Negócios

Claro cresceu 41% sob o comando de João Cox

Conhecido por sua personalidade forte, executivo comprou brigas com a matriz e dobrou a base de clientes

João Cox: sem comentários sobre os desafios que assumirá daqui para a frente (.)

João Cox: sem comentários sobre os desafios que assumirá daqui para a frente (.)

Tatiana Vaz

Tatiana Vaz

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

São Paulo - Personalidade forte é o traço mais citado por quem conhece João Cox, que está deixando a presidência da Claro em 30 de agosto. No mercado, comenta-se que o executivo é pouco maleável, mas sua disposição a comprar brigas também lhe rendeu bons resultados. Sob seu comando, as vendas da operadora cresceram 41%, para 7,946 bilhões de dólares, segundo a versão online de MELHORES E MAIORES de EXAME (veja outros dados da companhia).

Em agosto de 2006, quando assumiu as operações brasileiras da América Móvil, a empresa de telecomunicações do bilionário mexicano Carlos Slim, a Claro ocupava a 36ª posição no ranking das maiores companhias brasileiras. A expansão dos negócios a levou para a 25ª colocação no ano passado.

A geração de caixa, medida pelo ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação), mais do que dobrou no período, passando de 592,6 milhões para 1,398 bilhão de dólares.

Estilo próprio

Logo ao chegar, Cox trocou 12 dos 13 diretores da Claro. Para incentivar os executivos a bater as metas ambiciosas de crescimento, o novo presidente dobrou a parcela de renda variável nos ganhos da diretoria. A medida gerou grande resistência na matriz, e precisou ser muito negociada.

Firme, Cox declarou que, se a América Móvil realmente quisesse que a Claro alcançasse os resultados, teria que aceitar as mudanças.

Os resultados obtidos ajudaram o executivo a acalmar a cúpula da empresa. Quando assumiu a operadora, a Claro contava com 21,869 milhões de clientes. Em junho passado, o número estava em 46,901 milhões - o que lhe conferia 25,33% de participação de mercado e a segunda posição no setor.


Nova fase

Em uma empresa cuja direção é concentrada nas mãos dos homens de confiança de Slim, Cox era um dos poucos não mexicanos em um cargo de destaque. Mas o estilo de Slim prevaleceu na reestruturação que o bilionário vem promovendo em seus ativos de telecomunicações. As mudanças devem culminar na união, no Brasil, da Embratel com a Claro.

Para esta nova fase, o dono da América Móvil voltou a escolher um homem próximo - o mexicano Carlos Zenteno será o próximo presidente da Claro. Zenteno já comanda as operações da companhia na Argentina, Uruguai e Paraguai há seis anos e isso pesou na decisão da companhia, afirmam fontes que acompanham o setor. Além da experiência, o executivo estaria mais alinhado às estratégias de negócio traçadas por Slim.

"Slim preferiu ter alguém de sua plena confiança no cargo, e esse alguém não era o brasileiro", afirma Virgílio Freire, consultor de telecomunicações. Desde que a reestruturação foi anunciada, em maio, o mercado apostava que Cox perderia lugar no novo desenho, conforme antecipou o site EXAME (leia a reportagem).

"Projetos pessoais"

E é nesse ponto que os mesmos traços de personalidade que garantiram a Cox bons resultados à frente da Claro podem ter tido o efeito contrário – o de lhe estimular a sair. Nos bastidores, comenta-se que a intenção dos mexicanos era rebaixar Cox para um cargo com muito menos autonomia, já que as ordens estão vindo, em grande parte, de fora do país.

"Provavelmente, ele não aceitou se sujeitar a isso depois de anos de liderança e preferiu sair a ocupar um cargo mais diplomático que efetivo", diz Freire. O motivo é que, no desenho final, o mexicano José Formoso Martínez, atual presidente da Embratel, seria o mais cotado para comandar a grande tele que seria criada com a fusão com a Claro. E Cox teria de se submeter a ele.

No comunicado enviado à imprensa, Cox apenas agradece o tempo em que ficou na empresa e também à equipe pelos resultados atingidos. No entanto, não comenta os motivos da saída, nem que tipo de desafio assumirá daqui em diante. A América Móvil afirma que sua saída foi uma decisão pessoal, fruto da vontade de se dedicar a projetos pessoais.

Saída de Cox era esperada pelo mercado, leia mais.

Saiba o que Embratel e Claro ganhariam com a fusão das companhias.

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