev faz uso dessa torre para os caminhões que começaram a ser entregues, mas a montadora afirma que até mesmo quem trabalha de forma autônoma pode ter acesso a esse tipo de produto. 

“É tudo uma questão de viabilidade econômica e de avaliação de custo-benefício. De toda forma, todas as 150 concessionárias da Volkswagen Caminhões e Ônibus espalhadas pelo Brasil contarão com carregadores para o e-Delivery”, afirma Roberto.

Questionado sobre se a companhia avalia investir em outros biocombustíveis para caminhões ao longo dos próximos anos -- a fim de completar a oferta atual --, o executivo afirma que a empresa tem, no momento, seus esforços direcionados para os elétricos. Eventualmente, a montadora não descarta outras opções, mas o elétrico é prioridade por fatores como  disponibilidade, custo e produtividade. 

Na divisão de carros da Volkswagen, a marca anunciou a criação de um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, que deve estudar o uso de energia limpa de etanol e de outros biocombustíveis para motores híbridos.

Carregador do E-delivery: promessa de autonomia e fácil acesso (Volkswagen)

Concorrência e exportação

Fato é que outras montadoras também estão de olho nesses critérios e já começaram a se mexer para comercializar caminhões elétricos no Brasil. Além das Volkswagen, a FNM-Agrale e a chinesa Jac Motors vendem modelos no país. Em fevereiro, a montadora chinesa comunicou que seu modelo, de 7,5 toneladas, tem autonomia de até 250 quilômetros, caso o motorista não use o ar condicionado

Diante desse cenário, que deve se tornar mais acirrado nos próximos anos, Roberto não se preocupa. “Além da confiança que a marca Volkswagen traz, nos apoiamos na qualidade do caminhão desenvolvido. Começamos a pensar no e-Delivery em 2012 e, desde então, fazemos testes. Eventualmente, podemos ter importados competindo nesse mercado, principalmente chineses. Mas acreditamos que a rede de distribuição e o nosso serviço completo de pós-venda vão consolidar nossa presença no país”, diz Roberto.

Em relação à exportação, a companhia afirma que isso está nos planos para o futuro, mas que pretende fazer tudo de forma faseada, avaliando os resultados de venda e a possibilidade de produção fora do país antes de partir para esse passo. 

Fôlego de sobra

Para além dos caminhões, as tendências de futuro para a Volkswagen também representam o investimento no uso cada vez maior da plataforma de controle de frotas RIO e no desenvolvimento de veículos autônomos. Em 2018, a montadora havia também anunciado a colaboração com a Hino, da Toyota, para fabricar caminhões autônomos, reforçando o foco em longo prazo em outras tendências.

Nesta terça-feira, a Volkswagen (dessa vez em sua divisão de carros) anunciou também a chegada do carro elétrico E-Up! no Uruguai. De acordo com as informações divugladas pela empresa, o país foi escolhido por oferecer a melhor infraestrutura de e-mobilidade da região. Com sistema de propulsão 100% elétrico e zero emissão de gases poluentes, o modelo proporciona autonomia de aproximadamente 260 km. A bateria é capaz de ser recarregada em 60 minutos, quando plugada em um sistema de recarga rápida (40kW).

Dos carros aos caminhões, a Volkswagen mostra cada vez mais que a América Latina ocupa um papel central dentro da estratégia de tornar toda a empresa neutra em carbono até, no máximo, 2050. Apesar dos obstáculos iniciais a serem enfrentados -- especialmente o custo inicial dos veículos elétricos em relação aos tradicionais -- a montadora quer mostrar pioneirismo diante da tendência global.

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